Novembro
2003:
| O pénis de Carlos Cruz
| As máximas de Gabriel Alves
| Kennedy e Lincoln - coincidências
| Adeus, até ao meu regresso - os
nosssos homens no Iraque | Libertem
o Raleiras! | As tretas da Xis |
Casa Pia Study | Lenocínio
às claras | Nomes estranhos
| Arrogância patega | O
psiquiatra vegetariano | O bastonário
bombista | O presidente Vieira
| O regresso da varíola |
Dentes podres |
Sábado, 29
O pénis de Carlos Cruz
No âmbito do processo Casa Pia, Paulo Pedroso e Carlos
Cruz foram ao Instituo de Medicina Legal, a mando do Procurador
João Guerra, a fim de serem submetidos a um exame
pericial. Até aqui, tudo normal. Só que, à
porta do Instituto, antes e depois do exame a Carlos Cruz,
os jornalistas formavam um enxame e, impossibilitados de
falar com o arguido, atacaram o seu advogado, Ricardo Sá
Fernandes: como correu o exame, foi um exame íntimo,
como está o Carlos (assim, tal e qual, como está
o Carlos, enquanto o advogado ia sempre respondendo ao lado:
“o Sr. Carlos Cruz ect, etc...”). os repórteres
iam mudando o tom das perguntas, variando as palavras usadas
mas estava na cara que queriam dizer: “examinaram-lhe
o pénis?”
Segundo o DN de hoje “perícias a Carlos Cruz
demoraram 20 minutos”; já segundo o Público
“perícia a Carlos Cruz durou dez minutos”.
Reparem nas diferenças: segundo o DN, Carlos Cruz
foi sujeito a “perícias”, no plural,
enquanto segundo o Público a coisa foi singular:
“perícia”. O mesmo exame durou, para
o DN, o dobro do tempo que o Público noticia.
O cidadão comum fica confuso: o apresentador foi
mostrar a pilinha ao Instituto de Medicina Legal? E os investigadores
precisaram de 20 minutos (mesmo que tenham sido 10!) só
para lhe verem a coisa? Tanto tempo? Aquilo é olhar
e já está! A menos que... a menos que... e
um tipo pensa: se o exame foi mesmo íntimo, se se
destinava a confirmar ou infirmar os depoimentos das crianças
molestadas, será que os investigadores queriam ver
o pénis de Carlos Cruz em erecção?
Se assim foi – e dadas as circunstâncias –
10 minutos é pouco tempo (mesmo 20!). Duvido que
eu conseguisse pô-lo em pé com aqueles tipos
a observarem!
Este tipo de considerações podem parecer
exageradas para quem não viu o espectáculo
televisivo, o modo como os jornalistas quase atropelavam
o advogado, lhe enfiavam os microfones na cara, o incitavam
a responder.
Outra moda dos repórteres televisivos consiste em
fazer a pergunta: “como se sente?”. E perguntavam
ao advogado: “como se sentiu o Carlos?”.
Hoje mesmo, no telejornal da hora do almoço, uma
repórter muito contentinha e muito lorinha, estava
em casa da esposa de um dos soldados da GNR que está
no Iraque. Sentados num sofá, a esposa, o filho bebé,
a filha e mais uma série de pessoas, tudo muito satisfeito,
com o olhar rolando entre a câmara e o televisor,
onde se estavam a ver, já que se tratava de uma transmissão
em directo. E vai a loirinha e pergunta à miúda,
para aí de 7 anos: “como te sentiste quando
te foste despedir do pai ao aeroporto?” A miúda
não tinha sido devidamente treinada e não
foi capaz de responder: “senti um grande orgulho por
ver o meu pai partir para uma terra tão distante,
a fim de levar bem longe o nome de Portugal!” e disse
apenas “não sei...”
Assim vai a reportagem em Portugal...
As máximas
de Gabriel Alves
Gabriel Alves é o expoente máximo dos comentadores
de futebol. Isto é dos livros e não é
novidade nenhuma.
Gabriel Alves é o sucessor emérito do grande
Alves dos Santos, o inventor das mais célebres frases
do futebol, como: “recebe no peito e cola na relva”
ou “corre como se fosse um extremo”.
Gabriel Alves não merece as críticas que
lhe são feitas. Tinha que existir um Gabriel Alves
para animar as transmissões futebolísticas.
Sem ele, ver um jogo de futebol seria penoso.
