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O Coiso
Um dia destes...

Novembro 2003:


| O pénis de Carlos Cruz | As máximas de Gabriel Alves | Kennedy e Lincoln - coincidências | Adeus, até ao meu regresso - os nosssos homens no Iraque | Libertem o Raleiras! | As tretas da Xis | Casa Pia Study | Lenocínio às claras | Nomes estranhos | Arrogância patega | O psiquiatra vegetariano | O bastonário bombista | O presidente Vieira | O regresso da varíola | Dentes podres |


Sábado, 29
O pénis de Carlos Cruz

No âmbito do processo Casa Pia, Paulo Pedroso e Carlos Cruz foram ao Instituo de Medicina Legal, a mando do Procurador João Guerra, a fim de serem submetidos a um exame pericial. Até aqui, tudo normal. Só que, à porta do Instituto, antes e depois do exame a Carlos Cruz, os jornalistas formavam um enxame e, impossibilitados de falar com o arguido, atacaram o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes: como correu o exame, foi um exame íntimo, como está o Carlos (assim, tal e qual, como está o Carlos, enquanto o advogado ia sempre respondendo ao lado: “o Sr. Carlos Cruz ect, etc...”). os repórteres iam mudando o tom das perguntas, variando as palavras usadas mas estava na cara que queriam dizer: “examinaram-lhe o pénis?”

Segundo o DN de hoje “perícias a Carlos Cruz demoraram 20 minutos”; já segundo o Público “perícia a Carlos Cruz durou dez minutos”. Reparem nas diferenças: segundo o DN, Carlos Cruz foi sujeito a “perícias”, no plural, enquanto segundo o Público a coisa foi singular: “perícia”. O mesmo exame durou, para o DN, o dobro do tempo que o Público noticia.

O cidadão comum fica confuso: o apresentador foi mostrar a pilinha ao Instituto de Medicina Legal? E os investigadores precisaram de 20 minutos (mesmo que tenham sido 10!) só para lhe verem a coisa? Tanto tempo? Aquilo é olhar e já está! A menos que... a menos que... e um tipo pensa: se o exame foi mesmo íntimo, se se destinava a confirmar ou infirmar os depoimentos das crianças molestadas, será que os investigadores queriam ver o pénis de Carlos Cruz em erecção? Se assim foi – e dadas as circunstâncias – 10 minutos é pouco tempo (mesmo 20!). Duvido que eu conseguisse pô-lo em pé com aqueles tipos a observarem!

Este tipo de considerações podem parecer exageradas para quem não viu o espectáculo televisivo, o modo como os jornalistas quase atropelavam o advogado, lhe enfiavam os microfones na cara, o incitavam a responder.
Outra moda dos repórteres televisivos consiste em fazer a pergunta: “como se sente?”. E perguntavam ao advogado: “como se sentiu o Carlos?”.

Hoje mesmo, no telejornal da hora do almoço, uma repórter muito contentinha e muito lorinha, estava em casa da esposa de um dos soldados da GNR que está no Iraque. Sentados num sofá, a esposa, o filho bebé, a filha e mais uma série de pessoas, tudo muito satisfeito, com o olhar rolando entre a câmara e o televisor, onde se estavam a ver, já que se tratava de uma transmissão em directo. E vai a loirinha e pergunta à miúda, para aí de 7 anos: “como te sentiste quando te foste despedir do pai ao aeroporto?” A miúda não tinha sido devidamente treinada e não foi capaz de responder: “senti um grande orgulho por ver o meu pai partir para uma terra tão distante, a fim de levar bem longe o nome de Portugal!” e disse apenas “não sei...”

Assim vai a reportagem em Portugal...

As máximas de Gabriel Alves
Gabriel Alves é o expoente máximo dos comentadores de futebol. Isto é dos livros e não é novidade nenhuma.
Gabriel Alves é o sucessor emérito do grande Alves dos Santos, o inventor das mais célebres frases do futebol, como: “recebe no peito e cola na relva” ou “corre como se fosse um extremo”.

Gabriel Alves não merece as críticas que lhe são feitas. Tinha que existir um Gabriel Alves para animar as transmissões futebolísticas. Sem ele, ver um jogo de futebol seria penoso.

