A soberba de Catarina Carvalho

Não tenho atitudes corporativas.

Claro que há médicos incompetentes, assim como canalizadores, talhantes, jornalistas.

Não costumo comentar assuntos médicos no Coiso – já o disse várias vezes. Sinto-me demasiado envolvido.

Mas a sub-directora do Diário de Notícias, Catarina Carvalho, não me deixa alternativa.

Na sua coluna semanal, a senhora subdirectora conta a sua ida ao Centro de Saúde de Benfica.

Começa por dizer que ficou muito bem impressionada, que pagou apenas dois euros e 25 cêntimos e nem imagina quanto custará, ao Estado, uma consulta médica.

E acrescenta esta frase formidável:

“Esta minha incursão pelo SNS teve bons motivos: tinham-me a dizer que eu já tinha médica de família”.

Para além do uso do verbo “ter” duas vezes na mesma frase, acho curioso a Sra. Subdirectora usar o termo “incursão” para se referir a uma ida ao Centro de Saúde, como se fosse assim uma espécie de aventura, um safari, por exemplo. Será que ela ignora que há pessoas que vão ao Centro de Saúde desde que nascem?

Mas enfim… de que é que a Sra. Subdirectora não gostou?

Do atraso da médica. Diz a jornalista:

“Um atraso í  portuguesa, 5, 10 minutos, aguenta-se sem bufar. 40, já doi.”

A Subdirectora do Diário de Notícias, portanto, bufa…

Adiante…

“Então ela chegou. E não me pediu desculpa. Não arranjou um alibi que explicasse o atraso. Acabei por não dizer nada. Fui cobarde, mas qualquer paciente sabe que está numa posição de inferioridade. Esperei para ver como seria a consulta. Nem sequer me auscultou.”

Aqui, passei-me! Conhecem a anedota do J. Cristo que vem í  Terra mascarado de médico de família? Pois ele até faz com que um paralítico saia do consultório a andar, mas o paralítico exclama: “Este médico é a merda de sempre! Nem sequer me mediu a tensão!”

A Sra. Subdirectora queria ser auscultada e a médica não lhe fez a vontade! Claro que a médica não tem desculpa para ter chegado atrasada. Devia ser chicoteada em público, no mínimo e deviam ensinar-lhe que uma consulta médica inclui, sempre, uma auscultação!

E Catarina Caravalho não quereria, também, palpação abdominal, observação ginecológica, exame neurológico sumário, palpação mamária, observação da orofaringe, sinais meníngeos? Saberá ela o que deve e não deve ser feito em determinada consulta médica?

Continuando:

“Disse que estava saudável e mediu-me a tensão. Deve ter acabado aqui a minha relação com o SNS. Não por causa dele, coitado, mas por causa dos que não o servem em condições profissionais que me satisfaçam”.

Isto é soberba em estado puro!

Por causa de uma médica que chega atrasada e que não a ausculta, a subdirectora do Diário de Notícias deixa de ir ao Serviço Nacional de Saúde!

É como se eu deixasse de comprar o Diário de Notícias, só porque ele tem uma subdirectora tão obtusa!

9 thoughts on “A soberba de Catarina Carvalho

  1. Bom, já que o assunto veio a terreiro, e devo dizer que concordo plenamente com a observação inicial sobre corporativismo, tenho que dizer que o comentário da Sra sub-directora acerca da negligência no cumprimento de horários é uma atitude que me põe os cabelos em pé.
    Eu tenho, infelizmente, uma experiência de frequência dos Centros de Saúde que poderei aferir como mensal, isto porque padeço de uma doença crónica.
    Pois bem, nas vezes em que tenho consulta no Centro de Saúde, e a consulta é a meio da tarde, o meu médico de família recebe-me sempre com um atraso, normalmente entre meia- hora a uma hora.
    Em nenhuma circunstância se referiu a esse facto, ou aos incómodos que isso me possa ter provocado, porém, uma vez em que cheguei atrasado 10 minutos, fez-me sentir que me estava fazer um favor em manter a consulta.
    Apesar de descontar ininterruptamente para a previdência desde 1971, consulto médicos especialistas, particularmente, como muitos dos portugueses que têm essa possibilidade. Para o efeito tenho até um seguro de saúde.
    Por vezes consulto mesmo o meu médico de família no seu consultório particular, quando a urgência não se compadece com marcações para semana seguinte, ou para a outra.
    Eu compreendo que o seu comentário sob a incursão da Sra. subdirectora no país real, visava mostrar a ignorância e a leviandade que alguns fazedores de opinião exibem, despudoradamente, porém, ela referiu um problema que, penso, precisa de ser discutido, a falta de profissionalismo, por vezes o paternalismo, que muitos membros da classe médica teimam em conservar perante os cidadãos.

    1. Estou de acordo com as suas observações. Mas sabe que o médico e o padre são figuras cuja influência na nossa sociedade sempre foram muito sobrevalorizadas. Mas penso que, apesar de tudo, as coisas têm estado a melhorar, embora o contributo dos cidadãos também seja importante.
      Agora, sentenciar o SNS pelo comportamento de uma única médica é que me parece uma generalização abusiva, que não devia ser feita por uma fazedora de opinão. Por coincidência, ainda ontem estive num hospital particular, í  espera de uma consulta de especialidade marcada para as 10 horas e eram 11h20 quando desisti, sem sequer ter sido consultado. Portanto, o atraso de alguns médicos parece ser algo de atávico – ou será fruto de outras circunstâncias? Por exemplo: a inexistência de separação entre público e privado; a escassez de médicos tem servido de desculpa para não separar as águas; se calhar, o seu médico atrasa-se porque trabalha em diversos sítios e os horários sobrepõem-se. Mas pode haver outras razões; por exemplo: eu, que trabalho em exclusividade para o SNS e marco consultas com intervalos de 15 minutos e chego ao Centro de Saúde í s 7h 45, sou capaz de consultar 10 abcessos dentários numa hora – mas apenas 3 diabéticos no mesmo período de tempo. E não vou, certamente, auscultar um doente com abcesso dentário…

  2. Onde trabalho, as consultas são marcadas de 15/15 minutos e não é raro o dia em que todos os utentes estão í s 9, mesmo os que têm a consulta das 12:15. Acho que o médico estar í s 9 no local de trabalho, mas isso não garante que a consulta das 11 comece realmente í quela hora, dado que uma pode demorar os 15 minutos e outra pode necessitar de uma hora para se realizar.
    Gostaria de dizer í  essa Sr.ª que mesmo no privado os médicos se atrasam, mas MF é que são a desgraça do sistema de saúde.
    Ela que pague 100€ numa consulta generalista num H. da Luz que ficará melhor atendida, ou talvez não.

  3. a mim parece-me muito fácil…se o médico se atrasar, algumas chibatadas resolveriam o problema, pois penso que foram poucas as “nálgadas” que devem ter levado em crianças. Se cumprirem os horários…hum! Não fazem mais do que a sua obrigação. Relativamente aos dois ou três empregos, eu também trabalho em 3 sítios diferentes e não chego atrasado a nenhum deles, sabem porquê… porque nesse caso não me pagam.

  4. LOL sra. directora…Tenha vergonha por se axar a miss perfeição…Para si todos têm defeitos, nada está bem neste país nem á sua maneira. Vá para fora daqui, era um favor que nos fazia.

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