Ora aqui está um calhamaço que excedeu as minhas expectativas.
Miguel Carvalho, jornalista e repórter da Visão, escreveu uma longa reportagem sobre Amália Rodrigues e o modo como ela se relacionou com a Ditadura e, depois, com a Revolução.
Amália Rodrigues atingiu o topo graças ao regime fascista? Pelo contrário, Amália subiu por mérito próprio e, í s escondidas, apoiava as famílias dos antifascistas presos pela ditadura? Após o 25 de Abril, a sua demonização pela esquerda foi injusta?
Isto podia ser um assunto a provocar bocejos, mas Miguel Carvalho torna-o interessante, vivo, graças a um trabalho ciclópico de pesquisa, com recolha de entrevistas publicadas em inúmeros jornais e revistas, para além de outras fontes (programas de rádio e televisão, por exemplo).
A lista de entrevistados pelo autor (da qual eu, orgulhosamente, faço parte) inclui mais de 90 nomes.
O índice onomástico, ocupa 27 páginas, incluindo nomes que eu conheci muito bem, como ílvaro Belo Marques, Raul Solnado, Júlio Isidro, Fialho Gouveia, etc.
A bibliografia consultada ultrapassa as 15 páginas.
Estes números servem apenas para mostrar o trabalho hercúleo que Miguel Carvalho desenvolveu para escrever este livro.
A minha modesta contribuição, relacionada com a rubrica Os Intocáveis, está na página 257.
Na página 456, está uma frase excelente de Zeca Afonso: “Não se mata um governante em Portugal, há 75 anos”. E eu actualizo: há 120 anos que não se mata um governante em Portugal!..
Claro que o livro de Miguel Carvalho é sobre Amália, mas, no fundo, é um retrato de Portugal, desde os anos 40, até aos nossos dias.
Recomendo e aconselho.