Por isso, decidi coleccionar algumas das suas frases mais dilectas. Aqui vão algumas, escutadas durante os três últimos jogos que ele fez o favor de comentar:

* “o futebol europeu tem mais incisão”
* “Sokota tem mexido no último terço”
* “Quer uma quer outra formação não tem sustentáculo”
* “A leitura foi boa, o desenho é que não; não leu bem a posição do seu companheiro”
* “Roger está apagado, sem leitura, ele que é um jogador com visão, que mete bem nos espaços”.
* “Lá estão os dois homens do Sporting do miolo e sempre com dois turcos pela frente”
* “A equipa desenvolve jogadas ofensivas já no último terço”

Em breve, mais máximas do grande Gabriel Alves...

Domingo, 23
Kennedy e Lincoln - coincidências
Há 40 anos, assassinaram John F. Kennedy. Os jornais assinalaram o facto, com extensos artigos. O DN transcreveu uma série de coincidências entre Kennedy e Abraham Lincoln que dão que pensar:

Lincoln foi eleito para o Congresso em 1846, Kennedy em 1946. Lincoln foi eleito presidente em 1860, Kennedy em 1960. Os nomes de ambos os presidentes têm sete letras. Ambos foram baleados a uma sexta-feira. A secretária de Lincoln chamava-se Kennedy, a de Kennedy chamava-se Lincoln. Ambos os presidentes foram assassinados por sulistas. Ambos os sucessores se chamavam Johnson. Andrew Johnson, que sucedeu a Lincoln, nasceu em 1808; Lyndon Johnson, que sucedeu a Kennedy, nasceu em 1908. John Wilkes Booth, que assassinou Lincoln, nasceu em 1839; Lee Harvey Oswald, que terá assassinado Kennedy, nasceu em 1939. Ambos os assassinos eram conhecidos pelos seus três nomes e ambos os nomes têm 15 letras. Booth saiu a correr de um teatro e foi apanhado num depósito; Oswald saiu a correr de um depósito e foi apanhado num teatro. Ambos foram assassinados antes do julgamento. Ambos os presidentes, uma semana antes de serem assassinados estavam em Monroe, Maryland. Lincoln foi morto na sala Ford, do teatro Kennedy; Kennedy foi morto num carro Ford, modelo Lincoln.

Esta espantosa série de coincidências estão algures num site sobre Kennedy. Como diz o Pedro, não devemos acreditar em tudo o que os sites publicam.

Mesmo assim...

Quarta, 19
Adeus, até ao meu regresso – os nossos homens no Iraque
Temos 128 homens no Iraque! Quatro deles, são mulheres...

A histeria em redor do contingente da GNR em missão no Iraque é indescritível. Todos os dias, os não-sei-quantos jornalistas que lá estão, enviam as mais hilariantes crónicas sobre os nossos soldadinhos, como se o futuro da Humanidade deles dependesse.

Esta manhã, na TSF, o valente Raleiras – o jornalista que foi sequestrado por um bando de assaltantes da estrada – entrevistou dois gênêrrês: o mais novo e o mais velho. À noite, na RTP, o enviado especial dizia que “as saudades já apertam”; e só passaram meia dúzia de dias!... Amanhã teremos, certamente, entrevistas ao mais alto, ao mais baixo, ao mais gordo, ao que tem o nome mais cómico, aos casados, aos solteiros, e por ai fora – temas não faltarão aos nossos repórteres!

E, caso estejam com falta de criatividade, aqui ficam algumas sugestões: entrevistar as soldadas quando estiverem menstruadas, já que será interessante saber onde é que elas vão arranjar os pensos; entrevistas sobre a alimentação, fazendo uma espécie de culinária comparada; qualidade do sono, será que os colchões são confortáveis, usam despertador; e como estamos de sexo? Como resolvem os nossos bravos soldados as suas urgências sexuais? A masturbação é permitida?

Os temas possíveis não têm fim.

Mesmo que não aconteça nada de especial, os próximos seis meses poderão ser preenchidos com a uma série de informações idiotas sobre a vida de 128 portugueses no Iraque, como se disso dependesse o sucesso ou o fracasso da missão.

