“Estão a dar telemóveis?” – ridícula campanha eleitoral

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, as arruadas, os comícios, os desfiles, tudo isso fazia sentido. Estávamos a experimentar a democracia. Depois de quase 50 anos de bico calado, era natural que as massas se quisessem exprimir publicamente, gritando palavras de ordem e agitando bandeiras.

As campanhas eleitorais dos primeiros anos de democracia foram mais uma novidade que o 25 de Abril proporcionou, bem como os tempos de antena e os debates televisivos.

Mas agora, na era dos smartphones, as campanhas eleitorais são cada vez mais ridículas.

A actual campanha para as eleições europeias é bem disso um exemplo. Ver os candidatos a fazer exactamente aquilo que faziam os seus antecessores há 40 anos, visitando os mercados, beijando as peixeiras, empanzinando-se em almoçaradas, descendo a Rua de Santa Catarina ou a Rua do Carmo, com bandeirinhas e cartazes, acompanhados de bombos e cornetas ou de jovens histéricos aos saltos e vivas, tudo isso é ridículo!

Os telejornais mostram imagens das acções de campanha e não posso deixar de pensar que os políticos, cada vez mais desprezados, se dão ainda mais ao desprezo.

O Rangel, com aquela barba mal semeada, o Marques, que nasceu sem lábios, a Marisa, com as suas costas largas, o João Ferreira, de barba aparada, o Melo que não corta o cabelo, já não convencem ninguém.

Mas há agora uns Partidos novos.

São novos, mas usam estratégias velhas.

Vi ontem uma acção de rua de um Partido de um tal Morais, um daqueles que diz que está acima de toda a corrupção do Estado, que se fosse ele, iam todos presos, porque ele é o homem mais honesto ao cimo da Terra. O Partido chama-se Nós Cidadãos. E vi meia dúzia de apaniguados, brandindo bandeiras amarelas, com a palavra “Ní“S”, em letras garrafais, e a palavra “cidadãos”, em caixa mais baixa.

O grupo passeava-se pelas ruas do Porto e um grupo de idosas acercou-se da comitiva. Uma delas perguntou: “estão a dar telemóveis?”, pensando que se tratava de uma acção de propaganda da operadora de telecomunicações NOS.

Dizia outra velhinha: “Ele quer ir para a NOS? Eu dou-lhe o meu voto!”

Ditosa pátria que tais filhos tem…

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