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O Coiso
O melhor do meu Uma Vez por Semana

 

 

Nº 1 – programa emitido a 1/2/1986


Sonhos eróticos – O cigarro
O cigarro é um símbolo fálico. Freud não disse isto porque, apesar de ser um fumador inveterado, fumava sempre às escondidas da mulher, dos discípulos e dos biógrafos.
Portanto, sonhar com cigarros é sinal de necessidades básicas não satisfeitas. E isto é verdade, quer para mulheres quer para homens, já que, no essencial, o nosso cérebro é unissexo.
Os sonhos com cigarros são muito diversos. Há quem sonhe que está na praia completamente nu, fumando um cigarro e, de repente, surge o cabo do mar, que lhe confisca o isqueiro. Ou quem sonhe com um enorme palacete, onde as pessoas apagam beatas com os lábios, enquanto andam de patins. Ou ainda quem sonhe apenas com cigarros, toneladas de cigarros alinhados.
No entanto, o conteúdo do sonho é pouco importante.
Fundamentalmente, existem dois tipos de sonhos: cigarros com filtro e sem filtro. Sonhar com cigarrilhas tem outro significado completamente diferente e sonhar com cachimbos não faz sentido.
Nos sonhos em que o cigarro se apresenta sem filtro, todo o cuidado é pouco. Nenhum dos métodos ensinados no livro do Dr. Fritz Khan dão resultado e a gravidez – mesmo onírica – é garantida.
As pessoas que sonham com cigarros sem filtro devem procurar o seu médico, tomar vitaminas às refeições e experimentar as cenouras, em vez de.
Pelo contrário, sonhar com cigarros com filtro é muito mais seguro e revela uma maturidade próxima da chatice total. Este tipo de sonhadores deve fazer um esforço para se tornar mais expontâneo e, se possível, um pouco mais inteligente – embora isto não esteja ao alcance de todos.
Em qualquer dos casos, sonhar com cigarros não só é descabido como se pode pegar fogo aos lençóis.

Zonas erógenas – os tornozelos
Como zona erógena, o tornozelo é muito pouco acessível. Com efeito, situados nas proximidades dos pés, os tornozelos são vulgarmente votados ao ostracismo pela maioria das pessoas. Trata-se de um erro crasso. O tornozelo possui um potencial erógeno considerável, cientificamente estudado por métodos electrofisiológicos e com resultados práticos bastante agradáveis.
Segundo se pensa, este potencial erógeno deve-se à rigidez e tensão do tão falado (mas pouco afagado) tendão de Aquiles. No entanto, a aponevrose superficial, envolvendo o tendão, os vasos e os nervos, joga também um papel definitivo.
Os impulsos recebidos ao nível do tornozelo, são conduzidos pelo nervo safeno externo e pelos ramos terminais do safeno interno, bem como pelo ramo calcâneo interno que, como é do conhecimento geral, nasce do nervo tibial posterior, descendo por trás do maléolo interno.
Ora, toda esta riqueza em terminações nervosas não serve apenas para transmitir sensações dolorosas quando levamos pontapés nos transportes públicos. Elas estão lá, disponíveis para enviar mensagens eróticas, se for caso disso.
Quando o casal se deita, é certo que os tornozelos de um ficam a uma distância considerável das mãos do outro. É exactamente por isso que os tornozelos para lá ficam, aos pés da cama, sem que ninguém lhes ligue. No entanto, note-se que os tornozelos de um ficam bem perto dos pés do outro, segundo a regra universalmente aceite de que, na cama, somos todos do mesmo tamanho.
Portanto, um dos elementos do par deve colocar-se de costas, enquanto o outro lhe estimula o tendão de Aquiles, prendendo-o entre o primeiro e o segundo dedos do pé. Uma vez bem preso, basta movimentar o pé para cima e para baixo. Deste modo, a aponevrose é estimulada, bem como as terminações nervosas e a primeira reacção do primeiro elemento do casal será flectir as pernas – o que facilita carícias mais pormenorizadas.
Resta-nos dizer que era este exactamente o ponto fraco de Aquiles. Por isso se prova que a potencialidade erótica dos tornozelos já era conhecida na Antiga Grécia...

Órgãos sexuais – o hímen
A discussão sobre o papel do hímen no contexto fisiológico da mulher deve ter começado no dia em que alguém reparou na sua existência. Desde então, nenhum cientista conseguiu provar, sem margem para dúvidas, qual a sua utilidade – a do hímen, bem entendido.
É óbvio que muito se tem dito e muito se tem feito à volta do hímen; são conhecidas as histórias, as anedotas brejeiras e outros episódios sobre a referida membrana; é sabida a sua importância como prova da virgindade em certas culturas, embora também se saiba que, em presença de um hímen complacente, a virgindade não pode ser garantida.
A própria designação – hímen – é algo estranha. Parece derivar de “hymenaeus”, ou Himeneu, jovem deus de grande beleza, cuja vida conjugal era considerada um modelo de êxtase matrimonial. De facto, não se compreende como pode haver êxtase matrimonial com hímen intacto.
Mas não estamos aqui para discutir essas coisas.
O que é facto é que o hímen é uma membrana de espessura e forma variáveis, que está ligado ao bordo da vagina. A maior parte das vezes é semi-lunar. Mas pode ser anelar, ou labiado, isto é, dividido em dois lábios laterais. Por vezes – embora raramente – pode mesmo fechar completamente o orifício vaginal. E a raridade aqui é importante.
Qualquer que seja a sua forma, apresenta uma face superior, irregular; uma face inferior, lisa, separada dos pequenos lábios pelo sulco ninfo-himenal; e um bordo livre, liso, irregular, denteado ou até franjado.
Durante o primeiro coito, é suposto que o hímen se rasgue e que os bordos da membrana cicatrizem, tomando o nome de lóbulos himenais. Mais tarde, durante um parto, por exemplo, a rasgadura do hímen torna-se mais profunda e os lóbulos são substituídos por tubérculos irregulares, designados por carbúnculos mirtiformes.
No entanto, e apesar de toda esta complexidade, a maior parte das pessoas já não lhe liga três vinténs...

