Fechem esta merda!

Foram duas semanas de arromba!

Nasceu o meu neto Tiago, completei 54 anos de vida e trabalhei que nem um cão, incluindo fins-de-semana.

í€ noite, mal tinha energia para desfolhar o jornal e, quando o fazia, ficava sempre ligeiramente nauseado.

Este país é mesmo uma choldra, como dizia o outro.

Agora, parece que um tipo qualquer de Alcobaça, tem usado o seu blog para levantar suspeitas sobre a licenciatura de Sócrates, em engenharia civil, na Universidade Independente.

Parece que o primeiro-ministro não terá feito as cadeiras todas, arranjou umas equivalências manhosas e terá acabado o curso sem frequentar as aulas. Se o fez, não é o único. Eu, por exemplo, licenciei-me em Medicina, em 1977, sem nunca ter postos os pés numa aula de Ortopedia e, em 74/75, tive passagem administrativa a várias cadeiras.

Enfim… o jornal Público embarcou nesta treta e vá de fazer uma “investigação”, enchendo duas páginas com datas e declarações e troca de mensagens, numa tentativa de esclarecer a verdade: será que Sócrates é mesmo engenheiro?

Disto depende o futuro da Pátria.

O PSD, em vez de ficar caladinho, vem a público exigir que o gabinete do primeiro-ministro explique tudo. Porquê? Se Sócrates não for engenheiro, o que acontece? É por Sócrates ser (ou não ser) engenheiro que deixa de ser (ou passa a ser) um grande primeiro-ministro?

Há cerca de dois anos, correu o boato que Sócrates era homossexual – agora, querem provar que o homem nem engenheiro é.

Quer dizer: já que não és paneleiro, prova lá que és engenheiro?

Ridículo!

Coincidência, ou talvez não, esta polémica surge numa altura em que a Universidade Independente parece um país africano, tipo República Democrática do Congo, sempre com golpes de Estado.

O reitor Luís Arouca destituiu o vice-reitor, Verde (é o nome dele). Uma semana depois, Verde mune-se de uma decisão do Tribunal do Comércio e expulsa Arouca, reassumindo o seu lugar. Dois dias depois, a PJ prende Verde e Arouca volta a ser reitor outra vez.

Tal como aconteceu com a Universidade Moderna, fala-se de tráficos vários, fugas de capitais e outras malfeitorias, todas relacionadas com a Universidade Independente.

Está visto para que servem as Universidades em Portugal…

Golpes de Estado acontecem, também, todos os dias no CDS-PP (Clube Dos Servos de Paulo Portas).

Fizeram um Conselho Nacional e parece que andaram í  porrada, terão chamado filha da puta í  Maria José Nogueira Pinto e houve até um deputado que parece que a agrediu, embora ele negue e diga que ela só o acusou porque ele é preto.

Lindo partido…

Imaginem o que seria se, em vez de partido, o CDS fosse inteiro!

Entretanto, a DECO (organização que tem nome de jogador de futebol), realizou um estudo extraordinário, que fez as delícias dos jornais: arregimentou um grupo de colaboradores, que fizeram de conta que estavam doentes; foram ao médico queixar-se de dores de garganta e mais de metade dos médicos receitou-lhes antibiótico.

Vejam bem a incompetência destes doutores da mula russa: receitam antibióticos a torto e a direito, mesmo a quem não precisa deles!

Ora bem, nunca fui corporativo. Claro que há médicos incompetentes, como há canalizadores, engenheiros, calceteiros, jornalistas e colaboradores da DECO que não sabem o que fazem. Mas este estudo é revelador da mediocridade que impera nesta choldra – mediocridade amplificada pela comunicação social.

Então, a DECO enviou colaboradores, “em perfeito estado de saúde”, preparados para enganar os médicos, dizendo-lhes que sofriam de dores de garganta. Foram a 67 médicos (58 consultórios privados e 9 centros de saúde) e 37 destes médicos receitaram antibióticos aos falsos doentes, embora seis destes 37 médicos tivessem passado o antibiótico em receita í  parte, dizendo que era só para aviar se as queixas piorassem.