Sem o saberem – ou sabendo-o perfeitamente – os nossos repórteres de guerra estão a fazer a melhor propaganda possível à política do Bush. Os telejornais quase que já tinham deixado de falar no Iraque, as notícias das bombas e dos helicópteros que vão caindo tinham passado para as segundas partes dos telejornais, muito depois da Casa Pia e dos tontos dos estudantes a fecharem a cadeado as portas das faculdades, mas eis que os nossos soldadinhos partem para o “teatro de operações”, devidamente acompanhados por um grupo numeroso de jornalistas e temos notícia de abertura, novamente.

Entretanto, o ministro da Defesa, Paulo Portas, apareceu com aquela cara de mau – qual Fuhrer – a informar que todos devemos lealdade para com os GNR, que eles estão lá em representação de Portugal. Que descaramento, ó Paulinho! Fizeste-me lembrar aquele discurso salazarento do “quem não é por nós, é contra nós”. É pá, deves estar distraído: os soldados da GNR são voluntários, a decisão de os enviar para o Iraque foi tomada, isoladamente, pelo Governo, sem o apoio de nenhum partido da Oposição, o Iraque nunca foi colónia portuguesa... ó Paulinho, a guerra do Iraque não é a guerra do Ultramar!

Que Alá nos salve deste gajo!!!

Sábado, 15
Libertem o Raleiras!
Finalmente, temos um jornalista sequestrado!

Esta semana partiu para o Iraque um contingente de 128 soldados da GNR. Os fiéis a Saddam tremeram! Vêm aí os portugueses! Lembram-se das cruzadas? Fujam que vêm aí os portugueses! Estes foram os gritos que ecoaram por todo o Iraque. Depois de terem mandado pelos ares americanos, ingleses e italianos, os iraquianos iam ter pela frente os bravos soldados da GNR e a coisa complicava-se para a resistência. É natural: uma coisa é mandar carros armadilhados contra os edifícios da Onu ou contra os quartéis ianquis – outra é lutar contra um grupo de 128 gê-nê-rês, nacionalmente desorganizados, sem falaram uma palavra de árabe e sem terem a mínima noção do que vão fazer. Um terrorista fica desorientado e não sabe como há-de atacar!

Mas os iraquianos também têm os seus planos B – e decidiram deixar passar os GNR e atacar os jornalistas.
À boa maneira portuguesa, os 128 GNR levaram, no mesmo avião, 9 jornalistas. Já lá vai o tempo em que a RTP, a ANI, a ANOP ou a Lusa (conforme a época) enviava um jornalista que, depois, mandava para cá todas as informações. Agora, era preciso um jornalista de cada órgão de informação – não fosse o enviado da RTP, por exemplo, estivesse distraído, e deixasse escapar o Saddam Hussein disfarçado de palhaço. Vai daí, foram 2 tipos da RTP, 2 da SIC, um da TVI, um do Público, outro da Rádio Renascença, um da TSF e outro da RDP.

Foram todos no mesmo avião da Air Luxor (o mesmo que nos levou na volta ao mundo, em Março) até ao Kuwait. Aí chegados, os GNR disseram adeus e partiram em direcção a Bassorá, no Iraque. Os jornalistas ficaram por conta própria. Mas, como bons portugueses, desenrascaram-se: alugaram três jipes e partiram para o Iraque. Mas mal atravessaram a fronteira, foram logo assaltados: dois dos jipes conseguiram fugir, mas o terceiro foi atingido a tiro. Resultado: a jornalista da SIC levou um tiro numa perna, foi operada numa base inglesa e aguarda, agora, que alguém a vá lá buscar; o jornalista da TSF, Carlos Raleiras foi raptado e ainda ninguém sabe dele.

Ainda gostaria de perceber por que razão o Durão Barroso decidiu envolver Portugal nesta coisa do Iraque, ao ponto de se comprometer a enviar uma força de 128 soldados para policiar um país que nem governo tem. Os americanos começaram aquilo, eles que terminem – ajudá-los, porquê?!

E o amadorismo de tudo isto é assustador. No dia da partida dos soldados, havia mais jornalistas no aeroporto do que familiares dos soldados; parecia uma vernisage! Na véspera, o quartel, em Nassyria, para onde os soldados deveriam ter ido, tinha sido atacado à bomba; morreram 18 soldados italianos. Apesar disso, estava tudo muito confiante, vai correr tudo bem, não vai haver problema, deus está connosco e outras banalidades semelhantes.

