Air Luxor Round World Tour
A nossa Grande Viagem deste ano vai ser uma volta ao mundo,
organizada pela Air Luxor.
A Bela ofereceu-me, no Natal, uma espécie de diário,
em papel reciclado e decidi usá-lo como diário
durante a viagem. Aqui ficam as notas que fui escrevendo,
dia a dia...
Sábado, 15
17h 55 – No Airbus 330
Já estamos sentados nas cadeiras 20 K e H e já
arrumámos a tralha. Ouvi dizer que vêm 160
passageiros.
18h 30 – A descolagem
Descolámos às 18h 21. Foi suave e os meus
ouvidos foram destapando por etapas. Rodámos para
sul e estamos a sobrevoar o estuário do Sado. Serão
7h 55 de voo até Nairobi, 6 500 km. Neste momento,
vamos a 470 km/h, a uma altitude de 5 500 metros. O Comandante
chama-se Carlos Mirpuri. Tripulação: co-piloto
– André Caldeira; na cabina: Ruben Morais,
Ana Cordeiro, Pedro Rodrigo, Liliana Rodrigues, Patrícia
Godinho, Ana Fernandes, Carlos Santos, Paulo Rego e não
consegui apanhar os nomes dos restantes. Organizador: Paulo
Alves. Rota: Espanha, Argélia, Chade, Niger, República
Centro-Africana, Congo. O avião descolou com 54 toneladas
(sendo 43 de combustível); peso total – 200
toneladas. Informações prestadas pelo comandante.
Neste momento, (18h 40) altitude – 9 400m, velocidade
– 957 km/h; distância até Nairobi –
6 207 km.
20h 25 – Refeição a bordo
Estamos no ar há duas horas. Já vimos dois
documentários sobre vida selvagem e está a
passar agora um sobre desporto automóvel. Já
nos serviram os aperitivos: um gin tónico para mim
(what else?), uma coca cola para a Mila, amendoins e castanha
de caju. Na “mesa”, uma toalha branca, com as
palavras “Air Luxor” bordadas. Tudo a correr
bem, mas cheios de fome.
Com 3 horas de voo, chegou a refeição. Enfim,
é outra loiça: o prato é de porcelana
e o copo é de vidro, os talheres são de aço
inoxidável. Podia pegar na faca e desviar o avião
para Cuba. Acontece que o que eu quero mesmo é ir
para Nairobi. Portanto, decido não desviar o avião...
Começámos com uma entrada de salmão,
camarão e ananás, acompanhada de salada e
regada com um Douro tinto que não era mau. Até
o guardanapo é mesmo de pano! Seguiu-se um prato
quente: eu escolhi tornedó e a Mila insistiu no salmão.
Estava tudo óptimo. Agora, aguardamos a sobremesa
e o café, para descansarmos. Descansarmos de quê?...
Faltam 3 048 km para chegarmos a Nairobi.
Domingo, 16
2h 05 em Lisboa – 5h 05 em Nairobi
Começámos a descer, depois de um voo tranquilo
e que passou melhor do que pensávamos. Eu ainda consegui
dormir 2 horas, mas a Mila não pregou olho. Dentro
de 15 minutos, aterramos no primeiro continente desta viagem.
6h 15 – Na carrinha
Estamos junto ao aeroporto e os viajantes estão distribuídos
por dezenas de vans Nissan – seis em cada uma. A nós,
calhou-nos a nº14. O Pedro já comunicou: o Benfica
ganhou 4-1 à Académica. Viva o glorioso! O
dia começa a nascer. Aguardamos que alguns passageiros
tirem os respectivos vistos – nós trouxemos
os nossos de Portugal. Está uma manhã fresca,
mas adivinha-se o calor que o sol trará...
7h 30 – Pequeno-almoço no Stanley
Tomámos o pequeno almoço no Stanley Hotel,
em Nairobi e vamos partir, a caminho de Masai Mara, 4 horas
de viagem. O tempo está fresco e nublado. A cidade
começa a acordar. Letreiros, anúncios, tudo
em inglês. Mini-bus cheios de autóctones, a
alta velocidade, pela esquerda, à inglesa. Velhos
táxis britânicos, que já viram melhores
dias.
