Pergunta desnecessária
Tinha 63 anos muito bem conservados e estava
muito atrapalhada. Que não sabia como começar.
Que estava envergonhada.
Encorajei-a, como convém.
E então el foi dizendo, meio engasgada, meio corada,.
que reencontrara um antigo namorado. Há quarenta
anos tinham, estado para casar, mas depois, o senhor doutro
sabe como é a vida, as coisas mudam e cada um seguiu
o seu rumo... Agora, ambos viúvos, estavam a pensar
em consumar o casamento adiado.
E por que não?
O pior é que a dúvida dela não era
exactamente essa. Casar queria ela e queria ele mas... não
faria mal recomeçar a ter relações
sexuais depois de tantos anos de jejum?... É que
ela estava viúva quase há quinze anos...
Fazer mal?... Parvoíce!... As relações
sexuais não têm contra-indicações...
e, depois, é como andar de bicicleta - nunca se esquece.
Algum tempo de pois reapareceu, já acompanhada do
marido - um senhor com cerca de 70 anos, também muito
bem conservado. Que precisava de uma consulta. Ele, porque
ela estava muito bem de saúde.
Com certeza. E qual é o problema, indaguei, junto
do recém-nubente?
"Impotência..." - respondeu ele, sob o olharmeio
envergonhado, meio acusador da mulher.
in "Cinquenta Histórias Pouco Clínicas
mas Muito Cínicas", 1998
ilustração de Pedro Couto e Santos (www.macacos.com)
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