|
Nº 2 – programa emitido a 8/2/1986
Pesquisa lingual
Foi quando os seus lábios se encontraram que
ela reparou na complexidade da língua. Que
órgão maravilhoso aquele!...
Lentamente, minuciosamente, notou que a língua
ocupava a parte média da cavidade bucal, sendo
mais ou menos ovalar, com uma grande extremidade posterior
e terminando por uma ponta, à frente.
Paulatinamente, com o rigor dos cientistas, percorreu
a sua face dorsal, os seus bordos, a sua ponta, e
percebeu que todos eram revestidos por uma mucosa.
Mais ao fundo, na base, notou que a língua
se ligava através de numerosos músculos
ao osso hióide, ao maxilar inferior, à
abóbada palatina e à apófise
estilóide.
Já sabia – até porque não
era nenhuma ignorante – que a língua
era a sede dos órgãos do gosto, mas
só então reparou que, graças
a tantos músculos, ela possuía uma mobilidade
verdadeiramente fantástica - o que explicava
a sua participação na deglutição,
na mastigação, na fonação
e também naquele beijo prolongado e científico.
Cada vez mais interessada, ainda notou que a face
superior ou dorso da língua estava dividida
em duas partes, por um sulco em forma de vê,
aberto à frente. Mas o seu estudo ficou por
ali.
Ligeiramente roxo, ele empurrou-a, ofegante, abriu
a janela de par em par e aspirou uma boa dose de oxigénio,
jurando para si próprio que nunca mais beijaria
uma estudante de Anatomia...
Zonas erógenas –
o canal auditivo externo
Regra geral, são as zonas erógenas mais
escondidas que podem proporcionar potenciais de excitação
inusitados. É o caso do canal auditivo externo.
Trata-se de um canal que se estende desde o pavilhão
auricular até ao tímpano e que, salvo
raríssimas excepções, existe
em ambos os lados da cabeça.
O segredo do canal auditivo externo reside, sobretudo,
no seu revestimento, na sua forma e na sua localização.
No que respeita ao revestimento, ele é feito
à base de células epiteliais, ricas
em terminações nervosas. Quanto à
forma e localização, vejamos a coisa
com mais pormenor: possuindo 25 milímetros
de comprimento e dirigindo-se, obliquamente, de fora
para dentro, canal auditivo externo funciona como
uma verdadeira caixa de ressonância. Se o pavilhão
auricular é o receptor de sons, o canal auditivo
externo amplifica-os e transporta-os até ao
tímpano. É graças a esta qualidade
que o canal se pode transformar numa zona erógena
de grande utilidade. Exceptua-se, talvez, o caso dos
surdos, embora não completamente.
Como é da prática que vêm as ideias
justas, experimente encostar a sua boca à entrada
do canal auditivo externo de quem está consigo.
Murmure-lhe palavras suaves, doces, provocadoras,
de conteúdo inegavelmente erótico, convites
indecorosos, frases quase obscenas ou pequenos sons
guturais ou palato-labiais. A reacção
da outra pessoa traduz-se por um frémito que
lhe percorre o corpo, que a obriga a afastar a cabeça
de supetão mas, logo de seguida, a encostá-la
de novo à sua boca, pedindo sempre mais.
Neste caso, está tudo preparado para a fase
seguinte: introduza a sua língua no canal auditivo
externo da outra pessoa. Claro que “introdução”
é uma força de expressão, já
que a espessura da língua é superior
ao diâmetro do canal. No entanto, a ponta da
língua consegue aflorar os milímetros
iniciais da parede do canal. Aproveite esta facilidade
anatómica para lamber, chupar e produzir diversos
sons. Quaisquer que eles sejam, serão repercutidos
pelo canal, transmitidos ao tímpano e, daí,
directamente aos órgãos genitais, com
uma passagem desprezível pelo cérebro.
Efeitos imediatos e resultados garantidos.