8h 30 – The Rift Valley
Paragem para vermos o Rift Valley, uma falha natural que
se estende da Líbia a Moçambique. Desce-se
uma escarpa e, à esquerda, estende-se um vale a perder
de vista. Meia dúzia de macacos que vêm saudar
os turistas e esperar por alguma dádiva. A Mila não
conseguiu dormir no avião e está perdida de
sono. Eu ainda consegui dormir cerca de duas horas no avião
e, apesar dos solavancos da todo-o-terreno, dormi esta última
hora.
À saída de Nairobi, quilómetros de
barracas miseráveis à beira da estrada, lixeiras,
um mercado inenarrável.
Comboios de camiões sobem e descem a escarpa (estamos
a mais de 2 mil metros de altitude). Neste miradouro, casinhotos
com tambores, escudos e peles e lanças. Avisaram-nos
que o preço é cerca de 20 vezes o que o produto
vale. Um negro a vender bananas. Uma negra a assentar as
matrículas das carrinhas, porquê?
13h 30 – Narok
Estamos parados in the middle of nowhere, numa localidade
chamada Narok, numa estação de serviço.
Acabámos de fazer 3 horas por uma estrada incrível,
com miragens de alcatrão no meio dos buracos e a
carrinha a fazer uma verdadeira gincana. Mesmo assim, eu
e a Mila ainda conseguimos dormir um pouco. Que miséria!
Que anacronismo! Espeluncas de madeira, a caírem,
com letreiros a dizer “hotel”, “bar”,
“business center”. Burros, cabras e respectivos
pastores. Vegetação escassa e uma terra árida.
Letreiros de Coca-cola por todo o lado. O calor já
aperta.
15h 00 – Mara Sopa Lodge
Estamos finalmente no bungalow nº3 do mara Sopa Lodge,
já almoçados. A última parte da viagem
ainda foi mais indescritível que o resto: passámos
de estrada de pouco alcatrão e muitos buracos, para
quilómetros de picada de pedras a saltarem e a embaterem
no chassis; depois de entrarmos no Parque da Reserva Natural
de Masai Mara, foram os piores 12 km, em terra muito mal
batida, passando por um riacho, vales e lombas, com uma
poeirada imensa.
O Sopa Lodge fica no sopé de um monte e é
formado por uma série de bungalows, tipo choupanas.
À chegada, um grupo de masais, altos e vestidos com
panos vermelhos e amarelos, dançavam e entoavam cânticos
(de boas vindas?) O almoço não estava mau.
Temos agora uma hora para descansar.
A Mila, à entrada do bungalow do Mara Sopa Lodge
20h 00 – Primeiro safari
Isto tem sido um non stop. Pouco depois das 16h partimos
para um safari fotográfico. O nosso motorista, Benny,
levou-nos por trilhos de savana, aos altos e baixos, por
meio de lado nenhum. Vimos girafas, uma leoa, famílias
de elefantes, ímpalas, gnous, búfalos, zebras,
passarocos e, aqui e ali, um masai, alto, imponente, de
lança na mão e vestido de vermelho. Andámos
mais de 3 h pelo meio da savana e chegámos todos
doridos, estoirados e convencidos que isto é muiot
bonito mas pode ficar assim, que a gente não se importa.
Como é que uma velhota com 83 anos, que faz parte
do grupo, consegue aguentar isto?
A mãe e o filho elefantes, ao fim da tarde, na
savana
Segunda, 17
14h 30 – Segundo safari
Ontem foi só deitarmo-nos para baixo e adormecemos
instantaneamente. Acordaram-nos hoje às 6 da matina.
Pequeno-almoço rápido e às 7h partíamos
para mais um safari. A Mila mais bem disposta, embora com
urticária.
Aprendemos algumas palavras em swahili, que é a língua
oficial do Quénia (para além do inglês):
akuna matata (tudo bem, sem problemas), sala malana (boa
noite), d’jambo (bom dia, saudação em
geral).
O nosso quarto é bom, com camas separadas, um mosquiteiro
a toda a volta das camas e uma enorme lareira; a casa de
banho tem sanita, lavatório e um grande chuveiro.
O bungalow onde estamos chama-se “elephant”
e fica numa das pontas do lodge, a cerca de 200 metros do
restaurante e recepção.