Por isso, decidi coleccionar algumas das suas frases mais
dilectas. Aqui vão algumas, escutadas durante os
três últimos jogos que ele fez o favor de comentar:
* “o futebol europeu tem mais incisão”
* “Sokota tem mexido no último terço”
* “Quer uma quer outra formação não
tem sustentáculo”
* “A leitura foi boa, o desenho é que não;
não leu bem a posição do seu companheiro”
* “Roger está apagado, sem leitura, ele que
é um jogador com visão, que mete bem nos espaços”.
* “Lá estão os dois homens do Sporting
do miolo e sempre com dois turcos pela frente”
* “A equipa desenvolve jogadas ofensivas já
no último terço”
Em breve, mais máximas do grande Gabriel Alves...
Domingo, 23
Kennedy
e Lincoln - coincidências
Há 40 anos, assassinaram John F. Kennedy. Os jornais
assinalaram o facto, com extensos artigos. O DN transcreveu
uma série de coincidências entre Kennedy e
Abraham Lincoln que dão que pensar:
Lincoln foi eleito para o Congresso em 1846, Kennedy em
1946. Lincoln foi eleito presidente em 1860, Kennedy em
1960. Os nomes de ambos os presidentes têm sete letras.
Ambos foram baleados a uma sexta-feira. A secretária
de Lincoln chamava-se Kennedy, a de Kennedy chamava-se Lincoln.
Ambos os presidentes foram assassinados por sulistas. Ambos
os sucessores se chamavam Johnson. Andrew Johnson, que sucedeu
a Lincoln, nasceu em 1808; Lyndon Johnson, que sucedeu a
Kennedy, nasceu em 1908. John Wilkes Booth, que assassinou
Lincoln, nasceu em 1839; Lee Harvey Oswald, que terá
assassinado Kennedy, nasceu em 1939. Ambos os assassinos
eram conhecidos pelos seus três nomes e ambos os nomes
têm 15 letras. Booth saiu a correr de um teatro e
foi apanhado num depósito; Oswald saiu a correr de
um depósito e foi apanhado num teatro. Ambos foram
assassinados antes do julgamento. Ambos os presidentes,
uma semana antes de serem assassinados estavam em Monroe,
Maryland. Lincoln foi morto na sala Ford, do teatro Kennedy;
Kennedy foi morto num carro Ford, modelo Lincoln.
Esta espantosa série de coincidências estão
algures num site sobre Kennedy. Como diz o Pedro, não
devemos acreditar em tudo o que os sites publicam.
Mesmo assim...
Quarta, 19
Adeus,
até ao meu regresso – os nossos homens no Iraque
Temos 128 homens no Iraque! Quatro deles, são mulheres...
A histeria em redor do contingente da GNR em missão
no Iraque é indescritível. Todos os dias,
os não-sei-quantos jornalistas que lá estão,
enviam as mais hilariantes crónicas sobre os nossos
soldadinhos, como se o futuro da Humanidade deles dependesse.
Esta manhã, na TSF, o valente Raleiras –
o jornalista que foi sequestrado por um bando de assaltantes
da estrada – entrevistou dois gênêrrês:
o mais novo e o mais velho. À noite, na RTP, o enviado
especial dizia que “as saudades já apertam”;
e só passaram meia dúzia de dias!... Amanhã
teremos, certamente, entrevistas ao mais alto, ao mais baixo,
ao mais gordo, ao que tem o nome mais cómico, aos
casados, aos solteiros, e por ai fora – temas não
faltarão aos nossos repórteres!
E, caso estejam com falta de criatividade, aqui ficam
algumas sugestões: entrevistar as soldadas quando
estiverem menstruadas, já que será interessante
saber onde é que elas vão arranjar os pensos;
entrevistas sobre a alimentação, fazendo uma
espécie de culinária comparada; qualidade
do sono, será que os colchões são confortáveis,
usam despertador; e como estamos de sexo? Como resolvem
os nossos bravos soldados as suas urgências sexuais?
A masturbação é permitida?
Os temas possíveis não têm fim.
Mesmo que não aconteça nada de especial,
os próximos seis meses poderão ser preenchidos
com a uma série de informações idiotas
sobre a vida de 128 portugueses no Iraque, como se disso
dependesse o sucesso ou o fracasso da missão.