Os soldados vão ficar por lá 6 meses e, durante este tempo, bem pode Durão Barroso rezar a todos os seus santinhos para que nenhum morra – caso contrário, ficará para a história como responsável pela morte de soldados portugueses numa missão de legitimidade muito questionável e, sejamos sinceros, completamente ridícula e absurda.

(O Raleiras foi libertado no sábado, dia 15 e os jornalistas portugueses conseguiram, depois disso, protecção por parte das forças britânicas; que bom!...)

As tretas da XIS
A Xis é uma revista distribuída gratuitamente com a edição de sábado do Público. A directora é Laurinda Alves e o tom da revista é muito homogéneo: medicinas alternativas, profissões alternativas, vidas mais ou menos marginais, ciências não reconhecidas, voluntariado, organizações não governamentais, conselhos de beleza, de decoração e de assuntos do coração. Uma treta!

Quase todas as semanas, há uma solução milagrosa para um assunto delicado: dores no pescoço, enxaqueca, deixar de fumar, impotência, insónia, medo das alturas – tudo tem uma resposta fácil, graças a um método qualquer da chamada medicina alternativa ou paralela.

No número da semana passada, propunha-se a auriculoterapia para deixar de fumar. Dava-se a morada de um Antismoking Center, em Lisboa e dizia-se:

“patenteado e desenvolvido pelo médico italiano Enzo Lamberto, o Electromeridian Kobra é um aparelho electrónico de baixa frequência nos pontos de elevada condutividade na orelha para atingir os segmentos correspondentes no corpo. A dose correcta a aplicar é cientificamente calculada a partir dos dados do cliente e não causa nem dor nem efeitos secundários. Esta micro-massagem dissolve a nicotina e o alcatrão acumulados nos órgãos e cria um efeito relaxante que compensa de maneira natural os efeitos da desintoxicação”

Como é possível tanto disparate? Como é que se calcula “cientificamente” a dose de um impulso eléctrico de baixa frequência? Fizeram estudos duplamente cegos? Quais são os pontos de “elevada condutividade” da orelha? Como foram determinados? Como se explica que as orelhas tenham pontos que correspondam às várias partes do corpo? E os sujeitos que não têm orelhas? Como é que uma micro-massagem dissolve a “nicotina e o alcatrão acumulados nos órgãos”? Será que o tal impulso eléctrico faz com o alcatrão se destaque das paredes dos alvéolos, da laringe, do estômago, da bexiga? Quem controla a eficácia e segurança de um aparelho chamado Kobra? A Food and Drugs Administration – que veta qualquer medicamento que não tenha desenvolvido todos os estudos possíveis e imaginários – nem sabe o que isto é. A Organização Mundial de Saúde, também não.

E tudo isto é publicado sob uma aura de honestidade. Não estamos a falar de conselhos para a saúde publicados no jornal “O Crime”, nem na revista “Maria” – estamos a falar de uma revista distribuída por um jornal de referência, como é o Público e para a qual escreve, por exemplo, o prestigiado psiquiatra Daniel Sampaio.

É de ir às lágrimas...

Casa Pia Study
Esta semana não aconteceu nada de novo no caso Casa Pia, a não ser o facto de O Correio da Manhã ter publicado uma notícia que dizia que havia três rapazinhos casapianos que diziam ter sido abusados pelo Ferro Rodrigues. Tudo normal.

Então, os jornalistas de investigação tinham que descobrir algo. E o Público saiu-se com uma bem engraçada. A autora da investigação devia andar pelo google, a pesquisar coisas sobre a Casa Pia e eis que depara com o Casa Pia Study.

Resumindo: a Universidade de Washington queria fazer um estudo sobre os eventuais efeitos secundários da amálgama de mercúrio usada no tratamento das cáries dentárias, vulgo chumbos dos dentes. Precisava de uma amostra relativamente numerosa e estável de crianças com dentes podres; oferecia tratamento gratuito e recebia, em troca, vigilância dessas crianças, durante 10 anos, para tentar detectar alguns efeitos secundários da tal amálgama. A Universidade de Washington acabou por contactar a Universidade de Lisboa e a Casa Pia foi considerado o local ideal para arranjar essa tal amostra. Assim, desde 1997, mais de 500 crianças da Casa Pia têm os seus dentes podres arranjados à borla e estão a ser observadas, a fim de serem detectados efeitos secundários.
So what?

