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O Coiso
O melhor do meu Pão Comanteiga

PÃO COMANTEIGA - 1988
Abril– mês da Mentira

 

Programa nº 8 – 23 de Abril 1988

Abertura
488 anos e um dia depois de Pedro Álvares Cabral ter avistado terras de Vera Cruz, aqui está mais uma edição do Pão Comanteiga – às quintas, na Capital, aos sábados na Comercial.

Pão Comanteiga é um programa humilde, elaborado por homens e mulheres simples do nosso povo: Carlos Cruz, Manuela Gomes, José Duarte, Artur Couto e Santos, Clara Pinto Correia, Mário Zambujal e José Miguel Silva.

Despretensioso, Pão Comanteiga pretende apenas o desarmamento bilateral total e incondicional, a paz social, a amnistia internacional, a independência do Faial, o perdão fiscal, uma abertura frontal no aeroporto do Funchal, uma bebedeira no Ginjal, a amizade leal, o fim do vil metal, a Páscoa no Natal, o marquês de Pombal, o Antero de Quental, o homem de Neendertal, o país real e o país rival, a emancipação do Seixal, voos directos para o Transval, a canonização de todos os homens chamados Amaral, a autodeterminação do Bombarral, casacos de cabedal, a semana santa no Carnaval, a reintegração social do canibal, a mudança da capital para o Senegal, a pedra filosofal, a promoção a general do Mário Zambujal e mais uma ou outra coisa casual, que não envolva nada de criminal, não seja desigual, desleal ou digital, que não interfira com a paz conjugal nem com o rebanho do cardeal.

É assim, o Pão Comanteiga, banal. Todos os sábados, semanal, na Rádio Comercial, das 10 às 13, pontual. Todas as quintas, semanal, no jornal A Capital, em 12 páginas de suplemento – nada mal.

E quem nada mal, afoga-se pior.
(A Capital – 5.5.1988)

Experiência: o mentiroso e o coxo
O povo – sempre ele – diz que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.

Pão Comanteiga, neste Ciclo da Mentira, procedeu a diversas experiências, no sentido de confirmar a sabedoria popular.

Lado a lado, colocámos um conhecido mentiroso da nossa praça, que pediu o anonimato (e nós demos-lho) e um coxo. Demos o sinal de partida, deixámo-los correr durante alguns minutos e depois fomos atrás deles.

Foi um falhanço total, uma vez que tanto o mentiroso como o coxo corriam desalmadamente, enquanto os elementos do Pão Comanteiga, cheios de tabaco (não fume, pela nossa saúde!), acabaram por desistir.

Para a segunda tentativa, pedimos a ajuda do professor Porfírio, para quem a solução está na ginástica de manutenção.

Colocámos, lado a lado, outro mentiroso e outro coxo e procedemos como da primeira vez. Dez minutos mais tarde, o Prof. Porfírio apanhou o coxo e só depois o mentiroso, o que contradizia o ditado popular. Só que descobrimos que o coxo era um falso coxo e que o mentiroso mancava ligeiramente da perna direita, embora disfarçasse com o barulho das luzes.

Fizemos uma terceira tentativa, escolhendo então um coxo genuíno e um mentiroso convicto, que prometeram cumprir as regras por nós estabelecidas. Registou-se novo falhanço. Um mentiroso convicto nunca cumpre o prometido e o que nós escolhemos, depois de correr alguns minutos, apanhou um táxi e cortou a meta em primeiro lugar.

Mas nós somos persistentes e tentámos uma quarta vez.

Colocámos, lado a lado, um coxo de confiança e um mentiroso nato e pedimos-lhes apenas que corressem em frente, sem lhes explicarmos os objectivos de tal pedido.

Depois, cansados, fomo-nos dessedentar num simpático bar dos arredores. O Prof. Porfírio só bebeu água.

Uma hora mais tarde, tínhamos finalmente chegado a uma conclusão: mais depressa se apanha um pifo do que um mentiroso ou um coxo.
(A Capital – 5.5.1988)

Algures na América Latina – II
“E agora, general, que dizemos aos órgãos de informação?” – perguntou o sargento Molina.

“Ora!... dizemos que ele caiu da cadeira e morreu!...” – respondeu o general, encolhendo os ombros e guardando a pistola, ainda quente, no coldre de cabedal.

“Mas toda a gente sabe que o presidente não se sentava porque sofria de hemorróidas... até lhe chamavam o presidente sempre em pé...” – disse o sargento, a medo.

“E que importância tem isso?... sentou-se e caiu da cadeira!... alguma vez havia de se sentar!...”

“Está bem, sentou-se... mas como vamos explicar os dois buracos que ele tem na cabeça?...” – perguntou o sargento.

“Irra que és chato!” – berrou o general – “Dizemos que o presidente bateu na esquina da secretária e no pé da cadeira. Duas pancadas: dois buracos.”

“Desculpe, general, mas vê-se bem que os buracos são de bala e os peritos podem querer analisar...”

“Matam-se os peritos!” – cortou o general.

“O general vai perdoar-me mas os jornalistas vão achar que isto é tudo uma grande farsa e...”

“Matam-se os jornalistas também!... qual é o problema?...” – vociferou o general.

“Bom...” – gaguejou o sargento – “é que eu vi tudo... eu vi o general matar o presidente...”

“Não há problema!...” – guinchou o general – “Mato-te a ti e pronto!”

“Pode ser boa ideia... mas o general sabe que foi o senhor que matou o presidente, os peritos, os jornalistas, eu próprio...”

“Está descansado! Suicido-me!” – concluiu o general e deu um tiro no céu da boca.

Foi assim que o sargento Molinas informou a imprensa que o general Lopez se suicidara após ter assassinado o presidente Gomez – e que ele, sargento Molinas, era o novo presidente.
(A Capital – 11.5.1988)

 


 


 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

Actualizado em: 24 Abril 2005
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