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O Coiso

Volta ao Mundo - 2003
com a Air Luxor - 15 a 31 de Março

Índia - Nova Delhi/ Agra



Terça, 18

18h 50 – Sobre Omã
Hora do Quénia – 15h 50 em Portugal – 21h 20 na India. Faltam 2 000km para a chegada, estamos sobre Omã, em pleno Golfo. Como estará o Saddam?

Quarta, 19
8h 00 – A caminho de Agra
Ontem, provámos um pouco do taste of India. No avião, preenchemos um impresso para entregar na alfândega, que era um verdadeiro monumento à burocracia. À chegada, a fila para mostrar os passaportes era interminável e o funcionário da fronteira era o típico funcionário indiano, com todo o tempo do mundo. Apesar de, em Nova Delhi, serem 1 da manhã, o tipo manuseava os passaportes como se fossem de cristal e estivessem em risco de se quebrarem se fizesse um movimento mais brusco. Depois, foi a confusão das malas e, cá fora, com 10 autocarros à nossa espera, era o grande caos indiano. Os turistas, carregados com as malas, uns com fitas amarelas, se iam para o Oberoy, outros com fitas vermelhas, se iam para o Taj Palace, caminhavam de autocarro em autocarro, em busca do lugar certo.
Finalmente, arrancámos, a caminho do Oberoy Hotel, onde chegámos perto das 2 da matina. No lobby, uma menina pintava-nos uma marca vermelha na testa e outra colocava-nos um colar de flores. O nosso quarto é o 218 e é de um luxo insultuoso, tendo em conta o país em que estamos. Sobre uma mesa, um bolo de aniversário para o Mr. Santos. Simpático. Falámos com o Pedro e com a Marta e tudo bem. Recebi mensagens de parabéns da malta toda. O Pedro mandou-me os parabéns em swaili: “heri ya siku kuu!” e em indi: “janana din ki shubk amnaaye in!”
Depois de um duche e de comer uma fatia de bolo, deitámo-nos já depois das 3 da manhã e às 7 já estávamos a ser acordados!


