Gabriela Wiener (Lima,1975) é uma jornalista, colunista e escritora peruana emigrada em Espanha.
Retrato huaco é o nome que se dá a peças de cerâmica que representam rostos indígenas e que, segundo se dizia, capturavam as suas almas.
Gabriela Wiener, mestiça, é tetraneta de Charles Wiener, explorador austríaco-francês que visitou o Peru no século 19 e de lá levou, para Paris, muitas peças de cerâmica e não só, abrindo um museu perto da Torre Eiffel.
Gabriela escreve este pequeno livro de autoficção arrojado, confessando-se adepta do poliamor, vivendo com um marido e uma namorada. Fala-nos do trisavô, colonialista, do pai, revolucionário e adúltero, da mãe e da amante do pai, bem como das suas próprias aventuras sexuais, fora do seu núcleo familiar.
É, por isso, um livro arrojado e estranho, difícil de catalogar.
Duas citações:
Página 45:
“Os meus avós paternos eram tão brancos, que eu não me sentia confortável com eles. Quando o meu avô branco morreu, a minha avó branca começou a tocar-nos um pouco mais e a peidar-se quando ia de uma divisão para a outra, saiu do armário como uma católica simpática e ensinou-me a tricotar. A minha avó chola balançava-me nas pernas e ensinava-me a rezar, enquanto falava com o meu pai como se estivesse a falar com o dono da fazenda, até que adoeceu e começou a mandar todos à merda.”
Página 110:
“Não queremos deixar de foder com brancos, o que queremos é começar a foder entre nós. Branqueámos o sexo, branqueámos o amor, racionalizámo-lo. O poliamor, por exemplo, é uma prática branca que não tem em conta como funciona a circulação do desejo e os seus limites para pessoas como nós, as feias do baile. Desconfiem dos olhos azuis e da lógica do progresso aplicada ao corpo! Deixámos de desejar e de amar corpos como os nossos, afastámo-nos das nossas próprias formas de vida amorosa e sexual, do que nos sai da cona”.
Está dito!