Sem o saberem – ou sabendo-o perfeitamente –
os nossos repórteres de guerra estão a fazer
a melhor propaganda possível à política
do Bush. Os telejornais quase que já tinham deixado
de falar no Iraque, as notícias das bombas e dos
helicópteros que vão caindo tinham passado
para as segundas partes dos telejornais, muito depois da
Casa Pia e dos tontos dos estudantes a fecharem a cadeado
as portas das faculdades, mas eis que os nossos soldadinhos
partem para o “teatro de operações”,
devidamente acompanhados por um grupo numeroso de jornalistas
e temos notícia de abertura, novamente.
Entretanto, o ministro da Defesa, Paulo Portas, apareceu
com aquela cara de mau – qual Fuhrer – a informar
que todos devemos lealdade para com os GNR, que eles estão
lá em representação de Portugal. Que
descaramento, ó Paulinho! Fizeste-me lembrar aquele
discurso salazarento do “quem não é
por nós, é contra nós”. É
pá, deves estar distraído: os soldados da
GNR são voluntários, a decisão de os
enviar para o Iraque foi tomada, isoladamente, pelo Governo,
sem o apoio de nenhum partido da Oposição,
o Iraque nunca foi colónia portuguesa... ó
Paulinho, a guerra do Iraque não é a guerra
do Ultramar!
Que Alá nos salve deste gajo!!!
Sábado, 15
Libertem
o Raleiras!
Finalmente, temos um jornalista sequestrado!
Esta semana partiu para o Iraque um contingente de 128
soldados da GNR. Os fiéis a Saddam tremeram! Vêm
aí os portugueses! Lembram-se das cruzadas? Fujam
que vêm aí os portugueses! Estes foram os gritos
que ecoaram por todo o Iraque. Depois de terem mandado pelos
ares americanos, ingleses e italianos, os iraquianos iam
ter pela frente os bravos soldados da GNR e a coisa complicava-se
para a resistência. É natural: uma coisa é
mandar carros armadilhados contra os edifícios da
Onu ou contra os quartéis ianquis – outra é
lutar contra um grupo de 128 gê-nê-rês,
nacionalmente desorganizados, sem falaram uma palavra de
árabe e sem terem a mínima noção
do que vão fazer. Um terrorista fica desorientado
e não sabe como há-de atacar!
Mas os iraquianos também têm os seus planos
B – e decidiram deixar passar os GNR e atacar os jornalistas.
À boa maneira portuguesa, os 128 GNR levaram, no
mesmo avião, 9 jornalistas. Já lá vai
o tempo em que a RTP, a ANI, a ANOP ou a Lusa (conforme
a época) enviava um jornalista que, depois, mandava
para cá todas as informações. Agora,
era preciso um jornalista de cada órgão de
informação – não fosse o enviado
da RTP, por exemplo, estivesse distraído, e deixasse
escapar o Saddam Hussein disfarçado de palhaço.
Vai daí, foram 2 tipos da RTP, 2 da SIC, um da TVI,
um do Público, outro da Rádio Renascença,
um da TSF e outro da RDP.
Foram todos no mesmo avião da Air Luxor (o mesmo
que nos levou na volta ao mundo, em Março) até
ao Kuwait. Aí chegados, os GNR disseram adeus e partiram
em direcção a Bassorá, no Iraque. Os
jornalistas ficaram por conta própria. Mas, como
bons portugueses, desenrascaram-se: alugaram três
jipes e partiram para o Iraque. Mas mal atravessaram a fronteira,
foram logo assaltados: dois dos jipes conseguiram fugir,
mas o terceiro foi atingido a tiro. Resultado: a jornalista
da SIC levou um tiro numa perna, foi operada numa base inglesa
e aguarda, agora, que alguém a vá lá
buscar; o jornalista da TSF, Carlos Raleiras foi raptado
e ainda ninguém sabe dele.
Ainda gostaria de perceber por que razão o Durão
Barroso decidiu envolver Portugal nesta coisa do Iraque,
ao ponto de se comprometer a enviar uma força de
128 soldados para policiar um país que nem governo
tem. Os americanos começaram aquilo, eles que terminem
– ajudá-los, porquê?!
E o amadorismo de tudo isto é assustador. No dia
da partida dos soldados, havia mais jornalistas no aeroporto
do que familiares dos soldados; parecia uma vernisage! Na
véspera, o quartel, em Nassyria, para onde os soldados
deveriam ter ido, tinha sido atacado à bomba; morreram
18 soldados italianos. Apesar disso, estava tudo muito confiante,
vai correr tudo bem, não vai haver problema, deus
está connosco e outras banalidades semelhantes.