Se, ao introduzir a língua no canal auditivo
externo, sentir um gosto amargo, ficará a saber
duas coisas: que a língua é o órgão
do paladar e que o canal produz e acumula o cerúmen
ou cera. Neste caso, use uma cotonete ou um algodão
enrolado num palito e limpe o canal antes de o usar...
Órgãos sexuais
– os testículos
Descrever anatomicamente os testículos não
é trabalho para meia dúzia de palavras.
Não é com dois ou três parágrafos
que se arrumam estes órgãos de importância
vital para a continuidade da espécie dita humana.
Ao longo dos próximos programas, tentaremos
dar uma ideia, ainda que pálida, dos testículos
– apenas sob o ponto de vista teórico,
deixando a parte prática ao critério
do ouvinte atento e interessado.
Por hoje, vamos contentar-nos em falar da situação,
forma, orientação, dimensões,
cor e consistência dos testículos. E
é obra!
Em número de dois, são eles os produtores
dos espermatozóides, essenciais para a fecundação
– embora não suficientes. Trata-se sempre
de um trabalho de grupo.
Situados por baixo do pénis, cada um deles
tem uma forma ovóide, achatado transversalmente.
O esquerdo desce um pouco mais abaixo que o direito
– o que prova que, neste caso, a lei da simetria
não se verifica. O seu volume e peso varia
de indivíduo para indivíduo, o que poderá
ser facilmente comprovado. Dados estatísticos
seguros dizem que cada um pesa, em média, 20
gramas. Quanto a dimensões, tome nota: 4 a
5 centímetros de comprimento, dois centímetros
e meio de espessura e 3 centímetros de altura,
o que dá um volume médio de 30 centímetros
cúbicos. A superfície do testículo
é lisa, polida, brilhante e a sua cor é
branco-azulado. De notar que este órgão
não pode ser observado à vista desarmada,
uma vez que se encontra revestido por diversos invólucros,
cujo conjunto se designa por bolsas. Daí a
confusão muitas vezes provocada pela frase
“a bolsa ou a vida” – já
que, neste caso particular, a bolsa e a vida são
uma e a mesma coisa.
Finalmente, quanto à consistência do
órgão em causa, pode dizer-se que ela
é firme. Aliás, tem sido comparada à
consistência do globo ocular. Portanto, e ao
contrário do que é corrente, a esmagadora
maioria dos homens tem estes homens com o tamanho
médio – nem grandes, nem pequenos –
e habitualmente, sempre no seu sítio...
Diálogo - Sonhos
Ela – É sempre o mesmo sonho!... vou
de roupão e chinelos, caminhando na orla de
um penhasco... Lá ao fundo, o mar bate nas
rochas com força... vai e vem... vai e vem...
Ele – Eu costumo sonhar com...
Ela – E depois era só espuma... Então,
sinto vontade de me atirar dali abaixo e de me transformar
em rocha...
Ele – Quer dizer... nem sempre sonho com...
Ela – Sonho que sou uma rocha robusta –
não daquelas já muito gastas pela erosão
das sucessivas marés... Uma rocha espessa e
resistente, capaz de suster as arremetidas do mar
mas, ao mesmo tempo, submissa, deixando-se cobrir
por ele...
Ele – Ou então não me lembro dos
sonhos...
Ela – E continua pelo penhasco fora e custa-me
andar porque vou de chinelos. De súbito, dispo
o roupão...
Ele – Raramente uso roupão nos sonhos...
Ela – Dispo o roupão e estou vestida
de varina... Depois desço o penhasco cuidadosamente,
atiro com os chinelos ao ar e deixo que o mar me banhe
os pés – e que sensação
tão boa!...
Ele – Quer que eu desligue o ar condicionado?...
Ela – O mar está quente e espumoso, quase
que ferve...
Ele – Mas eu desligo...
Ela – E então mergulho e, quando acordo,
estou toda encharcada... em suor...
Ele – Pronto... está no mínimo...
|