O Coiso – há 19 anos na net

O Coiso nasceu, em papel, nas oficinas do jornal República, em Maio de 1975 e durou 12 semanas. O director era o Ruy Lemus e, como colaboradores, tinha, entre outros, o Mário-Henrique Leiria, o Belo Marques, o Carlos Barradas, o José António Pinheiro e eu próprio.

Era um jornal humorístico, carregado de non-sense e que, embora abordasse, aqui e ali, a realidade política explosiva do momento, era, sobretudo, um veículo do humor “puro”, despegado, diria “surrealista”, ou não tivesse a grande influência do Mário-Henrique.

O chamado verão quente de 1975, com a invasão e posterior desaparecimento do República, ditou o fim de O Coiso.

Em novembro de 1999, decidi fazê-lo renascer, desta vez na net, e alimentei-o regularmente durante todos estes anos, embora, ultimamente, o tenha deixado um pouco ao abandono.

Penso que ainda é possível encontrar textos publicados no Coiso nos anos 1999 e seguintes, mas só consigo aceder, sistematicamente, a textos publicados a partir de 2003, aqui, no Velho Coiso.

E por que razão, nos últimos tempos, tenho deixado o Coiso ao abandono, publicando quase nada?

Ora, porque a realidade tem muito mais graça.

Que dizer, por exemplo, de termos um ex-primeiro-ministro que está acusado de receber subornos e de viver í  grande e í  francesa, graças a uns encostos que um amigo recebia em seu nome, sobretudo vindos de um banqueiro que conseguiu destruir o seu próprio Banco?

Que dizer de um membro destacado do PSD que está acusado de ter ido ao Brasil matar uma senhora idosa, só para lhe ficar com a herança?

E de um outro membro do PSD, que até fez parte do governo, e que está condenado a 14 anos de cadeia por ter destruído outro Banco?

E de ainda outro membro do PSD, ex-primeiro-ministro, que decidiu fundar um novo partido e que pretende, assim de repente, ter 30 deputados?

E que dizer – só para terminar, para não ser fastidioso – que dizer das armas que desapareceram de Tancos e que, depois, reapareceram, mas não todas, na Chamusca, fenómeno que está a provocar grande celeuma, não propriamente por causa do roubo, mas mais por causa do reaparecimento das armas?

Com tanto material surrealista para nos rirmos, nem me apetece escrever mais nada!

Portugal dos Pequenitos # 2

O capítulo desta noite começa num gabinete do Ministério Público, onde um funcionário está a arquivar o inquérito contra o ministro Centeno.

Outro funcionário entra na sala e tenta impedir o colega.

“Não arquives isso já… espera pelo fim da Operação Lex… Se o Vieira for condenado, pode ser que a gente ainda aproveite isso…”

A cena passa para outra sala do Ministério Público, onde um juiz está í s voltas com os documentos da Operação Atlântico. í€ porta, assoma uma colega carregada de dossiers.

“Onde vais com esse peso? Olha a tua coluna, rapariga!” – diz o juiz.

“É parte da Operação Fizz” – responde a juíza, e continua o seu caminho.

Na cena seguinte vemos Rangel a aparar a barba e a falar sozinho, enquanto se olha ao espelho.

Por trás, surge a ainda-mas-quase-ex-mulher, Fátima, que o manda calar:

“Olha que isso que estás a dizer aparece amanhã no Correio da Manhã!” – exclama ela.

Rangel olha em volta, como se estivesse í  procura de microfones. Depois, encolhe os ombros e diz: “deixa estar, eles prendem o Sócrates e deixam de nos chatear…”

A cena final do capítulo de hoje é no Palácio de Belém.

Marcelo está triste e murmura:

“Não sei a quem hei de dar beijinhos este fim de semana!”.

  • Não perca os próximo capítulos…

Portugal dos Pequenitos #1

Resumo do episódio desta semana:

Rui Rio anda í  procura de casa em Lisboa, desde que foi eleito líder do PSD; enquanto não encontra, está hospedado numa hotel de 3 estrelas.

Hugo Soares, líder do grupo parlamentar do PSD, decide ir ter com Rio e coloca o seu lugar í  disposição.

Rio declina e diz que quer continuar a dormir no hotel.

Entretanto, Pinto da Costa exige ir ver os estragos na casa de banho do Estádio do Estoril.

Olhando para a racha na parede, exclama: “Já vi rachas maiores!”

Todos se riem.

A cena muda para um jovem universitário que diz que respondeu a um inquérito sobre a Sida.

Faz parte dos 27% que responderam que achavam que a Sida pode ser transmitida por um talher.

Jura que nunca mais enfia a colher na vagina das namoradas.

Logo a seguir, vemos José Sócrates combatendo os vírus informáticos que atacaram as gravações das escutas telefónicas da Operação Marquês.

Alguém fala ao telefone com alguém mas só se percebe parte do que é dito: “Está… pois…. dinheiro… emprestas… aldrabão…. foge… inconstitucional… porra!”