Os soldados vão ficar por lá 6 meses e,
durante este tempo, bem pode Durão Barroso rezar
a todos os seus santinhos para que nenhum morra –
caso contrário, ficará para a história
como responsável pela morte de soldados portugueses
numa missão de legitimidade muito questionável
e, sejamos sinceros, completamente ridícula e absurda.
(O Raleiras foi libertado no sábado, dia 15
e os jornalistas portugueses conseguiram, depois disso,
protecção por parte das forças britânicas;
que bom!...)
As tretas da
XIS
A Xis é uma revista distribuída gratuitamente
com a edição de sábado do Público.
A directora é Laurinda Alves e o tom da revista é
muito homogéneo: medicinas alternativas, profissões
alternativas, vidas mais ou menos marginais, ciências
não reconhecidas, voluntariado, organizações
não governamentais, conselhos de beleza, de decoração
e de assuntos do coração. Uma treta!
Quase todas as semanas, há uma solução
milagrosa para um assunto delicado: dores no pescoço,
enxaqueca, deixar de fumar, impotência, insónia,
medo das alturas – tudo tem uma resposta fácil,
graças a um método qualquer da chamada medicina
alternativa ou paralela.
No número da semana passada, propunha-se a auriculoterapia
para deixar de fumar. Dava-se a morada de um Antismoking
Center, em Lisboa e dizia-se:
“patenteado e desenvolvido pelo médico
italiano Enzo Lamberto, o Electromeridian Kobra é
um aparelho electrónico de baixa frequência
nos pontos de elevada condutividade na orelha para atingir
os segmentos correspondentes no corpo. A dose correcta a
aplicar é cientificamente calculada a partir dos
dados do cliente e não causa nem dor nem efeitos
secundários. Esta micro-massagem dissolve a nicotina
e o alcatrão acumulados nos órgãos
e cria um efeito relaxante que compensa de maneira natural
os efeitos da desintoxicação”
Como é possível tanto disparate? Como é
que se calcula “cientificamente” a dose de um
impulso eléctrico de baixa frequência? Fizeram
estudos duplamente cegos? Quais são os pontos de
“elevada condutividade” da orelha? Como foram
determinados? Como se explica que as orelhas tenham pontos
que correspondam às várias partes do corpo?
E os sujeitos que não têm orelhas? Como é
que uma micro-massagem dissolve a “nicotina e o alcatrão
acumulados nos órgãos”? Será
que o tal impulso eléctrico faz com o alcatrão
se destaque das paredes dos alvéolos, da laringe,
do estômago, da bexiga? Quem controla a eficácia
e segurança de um aparelho chamado Kobra? A Food
and Drugs Administration – que veta qualquer medicamento
que não tenha desenvolvido todos os estudos possíveis
e imaginários – nem sabe o que isto é.
A Organização Mundial de Saúde, também
não.
E tudo isto é publicado sob uma aura de honestidade.
Não estamos a falar de conselhos para a saúde
publicados no jornal “O Crime”, nem na revista
“Maria” – estamos a falar de uma revista
distribuída por um jornal de referência, como
é o Público e para a qual escreve, por exemplo,
o prestigiado psiquiatra Daniel Sampaio.
É de ir às lágrimas...
Casa Pia Study
Esta semana não aconteceu nada de novo no caso Casa
Pia, a não ser o facto de O Correio da Manhã
ter publicado uma notícia que dizia que havia três
rapazinhos casapianos que diziam ter sido abusados pelo
Ferro Rodrigues. Tudo normal.
Então, os jornalistas de investigação
tinham que descobrir algo. E o Público saiu-se com
uma bem engraçada. A autora da investigação
devia andar pelo google, a pesquisar coisas sobre a Casa
Pia e eis que depara com o Casa Pia Study.
Resumindo: a Universidade de Washington queria fazer um
estudo sobre os eventuais efeitos secundários da
amálgama de mercúrio usada no tratamento das
cáries dentárias, vulgo chumbos dos dentes.
Precisava de uma amostra relativamente numerosa e estável
de crianças com dentes podres; oferecia tratamento
gratuito e recebia, em troca, vigilância dessas crianças,
durante 10 anos, para tentar detectar alguns efeitos secundários
da tal amálgama. A Universidade de Washington acabou
por contactar a Universidade de Lisboa e a Casa Pia foi
considerado o local ideal para arranjar essa tal amostra.
