< Voltar à homepage do Coiso
O Coiso

Volta ao Mundo - 2003
com a Air Luxor - 15 a 31 de Março

Brasil - Manaus/ Amazónia



Sexta, 28

22h 00 – Chegada a Manaus - Visita da cidade - Encontro das águas
Vamos lá tentar descrever as últimas horas, mas vai ser difícil porque, mais uma vez, nem tempo há para escrever, a menos que eu andasse sempre com o caderninho atrás.
Ontem, chegámos ao aeroporto de Manaus por volta das 21h locais (menos 4h do que em Portugal) e estivemos mais de uma hora para passar na alfândega. Dois funcionários zelosos examinavam os passaportes, os papéis de entrada no Brasil, carimbavam, tudo a uma velocidade moderada o que, para cerca de 200 passageiros, fez com que a fila se mantivesse quase incólume durante tempo indeterminado. Quando, finalmente, saímos do aeroporto, fomos logo atingidos por uma baforada de ar quente e húmido e os meus óculos ficaram embaciados. No ar, um cheiro forte a bolor. Não havia dúvida: estávamos na Amazónia.
Cerca de 20 minutos depois, estávamos no Hotel Tropical, um edifício de três pisos, que se alonga horizontalmente. Ficámos no quarto 531 do 1º piso, o que quer dizer que tivemos que atravessar três corredores imensos, com portas de um lado e outro, fazendo lembrar um hotel de Las Vegas, mas na horizontal...
Hoje de manhã, partimos para a visita da cidade. Aqui, na Amazónia, é Inverno, o que quer dizer que a temperatura não ultrapassa os 35 graus e chove. Felizmente, a temperatura, hoje, não atingiu níveis tão elevados. Talvez tenham estado uns 30 graus... E, de manhã, chovia. Mas a chuva não incomoda; nós molhamo-nos mas depressa secamos...
A cidade de Manaus é feia e desorganizada – casas de dois pisos com azulejos e varandas de ferro forjado, fazendo lembrar as casas dos nossos emigrantes, outras pintadas de verde-cueca ou amarelo-diarreia, prédios tipo Reboleira, muitas barracas, verdadeiras favelas, algumas delas assentes em palafitas, sobre o rio Negro. Parámos para ver o Teatro Amazonas, que foi construído nos finais do século XIX, na altura em que Manaus era uma cidade rica, graças à borracha. O interior do Teatro é um luxo: mármores italianos, veludos russos, ferro inglês e escocês, pedras portuguesas, madeira brasileira, mas que era enviada para a Europa para ser tratada. Após a visita ao Teatro, passámos por uma lojinha, onde fizemos as primeiras compras de artesanato local. Seguiu-se uma visita rápida ao Museu do Índio e, finalmente, o Mercado Municipal. Mais compras: a Mila comprou pulseiras e brincos para toda a gente, zarabatanas, maracas e outras miudezas.
Regressámos ao hotel para embarcar num pequeno barco, que fez a travessia do rio Negro (8 km). Na outra margem, esperava-nos o almoço, no restaurante Salvador Lake, mesmo junto às margens do rio. Assim que nos sentámos, levantou-se uma grande ventania e caiu uma chuvada tipicamente tropical, acompanhada de trovoada. Ninguém se ralou. Mais compras numa lojinha do restaurante.


Nesta foto distinguem-se, perfeitamente, as águas escuras do rio Negro e as castanhas do Amazonas

Regressámos ao barco e iniciámos uma viagem de cerca de hora e meia, até ao Encontro das Águas. Neste local, o rio Negro encontra-se com o rio Solimões. Esclareça-se que o rio Negro tem este nome porque as suas águas são mesmo escuras, cor de chá ou coca-cola, devido a estarem carregadas de ácido tânico, das cascas das árvores que as cheias submergem. As árvores, no entanto, apesar de ficarem submersas durante meses, não apodrecem, porque as águas são muito ácidas. Quanto ao rio Solimões, não é outro senão o Amazonas, que toma diversos nomes conforme os locais por onde passa. As águas do Solimões são castanhas e barrentas, devido às terras que arrasta consigo. Quando o rio Negro desagua no Solimões, as suas águas encontram-se mas não se misturam imediatamente, devido à diferente composição química. Por isso, quando chegamos a esse tal Encontro das Águas, podemos ver um fenómeno da natureza: as águas dos dois rios perfeitamente separadas – as águas negras do rio Negro encostadas às águas castanhas do Solimões, sem se misturarem. Curioso fenómeno ese, que proporcionou mais algumas fotos.
Regressámos ao hotel, onde chegámos já depois das 17h 30.
À noite, o jantar foi seguido de um espectáculo de folclore local – boi bumbá, como lhe chamam. Meninas e meninos, vestidos de índios, dançaram e cantaram. Muitos pulos, muita anca meneada, muitas penas de arara.
E amanhã vamos para a selva!