Eu, a Mila e o meu bolo de aniversário, no Oberoy Hotel, em Nova Delhi

Quinta, 20

0h 30 – A visita ao Taj Mahal
Mais um dia de loucos, como tem sido habitual e tenho muita coisa para contar.
A viagem para Agra (e regresso) é difícil de descrever. Agra fica a cerca de 200km de Nova Delhi e a estrada, no que respeita ao piso, até nem é má, mas demorámos mais de 4 horas. Quanto ao piso, disse-nos o guia, Avi-qualquer-coisa, que tinha sido construído pelos japoneses com cimento e barras de ferro, para aguentar as monções. E porque demorámos mais de 4h? Por várias razões: em primeiro lugar, a camioneta que nos levou, embora seja das melhorzinhas que andam nestas estradas, tem uns anos valentes e não anda depressa (e ainda bem...). No entanto, mesmo que conseguisse andar mais depressa, não podia porque o trânsito é caótico, todos ultrapassam todos, mudam de direcção, surgem vindos do nada; depois, há as vacas – pois, as vacas, afinal, são mesmo sagradas e passeiam-se pelas ruas, pachorrentas, ou deitam-se no meio de um cruzamento, ou estão simplesmente encostadas por aqui e por ali. As vacas fazem parte dos habitantes da Índia, tal como as pessoas, os búfalos, as bicicletas, os porcos, as motas, os riquechós aos milhares, as camionetas marca Tata, alegremente decoradas, carroças, mais pessoas, mais vacas...
Então, a coisa é mais ou menos assim: a Índia tem um bilião de habitantes: Nova Delhi, 14 milhões, Agra, “apenas” 4,5 milhões. Portanto, embora já tenhamos saído de Nova Delhi há muito tempo, continuamos a ver povo ao longo da estrada; a certa altura, o povo dá lugar a alguns campos cultivados (600 milhões de indianos dedicam-se à agricultura), mas logo recomeça o povo, muito antes de chegarmos a Agra.
E o que vimos nós todo este povo a fazer, à beira da estrada? Praticamente tudo o que se possa imaginar: barbeiros a fazer a barba, um tipo a tomar banho, dois ou três a evacuarem atrás de arbustos, muitos a comprar e a vender de tudo, outros simplesmente deitados no chão mas, sobretudo, o que o povo faz mais é deslocar-se em todas as direcções da estrada, de bicicleta, mota ou triciclo motorizado. E todos buzinam! É obrigatório buzinar! Os camiões, todos, têm nas traseiras, o seguinte pedido: “please horn!!” E se não se apita, é considerado falta de educação. Se houver um acidente (pergunto: como é que não há mais acidentes?!), o tipo que não apitou é o culpado. Apita-se para avisar que se vai ultrapassar, apita-se para dizer “vou aqui”, apita-se como saudação, apita-se e pronto! Fala o guia - para conduzir, na Índia, são necessárias três coisas: uma boa buzina, um bom travão e muita sorte.
Outra loucura: os cabos, eléctricos, telefónicos, de televisão e outros, são às dezenas, de poste em poste, ao longo da estrada. Na cidade, em cada esquina, saem puxadas para as ruas e ruelas, às centenas. Fala o guia – tudo funciona bem, o telefone, a electricidade, a televisão, a internet. Como? Por milagre!
E as casas? As tendas andrajosas, as barracas de madeira e chapa de zinco, os barracões de pedra, tugúrios todos virados para a estrada, com o povo lá dentro. O cheiro, nauseabundo; fossas, pântanos, bosta de vaca, esgotos a céu aberto, águas estagnadas, lixeiras e povo no meio de tudo isto, e vacas, claro e búfalos e porcos e um elefante vestido e macacos nos telhados e toda a gente a buzinar freneticamente, as paredes cheias de anúncios, Coca Cola por todo o lado, anúncios de filmes, de roupa sofisticada, comércio decadente com bosta à porta.
As 8h de viagem, ida e volta, para Agra, deu-nos uma ideia, pálida, acho eu, do que é a Índia e ficámos com vontade de regressar com mais tempo. Se Nova Delhi é assim, com 14 milhões de habitantes, como será Bombaim, que tem 22 milhões?
Chegados a Agra, fomos almoçar ao Jaypee Palace Hotel, com um luxo insultuoso. Recebidos novamente com colares de flores. Na casa de banho, um empregado descarregou-me o autoclismo, abriu-me a torneira para eu lavar as mãos e colocou-me uma toalha sobre as mãos, para que as limpasse. Por momentos, pensei que me fosse por a fazer chi-chi. Claro que era para a gorjeta, mas tanta subserviência dá que pensar. O almoço foi bom; a comida indiana (esta, pelo menos) está aprovada, não é muito picante e o pão é óptimo.
E fomos ver o Taj Mahal (pronunciar Tache Maguel). É, de facto, um mausoléu imponente, todo em mármore branco, com incrustações de pedras semi-preciosas (também tinha pedras preciosas mas os ingleses fizeram o favor de as levar para Inglaterra antes da independência da Índia...). Ao lado do monumento principal, quatro minaretes, ligeiramente inclinados para fora para, se houver um terramoto, não caírem para cima do mausoléu. Taj significa monumento, Mahal quer dizer coroa e, de facto, no topo, uma grande coroa encima o edifício. Em frente, os jardins e um tanque, cuja água reflecte todo o conjunto arquitectónico. Centenas de pessoas e nem todos eram turistas. Muitos indianos, elas com saris coloridos, vagueavam por ali. Fascinada com as cores dos saris, a Mila fartou-se de tirar fotos. Tal como em Marrocos e no Egipto, homens de mãos dadas. Às tantas, um tipo vem ter comigo e diz: “Excuse me sir, I would like to go out with you”. Respondi-lhe “no thanks” e fiquei siderado. Naquela altura, a Mila estava um pouco afastada, a tirar uma foto, e o gajo a querer engatar-me!


