Vá para dentro, cá fora

O ministro da Economia, Anibal Cavaco Silva, incitou os portugueses a ficarem por cá, nas férias: «neste tempo difícil que atravessamos, os portugueses devem fazer turismo no seu próprio país, pois é uma ajuda preciosa para ultrapassar a situação difícil em que o país se encontra», disse.

A estas declarações, reagiu o ministro da economia, Vieira da Silva, dizendo: «eu só espero que outros chefes de Estado de outros países não façam o mesmo apelo, porque se não perdemos uma fonte importante de divisas em Portugal.»

Perante isto, o ministro da Economia Cavaco Silva, retorquiu: «férias passadas no estrangeiro são importações e aumentam a dívida externa portuguesa. Sei muito bem daquilo que falo, porque conheço os números».

Toma!

E não: os dois ministros da Economia não estavam a discutir, na mesma sala. O primeiro Silva estava em Albufeira, Algarve, e o segundo Silva estava em Xangai, China.

O diálogo foi possível graças í  calhandrice dos jornalistas, este constante leva-e-traz que consiste, por exemplo, em perguntar a um ministro qualquer qual é a opinião dele sobre, digamos, a eutanásia e, depois, ir a correr ter com outro ministro qualquer e bufar a opinião do primeiro, para ouvir a reacção do segundo; com sorte, a reacção do segundo ministro pode dar azo a uma declaração engraçada e, depois, é só voltar ao primeiro ministro e atirar-lhe com a afirmação do segundo ministro. E está lançada mais uma confusãozinha, que já dá para encher mais alguns minutos do telejornal.

Mas voltando aos ministros Silva: se eu fosse pela opinião do ministro da Economia, Cavaco, no próximo sábado, em vez de ir gastar euros para o Báltico, ficava a gastá-los em Almada. Mas também é verdade que, se todos seguissem esse exemplo, deixaríamos de ter estrangeiros a deixar cá os euros deles.

Juro que estou confuso.

Como é possível? Temos dois ministros da Economia e, mesmo assim, estamos em crise!