O Capuchinho Vermelho
- Não te esqueças de dar as flores à
avozinha - disse a mãe do Capuchinho Vermelho.
- Não esqueço, não, mamã - retorquiu
a menina, ao sair a porta.
- E tem cuidado com o Lobo Mau que anda sempre rondando
por aí, a querer comer toda a gente - insistiu a
mãe, carinhosa.
- Ora, mamã! Já li àcerca dele! - e
Capuchinho Vermelho, num saltitar alegre, enveredou pelo
atalho que atravessava a floresta e ia dar à casa
da avó. Com o cestinho de flores no braço.
- Ah, estas crianças! - suspirou a boa mãe,
fechando a porta.
Capuchinho Vermelho seguiu o seu caminho. Um malmequer aqui,
um rebenta-bois ali, um cardo acolá, lá ia
aumentando o bonito ramo de flores para a vovó.
Eis senão quando surge o Lobo Mau. Aliás,
já era de esperar.
- Onde vais, Capuchinho Vermelho? - perguntou, lambendo
o beiço e piscando o olho aos pequeninos leitores.
- Ora - retorquiu Capuchinho Vermelho, encostando-se a uma
árvore e acendendo um Gitanes que lhe oferecera o
Valdomiro da embaixada - Sabes muito bem onde vou. - Atirou
o fósforo à orelha do Lobo mau e continuou:
- Levar estas flores à avozinha, que tu queres comer
para depois me comeres a mim.
- Eu, comer-te? - o Lobo mau arregalou o olho, num espanto.
- Sim, por que não?
Capuchinho Vermelho meteu os cigarros no bolso do aventalinho
bordado, colocou o cestinho de flores no chão e fez
umas cócegas no pirilau do Lobo Mau. O Lobo Mau deu
três pulos, é óbvio. Capuchinho Vermelho
prosseguiu:
- Se bem que a avozinha esteja bastante seca, como sabes,
deve no entanto chegar para dois. Vem daí comigo.
O Lobo Mau foi logo, coitado.
À noite, na bonita casinha da avó, no outro
lado da floresta, o Lobo mau roía o último
fémur e a menina, enquanto punha um pouco mais de
banha na frigideira para fritar as iscas, explica ao bicho
voraz:
- Quanto a comeres-me, falamos disso mais logo.
E falaram.
Por isso, meus meninos, é que há agora por
aí muitos Capuchinhos Vermelhos com um grande rabo,
dentes afiados e, ainda por cima, a pedir boleias.
estória de Wilson Gasosa (Mário-henrique
Leiria) e ilustração de Carlos Barradas, publicados
em "O Coiso", nº 1, 7 de Março de
1975
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