A Mila, em frente ao Taj Mahal

Cirandámos por ali, demos a volta toda ao Taj Mahal e era altura de regressarmos a Nova Delhi.
O guia percebeu, facilmente, que todos estávamos abismados com a confusão das ruas. Por isso, à saída de Agra, parou junto a um cruzamento, de modo a que pudéssemos admirar e registar a confusão instalada naquela zona: três vacas no meio do cruzamento, gente por todo o lado, pisando poças de lama, riquechós, centenas de triciclos, camionetas, bicicletas, vendedores de rua – indescritível.


A foto não consegue traduzir o que vimos mas, mesmo assim, dá uma ideia (as vacas estavam no meio daquela bagunça de triciclos).
Chegámos ao hotel perto das 21h, tomámos um duche e descemos para jantar, que foi precedido de um pequeno espectáculo de danças tradicionais.

Sexta, 21

17h 15 – Visita de Nova Delhi
Voltando ao espectáculo: dois indianos a tocar bongos e outra coisa qualquer que parecia uma sanfona e, sucessivamente, três meninas que rodopiavam fazendo aqueles gestos com as mãos, um menino efeminado que rodou muito sobre si próprio e bateu com os pés no chão muitas vezes e uma senhora com sete tijelas na cabeça, que dançou sobre espadas, copos e vidros partidos. Sem interesse.
Hoje, acordámos às 7h 30 (vá lá...) e às 8h 30 iniciámos a visita da cidade.
A visita da cidade resumiu-se a uma passagem pelas embaixadas, pelo Parlamento e pelo Senado, por avenidas largas, com rotundas cheias de flores, fontes e repuxos – nem parecia que estávamos no mesmo país que vimos ontem; uma curta paragem no túmulo de Mahatma Gandhi e passar lentamente por algumas ruas da parte velha da cidade.
Soube a pouco e ficámos com muita vontade de regressar à Índia, assim que a situação internacional acalmar.

A Índia em poucas palavras
Caos, mosquitos, gente, muita gente, ruas fervilhantes, convívio entre pessoas e vacas e búfalos, pântanos, buzinas permanentemente, saris coloridos, homens de mão dada, camionetas decoradas com cores garridas, destroços de casas à beira da estrada, cabos, milhares de cabos, de poste em poste, cruzamentos loucos, motas e bicicletas, riquechós e carroças, autocarros e triciclos motorizados, mais buzinas, subserviência, vendedores de rua correndo atrás de turistas, a brancura do Taj Mahal, esgotos a céu aberto, ruído, cheiro pestilento, caos, vontade cá voltar.

18h 00 – Nova Delhi-Sydney
Levantámos voo às 17h 45, com 80 mil litros de combustível (vamos gastar 70 mil), 215 toneladas de peso total (mais 15 toneladas do que em Lisboa), esperando-se um voo de 12h 20 para 10 450km, sobrevoando Myanamar, Tailândia, Indonésia e Malásia. Neste momento, 15 minutos depois de levantarmos voo, vamos a 900 km/h, a 9 800 metros de altitude e ouve-se um ruído esquisito, como se tivessem a rolar pedras de gelo sobre a fuselagem.
E, de facto, é gelo. Segundo nos explicou uma das hospedeiras, nos países quentes, o ar condicionado solidifica e, com a subida do avião, condensa ou talvez seja ao contrário. O que interessa é que não é nada de grave.
Acabei de preencher o papel para a alfândega da Austrália. À imagem dos americanos, sou convidado a responder a algumas perguntas tolas, como esta: “are you bringing into Australia animals, parts of animals and products in contact with animals?”
Parts of animals?! O quê – o pé de um macaco? O pâncreas de um lince?

A seguir: Austrália

 

Actualizado em: 3 Abril 2003
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