Diálogo – Afrodisíacos
Ele – Todos os dias aprendemos coisas novas sobre afrodisíacos... claro que cada um tem os seus e, a bem dizer, até é difícil explicar o que é um afrodisíaco.
Ela – Por acaso, eu sei...
Ele – Segundo o Grande Dicionário de Língua Portuguesa, volume 1, página 242, afrodisíaco pode ser “restaurador da potência, lúbrico, voluptuoso, libidinoso”...
Ela – Não é essa a noção que eu tenho...
Ele – E ainda “medicamento empregado para excitar o apetite sexual”.
Ela – Em que forma galénica? Comprimidos, supositórios ou xarope?
Ele – No entanto, no Dicionário Torrinha que eu tenho lá em casa, uma edição antiga, já de 1935, afrodisíaco é “que restaura as forças geradoras”... portanto, já não limita a definição aos medicamentos.
Ela – A pimenta é, não é?
Ele – E embora as definições não variem muito, cada dicionário tem a sua. Por exemplo, o Koogan-Larrousse, diz que afrodisíacos “são substâncias ou medicamentos que restauram ou aumentam o apetite sexual”. Trata-se de uma definição que engloba as anteriores...
Ela – Falar, só por si, também pode ser um afrodisíaco. Por exemplo agora, você está a falar e eu...
Ele – Mas a Moderna Enciclopédia Universal é que me enche as medidas!
Ela – Enche-lhe o quê?...
Ele – A definição de afrodisíaco é mais completa: “substâncias destinadas a estimular ou aumentar o impulso sexual. Para além dos preparados hormonais obtidos de glândulas sexuais, usam-se também substâncias tóxicas...”
Ela – Fale mais devagar senão não consigo tomar nota...
Ele – “...de origem vegetal ou animal, por exemplo a cantárida ou a iombina, que provocam um fluxo sanguíneo anormal nos órgãos sexuais e excitam os centros nervosos sexuais. De um modo geral, têm efeitos similares e, por conseguinte, são produtos excitantes, as especiarias e iguarias exóticas”.
Ela – E as fotografias eróticas?...
Ele – O quê?...
Ela – As fotografias eróticas também não podem funcionar como afrodisíacos?
Ele – Quer dizer que a pimenta, a noz moscada, o cravinho, a comida chinesa em geral, os pitéus de Singapura e das Filipinas, são produtos afrodisíacos – para além, claro, dos preparados farmacêuticos...
Ela – E as fotografias?...
Ele – Estão aí nesse envelope...

Diálogo – Gabriello Fallopio e as suas trompas
Ele – Gabriello Fallopio nasceu em 1523 e faleceu com apenas 39 anos, depois de uma vida completamente dedicada ao estudo da Anatomia humana.
Ela – Em que data é que disse que ele nasceu?...
Ele – A ele se deve a descrição dos órgãos que unem os ovários ao útero e que, em sua homenagem, receberam o nome de trompas de Fallopio.
Ela – 39 anos... portanto... portanto, morreu em 1562, salvo erro ou omissão...
Ele – O comprimento das trompas varia entre os 10 e os 14 centímetros e o seu diâmetro, que é apenas de 3 milímetros perto do útero, atinge os 8 milímetros no seu topo superior.
Ela – Não se importa de repetir?...
Ele – Em cada trompa, podem distinguir-se quatro partes que diferem entre si pela sua situação, a sua direcção, a sua forma e as suas relações com outros órgãos. São elas: a parte intersticial, o istmo, a ampola e o pavilhão...
Ela – Foi quatro partes que disse?...
Ele – 10 a 14 centímetros é o comprimento médio de cada trompa de Fallopio... Das quatro partes referidas, a mais curiosa será, porventura, o pavilhão, sujo bordo livre tem franjas em número de 10 a 15; e cada franja mede de 10 a 15 milímetros. São estas franjas que captam o óvulo expelido pelo ovário no período fértil da mulher.
Ela – Se eu soubesse isto já tinha dito ao meu marido...
Ele – A importância da descrição das trompas de Fallopio não pode ser posta em causa.
Ela – Porquê?
Ele – Mas o grande anatomista italiano não se ficou por aqui. Demonstrando um grande interesse pelos órgãos sexuais femininos, é a ele que se deve a introdução de termos como “clítoris” e “vagina”.
Ela – Não se importa de repetir?...
Ele – Faleceu em 1562, depois de ter sido expulso da Universidade de Pisa, acusado de vivissecação.
Ela – Qual era o primeiro nome de Fallopio?
Ele – Cada trompa tem 10 a 14 centímetros e Fallopio faleceu com 39 anos.
Ela – Obrigado...

 

 

 

 

 

Actualizado em: 20 Dezembro 2003
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