O safari de hoje foi muito bem sucedido: vimos dezenas de
leões, famílias inteiras, dezenas de hipopótamos,
a chafurdarem no rio Mara, dois elefantes gigantescos, girafas,
zebras, gazelas, ímpalas, avestruzes, secretários,
etc. Fomos até à fronteira com a Tanzânia,
onde parámos para fotos. Regressámos já
depois das 13h.
O safari processa-se assim: as carrinhas partem em fila
indiana mas, a partir de certo sítio, separam-se.
Os condutores vão comunicando por rádio e,
quando alguém topa algum animal, comunica aos restantes.
Por exemplo, está uma família de leões
ali, naqueles arbustos; de repente, começam a surgir
carrinhas de todos os lados, convergindo para aquele lugar;
a savana, que parecia deserta de humanos, fica cheia de
carrinhas Nissan, com turistas de cabeça de fora
do tejadilho, a filmar e fotografar.
O lodge tem mais empregados que o Ritz. À chegada,
colocaram as nossas malas em fila e, atrás, em pé,
outra fila, mas de empregados. Depois, cada um pegava numa
mala e levava-a até ao bungalow respectivo. Toma
lá um dólar. Ontem à tarde, estávamos
nós a tomar duche, entrou o Stanley no nosso quarto,
para abrir as camas. Toma lá 5 euro. À noite,
quando regressávamos do restaurante, um tipo com
uma lanterna disse “security” e acompanhou-nos
até ao quarto. Toma lá um dólar, como
se ele fosse capaz de nos salvar do ataque, sequer, de um
osga. As refeições não têm sido
más. Espanta-me como trazem eles os mantimentos aqui
para o lodge, por aqueles caminhos tão esburacados.
Como é possível dormir a bordo de um Nissan
todo-o-terreno, sacudida por abanões fortíssimos,
com pedras a embaterem constantemente no chassis? Eu, que
às vezes não consigo adormecer por causa do
tique-taque quase inaudível de um relógio
de pulso! Pois. Mas entre cada animal, enquanto o motorista
Benny conduz a carrinha para um lado e outro, à cata
de bichos, nós fechamos os olhinhos e adormecemos
instantaneamente. Holyday spirit é o que é!
Os masai só se alimentam de leite e sangue de vaca
e são magros; os hipopótamos só comem
ervas e são gordos. Paradoxal.
Há duas pessoas com colares cervicais na excursão.
Devem ficar bonitos com tanto solavanco!
Quando a carrinha pára junto a um animal e o Benny
desliga o motor, ouve-se bem o silêncio da savana,
apenas entrecortado pelo ruído das máquinas
fotográficas a disparar.
Aqui estou eu, com hipopótamos ao fundo...
Agora, perto das 15h, repousamos um pouco. Vamos partir
daqui a uma hora para visitar uma aldeia masai. Eu já
passei pelas brasas 20 minutos e a Mila dorme profundamente.
Em redor, o tal silêncio, nada perturbado pelo linguajar
de dois autóctones, que estão lá fora,
sentados, e por um outro som, talvez produzido por alguma
ave, tipo codorniz, embora pareça quase um coaxar.
De vez em quando, vem uma rabanada de vento, que faz abanar
as árvores. Mas é uma calma!...
Quando andamos pelos trilhos, a poeira que se levanta é
imensa e penetra em todo o lado. Quando nos assoamos, o
lenço fica castanho. O protector solar e o repelente
de insectos foram duas boas compras – até agora,
nem queimaduras solares, nem picadas de insecto.
E, do mundo, nada sabemos, aqui, onde não há
jornais, rádio, televisão ou telemóveis!
Até agora: cerca de 90 fotos em dia e meio!
18h 20 – A aldeia masai
Chegámos da nossa visita à aldeia masai, que
fica aqui perto do lodge.
Boas vindas pelas mulheres e, depois, pelos homens, com
cânticos e danças; vestidos e pintados a rigor,
com os tais panos vermelhos e amarelos, garridos, muitas
missangas, com os lóbulos das orelhas pendentes,
eles com toucados feitos com peles de leão, com lança
e massa, dando saltos e gritinhos – lembrámo-nos
de algumas canções do Paul Simon.
