O sacana do palhaço!

Neste meu Coiso, tenho chamado alguns nomes a gajos importantes. Ultimamente, por exemplo, comparei Passos Coelho ao palhaço ínhuca e escrevi que Miguel Relvas tinha um sorriso sacana.

Noutros tempos, ia dentro.

Hoje em dia, em democracia, é diferente.

De qualquer modo, palhaço e sacana são insultos.

Poderei ser penalizado por chamar palhaço ao Passos Coelho e sacana ao Miguel Relvas?

Parece que não.

E são os juízes que o garantem, através de dois casos hoje relatados no DN.

Primeiro caso: Ele e Ela namoraram durante dois anos e depois acabaram. Ela ficou com uma pedra no sapato e desatou a enviar sms a Ele, «algumas delas de cariz desbragado e de índole sexual invasiva».

Estes eufemismos de advogado são curiosos: o que será “índole sexual invasiva”? Será que Ela comentaria a qualidade, forma, textura, tamanho, dureza e outras características da coisa dele?

Adiante.

Ele não ligou a este tipo de provocações.

Agora, quando ela lhe chamou palhaço, dizendo «olha seu palhaço não penses que é só a tua namorada e os queridos irmãos que vão pagar pelo que me fizeram, porque tu também vais ter a tua parte», aí ele afinou.

Palhaço, não!

E pí´s a fulana em tribunal.

E o tribunal do Porto decidiu: «palhaço é uma expressão descortês, provocatória ou de simples grosseria», porém, não é «ofensiva da honra» para se poder falar em crime de injúria, tal como Ele queria.

Segundo caso: um pai e o um filho envolveram-se em discussão e o filho chamou sacana ao pai.

O pai meteu o filho em tribunal por injúria e ganhou.

O filho recorreu e o Tribunal da Relação de Coimbra decidiu a favor do filho.

Diz o jornal: «porque há expressões que podem ser indelicadas e mesmo boçais. Mas, afirmaram os juízes, o direito penal não pode intervir onde apenas há meras “impertinências”».

Portanto: chamar palhaço a Passos Coelho é apenas descortês e dizer que Relvas é sacana não passa de uma grosseria.

Mas não quer dizer que não seja verdade…

Gonçalves, o sociólogo

Há um tipo, chamado Alberto Gonçalves, que se intitula sociólogo, que tem direito a uma página inteira do Diário de Notícias, todas as semanas.

Gostava de saber porquê.

O homem vomita desprezo por tudo que lhe cheire, ainda que vagamente, a esquerda; critica tudo e todos, como se vivesse no alto de uma torre de marfim, imune ao que se passa í  sua volta; é um daqueles tipos que raramente se engana e nunca tem dúvidas.

Por mera curiosidade, li algumas das suas crónicas. Depois, fartei-me. Achei que os seus argumentos eram infantis; faziam-me lembrar as bocas que oiço no restaurante onde almoço todos os dias, bocas daqueles tipos que nunca fizeram nada de relevante, mas têm uma opinião importantíssima e definitiva sobre tudo.

Os meses foram passando e a crónica do Gonçalves continuava, semana após semana.

Rendendo-me í  minha ignorância, googlei o nome da criatura. Seria algum autor extraordinário que eu desconhecia? Parece que não.

E até parece que há por aí muito boa gente que pensa como eu.

E, no entanto, o homem continua a encher, todas as semanas, uma página do DN.

E devem pagar-lhe por isso!…

Hoje, por exemplo, escreve esta infantilidade sobre a selecção:

«os jogadores da selecção são um exemplo para os jovens. Sem dúvida. Qualquer sujeito que não estudou, confiou na habilidade para os pontapés, conseguiu um emprego raro e fartamente remunerado no Real Madrid ou no Chelsea, aplica os rendimentos em automóveis de luxo, é incapaz de produzir uma frase em português corrente e enfeita o físico com jóias e tatuagens e penteados belíssimos constitui o modelo que os pais conscenciosos devem impor í  descendência. De resto, a alternativa passa pelas Novas Oportunidades ou, erradicadas estas, pelo Impulso Jovem, que também promete.»

Este texto nem parece de um sociólogo.

O homem fala de jogadores de futebol, mas podia falar de estrelas pop, músicos rock, ténistas, e não só. Um futebolista tatuado e com brincos, que ganhe muito dinheiro, merece ser criticado, mas um músico pop (Gonçalves adora alguns), com penteado exótico e brincos de diamantes, tem uma profissão meritória? Pressente-se uma pontinha de inveja, não?

E depois, como o tiro ao Sócrates é um dos desportos preferidos do homem, tem que falar nas Novas Oportunidades, como se o Ronaldo quisesse acabar o liceu e, para dar uma de independência política, faz uma referência ao Impulso Jovem.

Que independente que ele é, caramba!

Mas o primarismo do especialista vem mais í  superfície quando ele pretende comentar algo mais “político”.