Assim, desde 1997, mais de 500 crianças da Casa Pia
têm os seus dentes podres arranjados à borla
e estão a ser observadas, a fim de serem detectados
efeitos secundários.
So what?
O Público – na actual voragem tablóide
de desencantar escândalos – fez manchete de
primeira página com esta descoberta aterradora! As
criancinhas da Casa Pia estavam a ser usadas como cobaias
num estudo científico norte-americano. Os yankies,
em vez de irem lixar as dentaduras dos rapazinhos de West
Point, vieram para Portugal, estragar a saúde dos
meninos da Dona Catalina, enchendo-lhes as boquinhas com
coisas minadas com mercúrio!
Que falta de sentido da realidade! Então a pílula
não foi testada nas mulheres da Índia e do
México antes da senhora jornalista poder tomá-la
em segurança? Em que mundo é que ela pensa
que vive? E não terá sido um bom negócio?
Era melhor que as criancinhas continuassem a sorrir para
os telejornais com os dentes todos podres? Não era
uma vergonha vê-las, nos tribunais, a deporem perante
os senhores juizes, exibindo os seus dentinhos podres, a
abanarem perigosamente em gengivas inflamadas? Há
algo de mais bonito do que o sorriso de uma criança
(desde que tenha os dentinhos arranjados)?...
A menos que a jornalista investigadora pense que a pedofilia
possa ser um dos efeitos secundários das amálgamas
de mercúrio usadas no tratamento da cárie
dentária...
Domingo, 9
Lenocínio
às claras
Segundo o Novo Larousse (ed. 1994), “lenocínio
é crime contra a liberdade sexual que consiste em
alguém, profissionalmente ou com intenção
lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício
por outra pessoa de prostituição ou a prática
de actos sexuais de relevo, explorando situações
de abandono ou de necessidade económica”.
Acho graça à expressão “actos
sexuais de relevo”; gostaria de saber quais são
eles... por exemplo, dar beijinhos na pilinha será
um acto sexual de relevo?...
A definição do Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua
Portuguesa (ed. 1981), dá uma definição
ligeiramente diferente: “crime contra os costumes,
caracterizado principalmente pela prestação
de assistência à libidinagem alheia, ou dela
tirar proveito, e cujas modalidades são: o proxenetismo,
o rufianismo e o tráfico de mulheres ou escravatura
branca.”
Esta definição também tem graça,
sobretudo quando estabelece modalidades para o lenocínio,
como se fosse o atletismo...
Mas, enfim, de um modo geral, podemos dizer que lenocínio
será o crime cometido por quem facilita a prática
da prostituição.
Nesse caso, o Diário de Notícias infringe
a lei diariamente.
Página 80 do DN de hoje: “09H00/24H00!!!
“Sofia” Portuguesa... 32... Mulher Deslumbrante...
Meiguinha... Loirinha... Olhinhos Castanhos... Atreve-te!...
Tel 963854265”.
E, logo a seguir: “Se conduzir não beba.
Se beber não conduza. Cumpra o código.”
E depois: “14/02H...Joana... Divorciada... Meiguinha...
Busto 44... Peludinha... “Ex-Benfica”. Privado...
Tel. 969368199”
Mas o que é isto? Lenocínio puro e duro.
E os exemplos são às dezenas: “DUAS...
bocas.. em simultâneo... oral delicioso... 9h/24h.
Tel. 967416075”
Não sei se duas bocas simultâneas, em oral
delicioso, serão um “acto sexual de relevo”,
mas pressinto que sim...
Outra curiosidade, todos os telemóveis de todos os
anúncios são da rede TMN. Apenas coincidência?...
Ora digam lá se o DN não está a fomentar,
favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa
de prostituição”?...
Nomes estranhos
Sei que isto é infantil, mas acho graça aos
nomes de personalidades internacionais que, em português,
têm um significado mais ou menos escatológico.
Já conhecíamos os dirigentes africanos Kagamé
e Foday.
Já tínhamos ouvido falar do político
iraquiano Pachachi.
Também já sabíamos que havia uma
tenista chamada Clijsters que, apesar da grafia e da pronúncia,
não se safa de se chamar, em português, “clisteres”.
Hoje, fiquei a conhecer o nome de uma escritora que se
debruça sobre o tema da pedofilia e quem tem o inconveniente
nome de Minette.