Sábado, 29

14h 00 – Caminhada na Selva
Na cabana 9-A do Eco Park Amazonas.
Não podia haver melhor final para esta Volta ao Mundo, que começou na savana africana, do que a selva amazónica.
Partimos cedo, a bordo do barco Almirante Roque, rio Negro acima. Éramos 41 pessoas. Metade do grupo fez a visita à Amazónia ontem e outra parte do grupo foi para outro local. Subimos o rio durante 40 minutos e chegámos ao Eco Park. Divimo-nos em dois grupos, cada um com um guia e fizemos uma caminhada pela selva durante cerca de hora e meia. O calor húmido fez-nos suar como numa sauna. Eu não sabia que o meu suor podia nascer assim, de todos os meus poros. Às tantas, escorria suor. Quando chegámos à cabana, tínhamos a roupa encharcada, cuecas incluídas.

O guia parava de vez em quando, dando explicações sobre a flora e a fauna desta selva imensa. Foi, sem dúvida, um dos pontos altos desta viagem. Lianas, árvores de onde se fazem as canoas, formigas gigantes, fungos e cogumelos vários, árvores com nomes índios, vegetação luxuriante, insectos em concerto, cigarras que pareciam serras eléctricas, pássaros e passarocos.
Depois da caminhada, fizemos um curto percurso de canoa, com motor, até a um local onde cuidam de macacos, para os devolver à floresta.
Só depois, pudemos descansar um pouco na cabana, que é apenas um quarto com duas camas e uma pequena casa de banho – mas é bem engraçada e até tem ar condicionado!

18h 00 – Visita do Sítio e pesca de piranha
O ar condicionado é um aparelho antigo que faz lembrar o motor de um barco. No entanto, isso não impediu que, após o almoço, adormecêssemos! Dormimos meia-hora, se tanto.
Às 15h, partimos de canoa para visitar a casa de uma cabocla, que vive aqui na zona. D. Safira tem 67 anos, vive no Eco Park desde os 20 anos, disseram-nos. O caboclo resulta da misturas entre o português, o índio e o negro. D. Safira mostrou-nos o seu Sítio, as coisas que cultiva, queixou-se das formigas, que lhe destroem tudo e da solidão (o marido morreu há 2 anos e ela vive sozinha na selva).
De seguida, partimos para outro lugar do rio Tarumã, afluente do Negro, e parámos para pescar piranha. Durante meia-hora, cerca de 40 turistas fizeram figura de parvos, de caninha na mão, tentando pescar piranha. Finalmente, um dos guias pescou um peixe daqueles com nomes parecidos com pirarucu, ou coisa que o valha, e regressámos ao Eco Park, onde vimos um pouco do Portugal-Brasil. Mas eu não estava com vontade de ver futebol, com o rio e a selva ali tão perto. Fomos, primeiro, experimentar deitarmo-nos na rede e relaxar e, depois, para a praia, ver o anoitecer e maravilharmo-nos com os cambiantes da luz do rio, das árvores e do céu.
Que maravilha!

22h 15 – Depois do jantar
Assistimos a mais um espectáculo de boi bumbá, uma mistura de tradição índia com sintetizadores. Desta vez, foi o grupo “Filhos da terra” e a coisa foi mais à séria. Segundo nos informaram, este folclore mistura coisas dos índios, nordestinos e portugueses (daí, o boi...), de escravos negros e tudo isto muito actualizado com ritmos próximos do reggae. Enfim, visualmente até foi interessante...