O Público – na actual voragem tablóide de desencantar escândalos – fez manchete de primeira página com esta descoberta aterradora! As criancinhas da Casa Pia estavam a ser usadas como cobaias num estudo científico norte-americano. Os yankies, em vez de irem lixar as dentaduras dos rapazinhos de West Point, vieram para Portugal, estragar a saúde dos meninos da Dona Catalina, enchendo-lhes as boquinhas com coisas minadas com mercúrio!
Que falta de sentido da realidade! Então a pílula não foi testada nas mulheres da Índia e do México antes da senhora jornalista poder tomá-la em segurança? Em que mundo é que ela pensa que vive? E não terá sido um bom negócio? Era melhor que as criancinhas continuassem a sorrir para os telejornais com os dentes todos podres? Não era uma vergonha vê-las, nos tribunais, a deporem perante os senhores juizes, exibindo os seus dentinhos podres, a abanarem perigosamente em gengivas inflamadas? Há algo de mais bonito do que o sorriso de uma criança (desde que tenha os dentinhos arranjados)?...

A menos que a jornalista investigadora pense que a pedofilia possa ser um dos efeitos secundários das amálgamas de mercúrio usadas no tratamento da cárie dentária...

Domingo, 9
Lenocínio às claras
Segundo o Novo Larousse (ed. 1994), “lenocínio é crime contra a liberdade sexual que consiste em alguém, profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição ou a prática de actos sexuais de relevo, explorando situações de abandono ou de necessidade económica”.

Acho graça à expressão “actos sexuais de relevo”; gostaria de saber quais são eles... por exemplo, dar beijinhos na pilinha será um acto sexual de relevo?...

A definição do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua Portuguesa (ed. 1981), dá uma definição ligeiramente diferente: “crime contra os costumes, caracterizado principalmente pela prestação de assistência à libidinagem alheia, ou dela tirar proveito, e cujas modalidades são: o proxenetismo, o rufianismo e o tráfico de mulheres ou escravatura branca.”

Esta definição também tem graça, sobretudo quando estabelece modalidades para o lenocínio, como se fosse o atletismo...

Mas, enfim, de um modo geral, podemos dizer que lenocínio será o crime cometido por quem facilita a prática da prostituição.

Nesse caso, o Diário de Notícias infringe a lei diariamente.

Página 80 do DN de hoje: “09H00/24H00!!! “Sofia” Portuguesa... 32... Mulher Deslumbrante... Meiguinha... Loirinha... Olhinhos Castanhos... Atreve-te!... Tel 963854265”.

E, logo a seguir: “Se conduzir não beba. Se beber não conduza. Cumpra o código.”

E depois: “14/02H...Joana... Divorciada... Meiguinha... Busto 44... Peludinha... “Ex-Benfica”. Privado... Tel. 969368199”

Mas o que é isto? Lenocínio puro e duro.

E os exemplos são às dezenas: “DUAS... bocas.. em simultâneo... oral delicioso... 9h/24h. Tel. 967416075”
Não sei se duas bocas simultâneas, em oral delicioso, serão um “acto sexual de relevo”, mas pressinto que sim...
Outra curiosidade, todos os telemóveis de todos os anúncios são da rede TMN. Apenas coincidência?...

Ora digam lá se o DN não está a fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição”?...

Nomes estranhos
Sei que isto é infantil, mas acho graça aos nomes de personalidades internacionais que, em português, têm um significado mais ou menos escatológico.

Já conhecíamos os dirigentes africanos Kagamé e Foday.

Já tínhamos ouvido falar do político iraquiano Pachachi.

Também já sabíamos que havia uma tenista chamada Clijsters que, apesar da grafia e da pronúncia, não se safa de se chamar, em português, “clisteres”.

Hoje, fiquei a conhecer o nome de uma escritora que se debruça sobre o tema da pedofilia e quem tem o inconveniente nome de Minette.