Que validade terá um estudo como este? Falsos doentes merecem falsos médicos!

Se um doente vem í  minha consulta dizer que passou o dia a fazer diarreia, devo-lhe prescrever um anti-diarreico ou pedir para ele cagar í  minha frente, para eu confirmar que é diarreia?

Claro que não é exactamente o mesmo, mas, da próxima vez que me deparar com um doente a dizer que lhe dói a garganta, vou ter mais cuidado. Observo a garganta do pretenso doente (não vá ele ser um colaborador da DECO) e peço-lhe um exsudado orofaríngeo. Cerca de 6 dias depois, quando tiver o resultado da análise, logo lhe prescrevo, ou não, o antibiótico. Se ele, entretanto, tiver uma escarlatina, que se queixe í  DECO!

Perante estes exemplos, um gajo fica cada vez mais desiludido com o país em que vive, caramba!

Depois, assiste-se a manifestações contra o fecho das maternidades, dos serviços de urgência, das esquadras da polícia e da gnr, dos tribunais e, agora, também dos consulados.

E um tipo pergunta: por que raio não se fecha esta merda deste país?

9 thoughts on “Fechem esta merda!

  1. Embora leia o seu blog com assiduidade, como apreciador militante do seu sentido de humor, é a primeira vez que deixo aqui um comentário. Será quase de certeza também a última, porque sou pouco dado a maçar os autores dos blogs com a minha conversa. Apenas duas observações. Primeiro: não se diz «desfolhar o jornal», mas sim «folhear o jornal» – ainda que, pelo que afirma a seguir, eu compreenda que lhe apeteça realmente desfolhar o jornal. Talvez até o tenha feito, e, nesse caso, estarei a ser injusto. Segunda observação: ri-me com aquela do «paneleiro» e do «engenheiro», mas não concordo consigo no que respeita í  suposta irrelevância das investigações sobre o currículo do Sr. Sócrates. Não se trata, como certamente percebeu, de saber se o homem é ou não engenheiro. Trata-se, isso sim, de constatar que Sócrates andou durante algum tempo a mentir (ou deverei dizer «retocar»?) em relação ao seu currículo académico, mentira que, dada a sua aparente inconsequência, poderá ser apenas ridícula, mas que é reveladora de um carácter. Estamos a falar de um homem que tem zurzido, do alto de uma imensa arrogância, classes profissionais onde não faltam trabalhadores competentes que se sentem injustiçados pelas generalizações abusivas em que se vêem envolvidos. Estamos a falar de um homem que faz desse discurso a fonte de legitimação pública para a alteração (quase sempre no sentido de uma degradação) do estatuto dessas classes. Ora, o mínimo que se pode exigir a esse senhor é que a folha de serviços com que ele se apresenta ao público esteja, pelo menos, í  altura do moralismo com que ele ataca esses profissionais. Portanto, o facto de se descobrir que a forma como o dito senhor parece ter obtido os seus graus académicos está repleta de tortuosidades não é, creio eu, politicamente irrelevante. Há outros assuntos políticos muitíssimo mais decisivos? Com que certeza que há. Mas isso não retira legitimidade e interesse í  investigação que está a ser feita e í  necessidade de confrontar Sócrates com as suas contradições.

  2. Obrigado pela correcção: tem toda a razão – folhear e não “desfolhar”. É aqueles erros coloquiais. Penso estar perdoado. Quanto ao resto do seu comentário: claro que, se o Sócrates retocou o seu currículo, merece ser zurzido. Mas não virá grande mal ao mundo; como político profissional que é, só me admiraria se ele não tivesse, de facto, retocado o currículo. Agora, o que me deixa uma pulga atrás da orelha, é o facto deste assunto vir í  tona, no momento em que a Univ. Independente está completamente bagunçada.
    Apenas coincidência? Em política, o que parece, costuma ser…
    E continue a comentar… e a corrigir-me, sempre que eu deixar fugir o pé para o chinelo…

  3. Caro Artur…

    Não se consegue “fechar as portas” ao estabelecimento Portugal porque ele funciona ao ritmo da clientela. O português no geral é mesmo assim, como o país está neste momento. É desenrascado, mentiroso, aldrabão e se poder lixar o vizinho para ter mais um grão de milho, isso não o incomoda minimamente.