À entrada da aldeia, cada pessoa pagou 10 dólares.
Uma paliçada a toda a volta e, lá dentro,
casas feitas de paus e bosta de vaca, um enorme redil para
as vacas, as habituais criancinhas com moscas nos olhos
e no nariz. O guia português, um latagão chamado
Reno, falou um pouco sobre os usos e costumes dos masai,
vimos dois deles fazerem fogo com dois pauzinhos, visitámos
uma das suas casas e, no fim, fomos às compras, numa
espécie de mercado: missangas, panos, lanças,
massas, estatuetas e outros adornos. De tudo isto, os massai
só fazem as missangas; o resto, compram já
feito, para vender aos turistas. Disseram-nos que eles não
ligam ao dinheiro. Então e os 10 dólares para
a visita e o dinheiro que pagámos pelas recordações?
Bom, é para comprarem panos para se vestirem; deste
modo, escusam de vender vacas, o seu bem mais sagrado. Está
bem, eu acredito, akuna matata...
As mulheres masai dão as boas vindas aos visitantes
Foi uma visita interessante e os masai parecem muito simpáticos,
com uma cultura muito própria e tão longe
da nossa, que nem vale a pena tentar comparações.
Alguns exemplos: não vão à escola,
não trabalham, no sentido habitual do termo, alimentam-se
quase exclusivamente de leite e sangue de vaca, não
têm noção do desenrolar do tempo, pelo
que não sabem a idade; as mulheres encarregam-se
de tudo, menos das vacas e da guerra, e não têm
quaisquer direitos; os homens têm várias mulheres
mas também não se importam que elas durmam
com outros; as casas têm duas divisões, uma
para os humanos, outra para os bezerros.
23h 40 – Jantar na savana
Jantámos no meio da savana, à luz de petromax.
Mesas e cadeiras para cerca de 200 pessoas, com uma fogueira
no meio e duas grande tendas com um buffet. Em redor, rangers
armados, rondavam, para nos defenderem das feras (vimos
uma leoa ali bem perto). Lua cheia. Queimadas no horizonte.
Não víamos o que estávamos a comer,
mas foi diferente. Um queniano andava a cantar, por entre
as mesas, acompanhado à viola – cantou o “Ob-la-di
Ob-la-da”! Alguém disse que, em qualquer lado,
em qualquer momento, uma música dos Beatles está
ser tocada. Mais uma prova de que isto é verdade.
Quando regressámos, a Milocas antecipou o meu aniversário
e ofereceu-me um cronógrafo Longines Avigation! Maluca!
Terça, 18
14h 20 – Regresso a Nairobi – Almoço
no Carnivore - Tenho 50 anos!
No dia em que completei 50 anos, acordaram-me às
5 da matina!
Depois de pouco mais de 4h de sono, levantámo-nos
estremunhados e arrumámos tudo e corremos para o
pequeno-almoço. Um carregador levou-nos as malas.
Toma lá mais 2 dólares. Às 6 da matina
não apetece comer. Empurrámos um pouco de
pão com um café e ala para 200km de buracos
até Nairobi, com a condução exemplar
do Benny.
O trajecto pode dividir-se em três fases: a 1ª,
desde o lodge até Narok (cerca de 90km) é
tudo em terra batida mas, mesmo assim, o conceito de terra
batida, nesta zona, é muito amplo – às
vezes surgem verdadeiras crateras, altos e baixos, como
se tivesse passado por ali um rio caudaloso, pedras e pedregulhos
e, por duas ou três vezes, um charco. Por tudo isso,
o Benny e a sua Nissan passam a alta velocidade. Em Narok,
paramos para reabastecimento e chi-chi, em casas de banho
indescritíveis. A 2ª fase da viagem é
a mais longa e a mais dolorosa: o asfalto há muito
que deixou de o ser e a estrada é um puzzle de buracos
que, por vezes, são tantos e tão profundos,
que os veículos preferem passar pela berma; só
que, em alguns troços, a berma já está
tão esburacada que alguém fez outra berma,
ao lado da berma, e é por lá que os carros
passam. E o mais curioso é que, por vezes, o carro
que vai em direcção a Nairobi, pela esquerda,
escolhe a berma da direita, porque lhe parece melhor; nesse
momento, um outro carro, que vem de Nairobi, pela direita,
tem que ir para a berma da esquerda, para não chocar
com o anterior – o que quer dizer que, em alguns troços,
inverte-se o sentido do trânsito. Akuna matata! A
3ª fase do percurso, já perto de Nairobi, a
cerca de 60km, é de boa estrada, em termos de piso,
mas como é sempre a subir e os camiões, por
aqui, têm mais de 30 anos e levam o dobro da carga
que deviam transportar, assiste-se a um zigue-zague de ultrapassagens
loucas. Apesar de tudo isto, o Benny conseguiu fazer estes
200km, hoje, em cerca de 4 horas. Em Nairobi, o trânsito
é caótico, fazendo lembrar o Cairo, embora
com menos veículos.