É preciso ter azar...

Arrogância patega
O FC Porto nunca há-de ser um instituição nacional, como o Benfica, o Sporting ou mesmo a Académica. E, em grande parte, por culpa da mesma pessoa que é responsável pelo seu êxito como equipa de futebol, o Sr. Pinto da Costa.

Com tantos títulos nacionais e internacionais ganhos, era natural que, gradualmente, o FCP se fosse tornando mais querido, de norte a sul do país. Pelo contrário, não é raro ver os do sul a torcerem para que o FCP perca, mesmo nas competições internacionais.

Penso que este sentimento generalizado anti-portista tem a ver com a arrogância bacoca, a altivez saloia do Sr. Costa. Com aquela cara de poucos amigos, vai atirando setas envenenadas a torto e a direito, desempenhando o papel do tipo que é odiado por todos apenas por inveja, porque é o melhor e, quanto mais o atacarem, mais forte ele se sente. Infantil.

No outro dia, o Presidente da Câmara do Porto foi inaugurar os acessos aos novo Estádio do Dragão (só o nome arrepia!...). O Sr. Costa não se dignou aparecer à cerimónia, embora os acessos ao estádio sejam pagos pela Câmara, isto é, por todos nós, contribuintes, mesmo os que detestam o FCP. No lugar do Sr. Costa, estiveram diversos adeptos do FCP que só não chamaram boa pessoa ao Rui Rio – que também não é boa peça, mas não é isso que está em causa...

Há uns meses, um grupo de deputados faltou à sessão da Assembleia para ir a Sevilha, ver o FCP ganhar a Taça Uefa. Justificaram a falta como “trabalho político” (que lata!). O presidente da AR, Mota Amaral, marcou-lhes falta na mesma.

Pois o Sr. Pinto da Costa – que não convidou o Rui Rio para visitar o estádio – convidou este grupinho de deputados; e eles foram! Saloios!

Agora, para a inauguração do estádio, o Sr. Costa convidou o Jorge Sampaio e o Durão Barroso. Felizmente para eles, ambos estão fora do país, na altura – ou fizeram por isso, para evitarem chatices. Logo, seguindo o protocolo, o Sr. Costa devia convidar a figura nº2 do Estado, Estado que lhe pagou grande parte do novo estádio. Acontece que essa figura é o Mota Amaral, que marcou falta aos amiguinhos do FCP, portanto, não há convites para ninguém!
Vais longe, ó Pinto da Costa! Hás-de continuar a ser presidente de um clube de bairro, por mais campeonatos que ganhes, pá!...

Sábado, 1
O psiquiatra vegetariano
Começou o julgamento de Carlos Silvino, o funcionário da Casa Pia que é acusado de ter abusado de várias crianças e jovens. Ao contrário dos restantes arguidos, Silvino é o único que é tratado nos media, ternamente, pelo seu “petit nom”, Bibi. Quase que nos faz chorar...

O advogado do Bibi é um tipo com ar de arrivista, chamado Martins, que decidiu socorrer-se de diversas artimanhas processuais para atrasar o julgamento. Inventou uma coisa chamada incidente de recusa e conseguiu que o julgamento fosse suspenso. Provavelmente, só recomeçará para o ano...

À saída do tribunal, o Dr. Martins estava acompanhado por outro senhor, que se identificou como seu assessor técnico, o psiquiatra Rui Frade. Rodeado por repórteres, o Dr. Frade disse, com ar compungido, que o Silvino estava com ar “abatido, sem expressão, sem plástica, um vegetal”; acrescentou que sofria de “amnésia lacunar profunda” e que estava com uma “vida vegetariana”. Mas o que é isto? gritei, quem é este gajo?

Afinal, o Dr. Frade não é psiquiatra. No entanto, é médico. Tinha a obrigação de saber que, se Bibi é acusado de tantos crimes da carne, não pode ter uma “vida vegetariana”!

O bastonário bombista
Claro que toda a gente ficou indignada com o expediente do Dr. Martins. Não há direito que um advogado utilize estratagemas legais para defender um homem mau! Se o arguido fosse um homem bom, todos aplaudiriam, de pé, a manigância do Dr. Martins, mas assim, não! Todos os senhores advogados-estrelas – que são aqueles que não resistem a aparecer nas televisões a fazer comentários sobre tudo o que diga respeito seja ao que for -, todos esses senhores advogados zurziram no colega Martins, incluindo o bastonário Miguel Júdice que, desde que foi eleito para Chefe, não pára de dar bitaites por tudo e por nada.