Sócrates sorri. O seu rosto diz tudo: águas de bacalhau.

A última cena passa-se numa igreja de Nelas, onde um padre ucraniano, casado e com filhos, diz missa.

Será que sobrevive?

Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos.

 

O Ronaldo das Finanças, uma ova!

O ex-ministro das Finanças alemão, aquele simpático senhor com um nome que soa a Xí´ble, terá dito que o nosso ministro das Finanças, Mário Centeno, era o Ronaldo das Finanças.

Os jornalistas exultaram.

Tudo o que tenha a ver com o Ronaldo é motivo de Orgulho Nacional, com maiúsculas.

Desde a D. Assunção, do CDS, ao bisaví´ Jerónimo, passando pelo Costa Concórdia, pela menina Catarina, pelo loquaz Marcelo ou pelos diversos líderes do PSD – todos acham que o Ronaldo é o símbolo da pátria, o exemplo a seguir, o testemunho de Portugal no mundo.

Já no que respeita ao Centeno, a coisa não é tão consensual.

O Xí´ble pode achar que o tipo é o Ronaldo das Finanças, mas a D. Assunção acha que ele não é nada de especial, tem um corte de cabelo que já não se usa e devia ter usado aparelho nos dentes quando era adolescente; o bisaví´ Jerónimo pensa que ele, o que quer, é perpetuar uma moeda única que não vale nada e que devia ser substituída pelo rublo, essa sim, uma moeda patriótica e de esquerda; a menina Catarina continua a dizer que podemos renegociar a dívida e pagá-la, por exemplo, em tampas de plástico, caricas e outros produtos reutilizáveis; os diversos líderes do PSD detestam todos o Centeno, mas ainda se detestam mais uns aos outros, pelo que não sabemos ao certo qual é a posição do Partido.

Em resumo, se o Centeno não é eleito chefe do EuroFin, o Costa não tem outro remédio senão transferir o Ministério das Finanças para o Porto, como vai fazer com o Infarmed!

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Benfica tira Portugal do Processo por Défice Excessivo

António Costa e Mário Centeno estiveram ontem no Estádio da Luz a assistir í  vitória do Benfica por 5-0 ao Guimarães e, assim, conquistar o Tetra-campeonato.

Aproveitaram a oportunidade para agradecer ao Benfica a saída de Portugal do Processo por Défice Excessivo, feito só conseguido graças í  conquista do 4º campeonato consecutivo e do 36º, no cí´mputo geral.

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A importância desta conquista foi confirmada por diversas entidades internacionais: o próprio Papa foi-se embora mais cedo para poder assistir, via Benfica TV, ao jogo decisivo; também Emanuel Macron adiou para hoje a tomada de posse como Presidente dos franceses para poder assistir ao jogo.

Escusado será dizer que a vitória de Salvador Sobral aconteceu graças, não só í  simplicidade da canção, mas sobretudo ao facto de toda a gente, dos sérvios aos gregos, estarem com os olhos postos em Portugal, quanto mais não fosse, por solidariedade para com Feija, Mitroglou e Samaris.

Com a ida ao Estádio da Luz, António Costa deve ter perdido os votos de muitos sportinguistas e portistas, mas como foi a Fátima e aguentou a missa papal toda, em pé, e ficou com os filhos do pateta do Tavares na sexta-feira, deve safar-se nas próximas eleições.

Agora vos digo: quem for ateu, do Sporting e só gostar de música erudita, hoje deve sentir-se muito infeliz ao ver os telejornais.

Pensando melhor, se é do Sporting, deve ser religioso e acreditar em milagres e, muito provavelmente, nem sabe o que é música erudita.

Compensações…

25 Sempre!

Em outubro de 1973 houve eleições para a Assembleia Nacional.

Concorreram a Acção Nacional Popular (ANP) e… a Acção Nacional Popular.

A Comissão Democrática Eleitoral (CDE), que congregava diversas forças da Oposição, desistiu antes do acto eleitoral, considerando que as eleições não eram democráticas.

Foi o último acto eleitoral antes do 25 de Abril de 1974, a última farsa permitida pelo sardónico Marcelo Caetano, que tinha prometido uma abertura democrática, que nunca aconteceu. No entanto, alguma liberdade de imprensa foi permitida, durante a campanha eleitoral.

Foi graças a essa ténue abertura, que foi possível publicar, no suplemento Fim de Semana do jornal República, estas pequenas “piadas”, sobre as eleições, a que chamámos “O Maumento Eleitoral” (claro que a ANP era a Lista A… e não havia mais nenhuma lista candidata…; três das curtas cenas foram ilustradas por um tipo que assinava Patrício e que, sinceramente, nunca conheci pessoalmente…)

Tudo isto parece um pouco patético e até infantil, mas era a única maneira de passar pelas malhas da censura e, digo-vos muito sinceramente, na altura fiquei espantado como aquele suplemento do República veio a público.