Atravessámos uma via rápida, com duas faixas
para cada lado, em que os carros vão a alta velocidade,
com os peões a atravessarem em qualquer lado, vacas
a pastar nas bermas, lixeiras a arder, casebres à
beira da estrada, burros, bicicletas com rimas de cestos
e, de repente, uma rotunda, carros a surgirem de todas as
direcções e querendo avançar ao mesmo
tempo, autocarros pejados de pessoas, poluição
a rodos. Nos raros semáforos, bandos de negros tentam
vender calculadoras, pilhas, óculos escuros e outras
bugigangas. Espantosamente, quase não ouvimos buzinas,
ao contrário do que acontece no Cairo.
O meu almoço de aniversário foi no Carnivore,
um restaurante de rodízio, que nos despachou em 45
minutos, o que é obra, considerando que somos cerca
de 200 pessoas. Não se pode dizer que não
tenha sido um almoço de aniversário fora do
vulgar: para além de quase 200 convivas, tive o prazer
de experimentar carnes de crocodilo, ímpala, antílope
e zebra, para além das já conhecidas carnes
de avestruz, galinha, carneiro, vaca e porco. Não
gosto muito de rodízios e, deste, ainda menos. Por
um lado, porque estávamos pressionados para ir para
o aeroporto, por outro porque as carnes também não
eram nada de especial, a não ser a de avestruz e
de antílope, de que gostei.
Às 14h estávamos no aeroporto.
15h 20 – Nairobi-Nova Delhi
Levantámos voo, rumo a Nova Delhi. Serão 6h
30 de voo para cerca de 5 500km, passando pela Etiópia,
Somália, Yemen, Omã e Paquistão.
Neste momento, o avião vai a 875 km/h, a 11 300m
de altitude.
Já conseguimos comunicar com a malta lá de
casa. Em narok, enviei uma mensagem ao Pedro; eram 5 da
matina em Almada, mas ele respondeu-me, desejando-me os
parabéns. À hora do almoço (9h da manhã
em Portugal) falei com a Marta e com os Sousas; entretanto,
também a Marta já me tinha enviado uma mensagem
de parabéns. E confirmando-me a notícia que
já tinha ouvido: o Bush deu um prazo de 48h ao saddam
para abandonar o país, o que quer dizer que a guerra
deve começar em breve... e nós aqui, a dar
a volta ao mundo...
O Quénia em poucas palavras
Calor seco, buracos na estrada, gente andrajosa, o miúdo
masai com moscas nos olhos e no nariz, os animais selvagens
à solta, os dois elefantes a cumprimentarem-se, o
hipopótamo que saiu da água para cagar e espalhou
a porcaria com rotações da cauda, a elegância
das girafas, a preguiça dos leões, os masai
altos e magros, os seus panos vermelhos à beira da
estrada, esguios, como se alguém os tivesse ali colocado
para fazerem parte da paisagem, os trilhos na savana, as
queimadas, à noite, lá ao longe, a terra vermelha
da savana ao nascer do sol, os solavancos da Nissan todo-o-terreno
e a perícia do Benny a conduzi-la, a confusão
de Nairobi, as lixeiras a arder.
18h 50 – Sobre Omã
Hora do Quénia – 15h 50 em Portugal –
21h 20 na India. Faltam 2 000km para a chegada, estamos
sobre Omã, em pleno Golfo. Como estará o Saddam?
A seguir: India
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