Mas o Dr. Júdice não sabia com quem se estava a meter. Depois de ter criticado publicamente a estratégia do seu colega Martins, este – que tem a particularidade de usar camisas um número abaixo, o que o obriga a desapertar sempre o primeiro botão – decidiu vir a público afirmar que o bastonário tinha pertencido ao MDLP e apoiado os bombistas que, nos tempos do PREC, andaram a pôr bombas nas sedes do PCP.

Era só o que faltava! Agora que o MRPP está no poder, temos um bastonário dos advogados bombista?

O presidente Vieira
A RTP transmitiu, em directo, a consagração do presidente eleito Luís Filipe Vieira. Quem? O Vieira... mas quem é o Luís Filipe Vieira? É o novo presidente do Benfica. Presidente do Benfica? Mas estás a falar do Benfica, clube de futebol? Sim, claro! Não estou a falar da Junta de Freguesia de Benfica, por exemplo – estou a falar do glorioso! E a RTP transmitiu isso em directo?! É verdade! As filas dos sócios que iam votar, os computadores e o software, que teve alguns problemas, as opiniões de notáveis benfiquistas e, à meia-noite, a abertura das urnas, uma previsão dos resultados e, depois, o discurso do nóvel presidente, que disse estar muito satisfeito pela expressividade da vitória. Ele, que até é fisionomicamente parecido com Saddam Hussein, também ganhou com quase 100% dos votos! E disse que estava feliz por ser eleito com “númaros” tão expressivos! Isso mesmo: “númaros”! É que Luís Filipe Vieira orgulha-se de duas coisas: não pagar impostos (porque só ganha o ordenado mínimo nacional...) e só ter a 4ª classe!
E, já agora, só outra coisa: os presidentes dos clubes são as únicas personalidades portuguesas que têm direito a nome completo na comunicação social – é o Jorge Nuno Pinto da Costa e o Luís Filipe Vieira. Não chegava o Sr. Costa e o Sr. Vieira?...

Teoria da conspiração
O regresso da varíola

A Direcção Geral de Saúde comprou 25 mil vacinas da varíola a um laboratório austríaco.

A varíola é uma doença considerada erradicada da espécie humana pela OMS, graças à vacinação em massa.
Os americanos disseram que Saddam teria, nos seus laboratórios, vírus da varíola, prontos para um ataque.
As populações do Ocidente, sem imunidade para aquele vírus, seriam dizimadas.

Esta seria uma das armas de destruição maciça do regime do Iraque.

Os americanos ainda não encontraram nenhuma dessas armas.

O governo do Sr. Barroso vai enviar um destacamento da GNR para o Iraque.

Pelo sim, pelo não, vão ser vacinados contra a varíola.

Esse destacamento tem cerca de 120 militares.

Por que raio é que a DGS comprou tantas vacinas?

A resposta só pode ser uma: a DGS portuguesa está feita com o laboratório austríaco e são eles os únicos responsáveis pelo conflito do Iraque; conseguiram convencer os EUA de que o Iraque tinha armas de destruição maciça, apenas com o intuito de ganharam uns milhões com a venda de vacinas.

Aguardo desmentidos formais.

Dentes podres
Portugal nunca será um país moderno enquanto não for instituído um Programa Nacional para Arranjar os Dentes à Malta Toda (PRONADEMATO).

Não há nenhum português que apareça na televisão que não tenha os dentes todos podres ou cheios de tártaro. E são todos! do transeunte que ia a passar quando o operário caiu do andaime (e que é apresentado como “Manuel Silva – testemunha ocular”) ao secretário-geral do Partido, secretário de Estado ou ministro.

Há excepções, claro. O Sr. Barroso e o presidente Sampaio, por exemplo, têm os dentes limpinhos, partindo do princípio que não usam placa – mas os restantes, meus deus, que nojo! Arranjem os dentes, porra!

 

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Actualizado em: 30 Novembro 2003
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