É preciso ter azar...
Arrogância
patega
O FC Porto nunca há-de ser um instituição
nacional, como o Benfica, o Sporting ou mesmo a Académica.
E, em grande parte, por culpa da mesma pessoa que é
responsável pelo seu êxito como equipa de futebol,
o Sr. Pinto da Costa.
Com tantos títulos nacionais e internacionais ganhos,
era natural que, gradualmente, o FCP se fosse tornando mais
querido, de norte a sul do país. Pelo contrário,
não é raro ver os do sul a torcerem para que
o FCP perca, mesmo nas competições internacionais.
Penso que este sentimento generalizado anti-portista tem
a ver com a arrogância bacoca, a altivez saloia do
Sr. Costa. Com aquela cara de poucos amigos, vai atirando
setas envenenadas a torto e a direito, desempenhando o papel
do tipo que é odiado por todos apenas por inveja,
porque é o melhor e, quanto mais o atacarem, mais
forte ele se sente. Infantil.
No outro dia, o Presidente da Câmara do Porto foi
inaugurar os acessos aos novo Estádio do Dragão
(só o nome arrepia!...). O Sr. Costa não se
dignou aparecer à cerimónia, embora os acessos
ao estádio sejam pagos pela Câmara, isto é,
por todos nós, contribuintes, mesmo os que detestam
o FCP. No lugar do Sr. Costa, estiveram diversos adeptos
do FCP que só não chamaram boa pessoa ao Rui
Rio – que também não é boa peça,
mas não é isso que está em causa...
Há uns meses, um grupo de deputados faltou à
sessão da Assembleia para ir a Sevilha, ver o FCP
ganhar a Taça Uefa. Justificaram a falta como “trabalho
político” (que lata!). O presidente da AR,
Mota Amaral, marcou-lhes falta na mesma.
Pois o Sr. Pinto da Costa – que não convidou
o Rui Rio para visitar o estádio – convidou
este grupinho de deputados; e eles foram! Saloios!
Agora, para a inauguração do estádio,
o Sr. Costa convidou o Jorge Sampaio e o Durão Barroso.
Felizmente para eles, ambos estão fora do país,
na altura – ou fizeram por isso, para evitarem chatices.
Logo, seguindo o protocolo, o Sr. Costa devia convidar a
figura nº2 do Estado, Estado que lhe pagou grande parte
do novo estádio. Acontece que essa figura é
o Mota Amaral, que marcou falta aos amiguinhos do FCP, portanto,
não há convites para ninguém!
Vais longe, ó Pinto da Costa! Hás-de continuar
a ser presidente de um clube de bairro, por mais campeonatos
que ganhes, pá!...
Sábado, 1
O
psiquiatra vegetariano
Começou o julgamento de Carlos Silvino, o funcionário
da Casa Pia que é acusado de ter abusado de várias
crianças e jovens. Ao contrário dos restantes
arguidos, Silvino é o único que é tratado
nos media, ternamente, pelo seu “petit nom”,
Bibi. Quase que nos faz chorar...
O advogado do Bibi é um tipo com ar de arrivista,
chamado Martins, que decidiu socorrer-se de diversas artimanhas
processuais para atrasar o julgamento. Inventou uma coisa
chamada incidente de recusa e conseguiu que o julgamento
fosse suspenso. Provavelmente, só recomeçará
para o ano...
À saída do tribunal, o Dr. Martins estava
acompanhado por outro senhor, que se identificou como seu
assessor técnico, o psiquiatra Rui Frade. Rodeado
por repórteres, o Dr. Frade disse, com ar compungido,
que o Silvino estava com ar “abatido, sem expressão,
sem plástica, um vegetal”; acrescentou que
sofria de “amnésia lacunar profunda”
e que estava com uma “vida vegetariana”. Mas
o que é isto? gritei, quem é este gajo?
Afinal, o Dr. Frade não é psiquiatra. No
entanto, é médico. Tinha a obrigação
de saber que, se Bibi é acusado de tantos crimes
da carne, não pode ter uma “vida vegetariana”!
O bastonário
bombista
Claro que toda a gente ficou indignada com o expediente
do Dr. Martins. Não há direito que um advogado
utilize estratagemas legais para defender um homem mau!
Se o arguido fosse um homem bom, todos aplaudiriam, de pé,
a manigância do Dr. Martins, mas assim, não!