    Os que não se identificam com o sistema, fazem uma de duas coisas, vêm trabalhar para o estrangeiro e passam férias de vez em quando em Portugal, ou fazem como você e protestam contra aquilo que todos vêem.

    Outro mal do português no geral: acomoda-se. O governo faz “trinta por uma linha”, lixa o contribuinte, aumenta tudo e mais alguma coisa, arruinando o poder de compra a toda a gente e o Português queixa-se para a câmara da SIC, mas não protesta com força nem em uníssono.

    Não sou a favor de violência, claro, mas acho que um povo deve saber tomar o pulso aos governante que elege e manifestar-se. O português sujeita-se a passar horas a ser gozado literalmente numa repartição pública e não reclama! Ainda baixa a bolinha e vai para casa de rabo entre as pernas.

    Quando as mentalidades e o nível de instrução se elevarem e, consequentemente, o nível de exigência também, aí talvez já não seja preciso mandar fechar as portas!

    Desculpe o testamento…

    Saudações Parisienses

  4. Artur, brilhante como sempre!
    Só uma achega: no nosso tempo de liceu, qd um tipo era demasiado burro ou cábula para conseguir tirar o 7º ano (agora seria o 11º ou 12º) ia para a Escola Agrícola, onde ficava “regente agrícola”. Com o 25 de Abril, esses, bem como todos os outros cursos técnicos intermédios do Instituto Industrial, etc. ficaram a chamar-se “engenheiros”. Poruqe é que o Sócrates não tem direito, hem?
    Numa terra em que é tudo doutor (desde que tenha fato e gravata, e/ou dinheiro), e em que um sargento, expulso da tropa por roubo, é chamado “major” 20 anos depois, o 1º ministro pode mesmo escolher um grau académico í  sua vontade! Comendador, arquitecto, qq coisa, a malta até agradece, senão tínhamos de dizer o Sr. Sócrates, que é o nome próprio, tipo Sr. Zé. Era chato !
    Um abraço de parabéns pelo neto, meu velho!
    Entretanto, não esquecer almoço de curso (30 anos!) dia 19 de Maio no rest da Ordem.

  5. Não se podem fechar as portas!!!!

    A jangada já se afundou!!!

    Depois de afundar as portas (e os também) não servem para nada!!

    Grande abraço!

  6. Torrinha: lá estaremos no almoço dos 30 anos de curso (eu e a Mila). E, finalmente, poderei rever este famoso Torrinha, de cujo rosto não me recordo (esta minha memória está cada vez mais alzheimariada!…)

  7. Concordo e subscrevo tudo o que diz o Senhor Mário Artur.
    Se é verdade, e se se confirmar tudo o que tem vindo a lume através dos meios de Comunicação Social, é caso para se dizer que de facto, Este Pobre País Bateu Mesmo no Fundo. O Primeiro Ministro a quem, segundo se diz, foi recusada a inscrição na Ordem dos Engenheiros, andou durante anos e anos a permitir que o tratassem por Engenheiro sem fazer qualquer reparo, nem sequer tentar esclarecer que não era, que não tinha acabado a Licenciatura e que não estava inscrito na Ordem….não é grave, é Muito Grave Ética e Moralmente. E ainda mais por ser Primeiro Ministro… a não ser que tenha chegado ao Cargo que ocupa como forma de o punir por esta sua conduta durante estes anos todos.
    POBRE PORTUGAL !

  8. Dassssssssssssss !!
    O que têm contra os Regentes Agrícolas?
    Porque se incomodam que nos chamem engº’s tecnicos agrários ?
    É um título como qualquer outro !
    Eu ficava fulo, era se me com chamassem Socrates, Portas (não o do BE), Santana, Durão, etc.etc, ou outros adjectivos que se coadunam com esta malta.

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