E cheguei ao fim da metade deste projecto colossal do norueguês Knausgard, com o título global, mais ou menos provocador, de A Minha Luta.
Depois de A Morte do Pai , o meu preferido até agora, e de Um Homem Apaixonado, este A Ilha da Infância custou-me um pouco a acabar.
Claro que são interessantes as descrições das aulas de natação, das idas í escola, das brincadeiras de um grupo de miúdos que teve o privilégio de viver uma infância ao ar livre, sempre de bicicleta de um lado para outro; no entanto, este terceiro volume da obra de Knausgard não tem nenhuma daquelas incursões teóricas e/ou filosóficas sobre a escrita, a pintura, a arte em geral, ou sobre as virtudes e os defeitos da espécie humana.
São 400 páginas de brincadeiras, alegrias e desilusões de um miúdo, muitas delas dedicadas ao seu ódio de estimação: o pai austero, sempre pronto a humilhá-lo e a castigá-lo; percebe-se agora bem o ódio que Knausgard destila pelo pai no primeiro volume.
Uma coisa me deixa um pouco perplexo: a infância de Kanusgard pode ter sido recheada de brincadeiras, mas raramente há um gesto de afecto; do pai, nem pensar, mas também a mãe me parece muito fria e ausente e a relação com o irmão mais velho é isenta da cumplicidade que quase sempre existe entre irmãos.
Na página 241, Knausgard resume bem a influência do pai:
«A minha mãe salvou-me, porque, se não estivesse estado presente, eu teria crescido somente com o meu pai e, nesse caso, ter-me-ia suicidado, mais tarde ou mais cedo, de uma maneira ou de outra.»
Noutra altura, Knausgard conta como tudo naquela família obedecia a rotinas e rituais, nomeadamente, comer-se uma maçã a meio da tarde. Certo dia, o pobre do Karl Ove terá comido duas, pensando que o pai não desse por isso; pois no dia seguinte, o pai obrigou-o a comer várias maçãs, uma atrás da outra, até ele quase vomitar, para lhe provar que uma maçã por dia era o número certo!
Aguardemos pelo quarto volume.