Todos os senhores advogados-estrelas – que são
aqueles que não resistem a aparecer nas televisões
a fazer comentários sobre tudo o que diga respeito
seja ao que for -, todos esses senhores advogados zurziram
no colega Martins, incluindo o bastonário Miguel
Júdice que, desde que foi eleito para Chefe, não
pára de dar bitaites por tudo e por nada.
Mas o Dr. Júdice não sabia com quem se estava
a meter. Depois de ter criticado publicamente a estratégia
do seu colega Martins, este – que tem a particularidade
de usar camisas um número abaixo, o que o obriga
a desapertar sempre o primeiro botão – decidiu
vir a público afirmar que o bastonário tinha
pertencido ao MDLP e apoiado os bombistas que, nos tempos
do PREC, andaram a pôr bombas nas sedes do PCP.
Era só o que faltava! Agora que o MRPP está
no poder, temos um bastonário dos advogados bombista?
O presidente
Vieira
A RTP transmitiu, em directo, a consagração
do presidente eleito Luís Filipe Vieira. Quem? O
Vieira... mas quem é o Luís Filipe Vieira?
É o novo presidente do Benfica. Presidente do Benfica?
Mas estás a falar do Benfica, clube de futebol? Sim,
claro! Não estou a falar da Junta de Freguesia de
Benfica, por exemplo – estou a falar do glorioso!
E a RTP transmitiu isso em directo?! É verdade! As
filas dos sócios que iam votar, os computadores e
o software, que teve alguns problemas, as opiniões
de notáveis benfiquistas e, à meia-noite,
a abertura das urnas, uma previsão dos resultados
e, depois, o discurso do nóvel presidente, que disse
estar muito satisfeito pela expressividade da vitória.
Ele, que até é fisionomicamente parecido com
Saddam Hussein, também ganhou com quase 100% dos
votos! E disse que estava feliz por ser eleito com “númaros”
tão expressivos! Isso mesmo: “númaros”!
É que Luís Filipe Vieira orgulha-se de duas
coisas: não pagar impostos (porque só ganha
o ordenado mínimo nacional...) e só ter a
4ª classe!
E, já agora, só outra coisa: os presidentes
dos clubes são as únicas personalidades portuguesas
que têm direito a nome completo na comunicação
social – é o Jorge Nuno Pinto da Costa e o
Luís Filipe Vieira. Não chegava o Sr. Costa
e o Sr. Vieira?...
Teoria da conspiração
O regresso da varíola
A Direcção Geral de Saúde comprou 25
mil vacinas da varíola a um laboratório austríaco.
A varíola é uma doença considerada
erradicada da espécie humana pela OMS, graças
à vacinação em massa.
Os americanos disseram que Saddam teria, nos seus laboratórios,
vírus da varíola, prontos para um ataque.
As populações do Ocidente, sem imunidade para
aquele vírus, seriam dizimadas.
Esta seria uma das armas de destruição maciça
do regime do Iraque.
Os americanos ainda não encontraram nenhuma dessas
armas.
O governo do Sr. Barroso vai enviar um destacamento da
GNR para o Iraque.
Pelo sim, pelo não, vão ser vacinados contra
a varíola.
Esse destacamento tem cerca de 120 militares.
Por que raio é que a DGS comprou tantas vacinas?
A resposta só pode ser uma: a DGS portuguesa está
feita com o laboratório austríaco e são
eles os únicos responsáveis pelo conflito
do Iraque; conseguiram convencer os EUA de que o Iraque
tinha armas de destruição maciça, apenas
com o intuito de ganharam uns milhões com a venda
de vacinas.
Aguardo desmentidos formais.
Dentes podres
Portugal nunca será um país moderno enquanto
não for instituído um Programa Nacional para
Arranjar os Dentes à Malta Toda (PRONADEMATO).
Não há nenhum português que apareça
na televisão que não tenha os dentes todos
podres ou cheios de tártaro. E são todos!
do transeunte que ia a passar quando o operário caiu
do andaime (e que é apresentado como “Manuel
Silva – testemunha ocular”) ao secretário-geral
do Partido, secretário de Estado ou ministro.
Há excepções, claro. O Sr. Barroso
e o presidente Sampaio, por exemplo, têm os dentes
limpinhos, partindo do princípio que não usam
placa – mas os restantes, meus deus, que nojo! Arranjem
os dentes, porra!
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