28. O Gin Tónico (1985)
Foi a pensar no Pedro e na Marta que adquirimos o Gin Tónico
– um cocker spaniel dourado, de orelhas a arrastar
pelo chão e com aquele olhar meigo que quase mais
nenhum cão tem.
O Gin chegou a casa no dia 7 de Agosto de 1985, escondido
debaixo do casaco da Mila, com dois meses de vida.
O Pedro e a Marta ficaram satisfeitíssimos, claro.
Um cão é um cão, interage muito mais
connosco do que um gato. É mais dependente. A Pantufa,
com a sua personalidade calma e equilibrada, não
se sentiu minimamente ameaçada. Adoptou o Gin tranquilamente.
Gin Tónico, com cerca de 8 anos e o seu ar indubitavelmente
inteligente.
Num instante, o Gin tornou-se o centro da nossa rotina.
A Marta levava-o à rua de manhã, eu à
tarde, o Pedro à noite. As férias e as viagens
tinham que ser planeadas em função do Gin.
É verdade o que se diz: o cão torna-se o dono
do homem.
O Gin veio para nossa casa para fazer companhia ao Pedro
e à Marta, mas acabou por tornar-se um dos meus grandes
amigos. E, para a Marta, acabou por se transformar assim
numa espécie de filho; a partir de certa altura,
passou a assumir as vacinas e a desparasitação
do Gin e fez questão que ele passasse a dormir no
seu quarto.
O meu cão ria-se. Acreditem porque é verdade.
Quando regressávamos a casa, abanava o coto da cauda
a uma velocidade alucinante e arreganhava os dentes num
sorriso inquestionável.
Ao longo dos anos, o Gin foi conquistando o seu lugar na
família. Não havia Gin sem nós. Não
havia nós sem o Gin.
O meu cão cresceu, desenvolveu-se e envelheceu connosco.
O seu ciclo de vida, naturalmente mais curto, deu para todos
constatarmos as várias fases de uma vida, embora
o meu cão, praticamente, só tenha tido duas
fases: a da loucura completa, sempre pronto para correr
e brincar e a velhice, em que as artroses lhe foram tolhendo
os movimentos, até já não conseguir
manter-se de pé nos quartos traseiros.
Tinha um amizade profunda pelo meu cão.
E só me apercebi da força dessa amizade, quando
o Gin morreu, no dia 23 de Outubro de 2000, com 15 anos.
Quando o deixei na veterinária, a fim de ter uma
morte mais digna, tranquei-me no carro e chorei a sério,
com lágrimas.
Desde a morte da minha mãe que não chorava
assim…
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