Domingo, 30

15h 15 – Nascer do sol na selva
Hoje acordámos às 5 da matina, com o propósito de ver o nascer o sol na selva.
Metemo-nos na canoa e navegámos até a um certo sítio. O sol era suposto nascer por ali. Só que o céu estava nublado e, depois de termos esperado até às 6 e picos, acabámos por desistir. Em alternativa, navegámos por um braço do rio que, a partir de certa altura, está cheio de copas de árvores que foram submersas pela subida das águas. Chama-se a isto, iguapó, ou caminho de canoa, ou coisa que o valha. No verão, as águas descem e as canoas já não passam ali. Flutuámos algum tempo, ouvindo os barulhos da selva, sobretudo, o canto de algumas aves.
Regressámos ao Eco Park, tomámos o pequeno-almoço e, às 9h, voltámos, de barco, para Manaus, de regresso ao nosso quarto, para um duche. O resto da manhã foi apenas passar tempo até serem horas de almoçar, fazer o check out e avançar para o aeroporto; mas ainda pudemos assistir a uma chuvada tropical – a chuva parecia cordas caindo de um céu carregado.
No aeroporto esperavam-nos rigorosas medidas de segurança. Foram quase 2h de fiscalização das malas de mão e apreensão de sprays e outros objectos considerados potencialmente perigosos. Terá sido vingança pelo facto do Brasil ter perdido 1-2 com Portugal e do 2º segundo golo português ter sido marcado pelo brasileiro Deco?
Faltam 20 minutos para as 18h e já estamos no avião.
De manhã, falámos com a Marta, o Pedro e o Sousa. Em Portugal, a hora mudou ontem, o que quer dizer que vamos chegar uma hora mais tarde. Parece que tem estado a chover por lá. Já estamos com saudades...

Amazónia em poucas palavras
Calor húmido, cheiro a bolor, favelas assentes em palafitas, vegetação intensa, luxuriante, o rio Negro, de águas cor de chá, o Solimões, barrento, o Encontro das Águas, o concerto dos insectos, à noite, as araras e os papagaios, o por do sol, de cenário, a selva que se basta a si própria, a chuva tropical, frutos estranhos, plantas desconhecidas, rios imensos, o barulho silencioso da selva.

19h 00 – Manaus-Lisboa
Levantámos voo às 18h 05. Vamos demorar 8h 20 para fazer 7 000km, sobrevoando Suriname, Guiana francesa e, depois, a imensidão do Atlântico.
Distribuíram um questionário de qualidade. Querem saber o que pensamos desta Volta do Mundo. O melhor possível, claro. No final do inquérito, pedem sugestões para um percurso de uma futura Volta ao Mundo.
A minha sugestão: Madagáscar – Maldivas – Nova Zelândia – Peru – Costa Rica.
Outro percurso possível: Alexandria – Pequim – Melbourne – El Salavdor – Jamaica.
Outro ainda: Abu Dabi – Xangai – Seattle – Otawa – Cuba

Segunda, 31

15h 30 – Almada
São 18h 30 no Quénia, 21h na Índia, 4h 30 (do dia seguinte) em Sydney, 5h 30 no Tahiti, 10h 30 em Santiago e em Manaus.
Estão a ver a bagunça que vai nas nossas cabeças?
Aterrámos em Lisboa às 7h 07 e o comandante Carlos recebeu uma calorosa salva de palmas. Foi mais um voo tranquilo e seguro. Totalizámos 58h de voo e 47 mil quilómetros.
Depois de aterrarmos, tirámos uma foto de grupo, com toda a tripulação e colaboradores da Air Luxor.
Já estamos a pensar na próxima Volta ao Mundo!

 

Actualizado em: 3 Abril 2003
O MELHOR DO PÃO COMANTEIGA
Textos seleccionados do Pão
CROMOS DO COISO
Cromos antigos para a troca e sites recomendados

O MELHOR DO PAU DE CANELA
Textos selecionados deste jornaleco de 1985

HISTÓRIAS POUCO CLÍNICAS
...mas muito cínicas
O MELHOR DO UMA VEZ POR SEMANA
Textos seleccionados deste programa sexual de 1986

COISAS DO COISO
textos e bonecos seleccionados que sairam no Coiso em papel

CAUSAS DO COISO
Como tudo começou

DICIONÁRIO PORRINHA
COMENTÁRIOS AO COISO
E-MAIL
Vá... enviem-me um e-mail!
Zona Privada
Este é o Coiso do Artur Couto e Santos.
Se tiver algum comentário a fazer ao meu Coiso, carregue aqui:

arturcs@netcabo.pt