O Maumento Eleitoral

1º Voto

Um cavalheiro entra numa loja:

– Bom dia, eleições?

– Não temos.

2º Voto

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3º Voto

Em frente í  urna. um cidadão:

– Eu vinha votar, mas posso ter a certeza de que o sigilo do meu voto será mantido?

– Certamente! Passe para cá o seu voto na Lista A!

 

4º Voto

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5º Voto

– Já contaram os votos do Barreiro?

– Não. As urnas foram a enterrar!

 

 

 

 

 

 

 

 

6º Voto

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Portugal

Portugal
País de parolos, pategos e paspalhões
panhonhas, patifes e putanheiros
pederastas, pacóvios e parvalhões
populistas, palermas e pantomineiros
papalvos, parasitas e passarões
pataratas, porcos e poltrões
Portugal
país de pedintes, pelintras e piolhosos
proxenetas, pulhas e preguiçosos
pedantes, párias e patetas
pedófilos, pirómanos e poetas

A gente acredita, que remédio!

O desempenho da selecção nacional de futebol no Europeu fez disparar o uso do verbo “acreditar”.

Se googlarem a palavra “acreditar”, encontram mais de 750 mil entradas!

Exemplos:

  • “Marcelo diz í  selecção que hoje há mais razões para acreditar” (TSF, 11/7)
  • “Orgulhoso da minha equipa. Orgulhoso do meu país. Fazê-los acreditar” (Ronaldo, 10/7)
  • “Portugueses têm mérito de acreditar até ao fim” (Matuidi, citado pelo Record, 10/7)
  • “Vamos acreditar. Vamos ganhar” (Fernando Santos, 6/7)
  • “Portugueses têm que acreditar connosco” (Nani, 6/7)
  • “A base do nosso sucesso é acreditar que tudo é possível” (Nani, 30/6)
  • “Continuo a acreditar que só vou no dia 11 para Portugal” (Fernando Santos, 30/6)

E por aí fora…

Chegamos, portanto, í  conclusão que, afinal, nada disto é fruto do esforço, da dedicação, do trabalho, do suor ou da sorte – afinal, é tudo uma questão de crença.

É como na religião: ou acreditas ou és descrente.

Um verdadeiro católico não precisa de provas da existência de Deus, porque acredita.

Assim foi com a nossa selecção – nem precisou de fazer grandes jogos (aliás, não ganhou nenhum jogo nos 90 minutos, embora também não tenha perdido nenhum). Bastou-lhe acreditar.

O Passos e o Portas também nos quiseram fazer acreditar que a saída tinha sido limpa.

E, no entanto, os buracos vão aparecendo: o Banif, a Caixa, o buraco de 50 milhões na electricidade… e começamos a acreditar que a saída limpa, afinal, foi uma saída badalhoca…

Mas o acreditar também se está a meter entre o António Costa e as sanções da União Europeia.

A União Europeia não acredita nos números do nosso governo e o senhor da cadeira de rodas, no fundo, acredita que vamos precisar de um novo resgate.

Por seu lado, o primeiro ministro fartou-se de dizer que não acreditava que as sanções fossem para a frente e, agora que elas vão mesmo avançar, acredita que a multa será zero.

Em suma, a malta não tem mesmo outro remédio senão acreditar!

Sanções ou Sansões?

A União Europeia está preocupada com os 0,2% acima do défice de 3% de Portugal em 2015.

É compreensível.

Comparado com isso, os milhões de refugiados, o Brexit e os atentados terroristas são peanuts.

O que a UE não pode aturar é países pindéricos que ultrapassem os 3% de défice.

Outros podem fazê-lo, como a França, mas não são pindéricos.

E se há um Tratado Qualquer que diz que se devem aplicar sanções a esses países, por que não?

Nunca se fez?

Alguma vez havia de ser a primeira.

António Costa escreveu uma carta ao Sr. Junkers, explicando por que razão as sanções não devem ser aplicadas.

A oposição queria conhecer o conteúdo da carta mas o governo diz que é privada.

Para mim, acho que a carta deve ser mais ou menos assim:

“Exmo. Sr. Presidente Junkers,

É pá, deixa-te mas é de merdas e mete as sanções no cu!”

Perante isto, a UE decide mesmo avançar com as sanções.

E serão as seguintes:

  1. Mário Centeno é despedido e vem para cá o Schauble durante um ano
  2. Todos os supermercados têm que seguir o exemplo do Pingo Doce e pagar impostos na Holanda
  3. O alemão passa a ser ensinado na escola básica e torna-se a segunda língua oficial de Portugal para já; daqui a 6 meses, em todos os PALOP, incluindo a Guiné Equatorial
  4. A Caixa Geral de Depósitos é integrada no Deutch Bank
  5. O nosso euro passa a valer 0,5 euro franco-alemão

Para combater estas sanções, Costa precisará de vários Sansões…