Vejamos o que ele escreve sobre aquele episódio infeliz em que o porta-voz da extrema-direita grega agride uma deputada comunista, em directo, na televisão:

«“Agressão de neonazista evidencia na Grécia a violência da extrema-direita”, eis a manchete do portal brasileiro globo.com sobre os tabefes que um deputado do partido Chryssi Avhi distribuiu durante um debate televisivo a uma colega comunista. É engraçado como meses de agressões nas ruas de Atenas e outras cidades ainda não conseguiram evidenciar a violência da extrema-esquerda. Para cúmulo, selvagem que seja, o valente “neonazista” em causa agiu sozinho. Os selvagens que atacam propriedade alheia e gente avulsa agem em matilha, o que, mesmo sem as máscaras que í s vezes usam, torna a identificação difícil ou impossível. Decerto são tímidos. E sem motivo: no mínimo, arriscavam-se í  glorificação na imprensa internacional, por simbolizarem a indignação que habita os corações gregos. Pois é, quando o ódio frequenta a ideologia correcta, a opinião pública e publicada chama-lhe indignação. Mas, não se enganem, também é ódio.»

O sociólogo critica-se a si próprio: ele faz parte da opinião pública e publicada e, com este texto, tenta desculpar a atitude do porta-voz da extrema-direita grega que, em directo, na televisão, deu três grandes estaladas numa deputada comunista. Para Gonçalves, o energúmeno foi um herói, porque não tapou a cara com máscaras e o que ele fez está desculpado pelo simples facto dos militantes da extrema-esquerda, mascarados e, portanto, cobardes, terem partido montras e provocado mortes, actuando em matilha.

Gonçalves é um pouco paranóide, na medida em que pensa que a imprensa internacional glorifica a acção indignada da extrema-esquerda e critica os tabefes da extrema-direita.

O que será, na opinião da criatura, a imprensa internacional?

Tentar desculpar um atitude irresponsável (ainda por cima, o herói, que actuou sem máscara, depois das estaladas, até fugiu e se escondeu da polícia…) com as manifes violentas que aconteceram em Atenas é de um primarismo que não se coaduna com um tipo que se diz sociólogo.

Por isso, pergunto: por que carga de água este gajo tem direito a uma página semanal no DN?

O adjunto do adjunto

Temos um secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares.

Chama-se Feliciano Barreiras Duarte.

E diz coisas.

Por exemplo: «deixámos de ter em conta que o que contava não era a sociedade de prazer, nós fomos viciados no consumo».

Que pensamento tão bonito!

E que fraseado elegante…”deixámos de ter em conta que o que contava”…

Melodioso…

E a clarividência?

“Nós fomos viciados no consumo”.

Lapidar.

Descobri esta pérola numa pequena local do DN de hoje, que acrescenta:

«Feliciano Barreiras Duarte considerou que os portugueses “deveriam pí´r a mão na consciência”, porque Portugal se desviou do rumo certo.»

O secretário adjunto do ministro adjunto mostra-nos como é: toca a pí´r a mão na consciência, seja lá o que isso for!

Bem haja, Feliciano!

O estranho caso do chifre de Singeverga

Confesso que nunca tinha ouvido falar do mosteiro beneditino de Singeverga, em Santo Tirso.

Mas foi lá, segundo o Diário de Notícias, que ocorreu este “invulgar roubo”.

Diz a notícia, publicada hoje:

«Dois homens, que fingiram querer fazer uma visita ao convento, manietaram o padre Adriano, de 82 anos, e levaram um chifre (avaliado em cerca de vinte mil euros) e um banco de madeira africano, que pertenciam í  colecção do Museu de Etnografia e Zoologia de Angola».

Ao que um homem chega – roubar chifres!

É a crise…

A notícia é chocante, assim mesmo. Mas há mais pormenores:

«”Telefonaram a dizer que eram um grupo de universitários de Lisboa. A ideia era verem a igreja, o pequeno museu e a sala do capítulo”, contou ao DN o subprior Lino Moreira. Quando chegaram, eram apenas dois. Acabaram por dominar o padre que tencionava guiá-los e levaram o saque, fugindo a correr.»

Malandros!

Fizeram-se passar por universitários de Lisboa, que é uma categoria muito importante, e fanaram o banco e o chifre!

E depois, nem se meteram num BMW roubado, nem saltaram para cima de uma mota de alta cilindrada, nem montaram um cavalo, nem sequer uma reles bicicleta – fugiram a correr!

Portanto, malta, se virem dois gajos a correr, um com um banco, outro com um chifre na mão, chamem a GNR! Ajudem os monges de Singeverga!

E o que é que eu tenho a ver com isso?

O Diário de Notícias começou hoje a publicar uma série de artigos sobre o grande abcesso nacional que é o BPN.

Na edição de hoje, são 18 páginas onde se concentram muitas coisas que nós já sabíamos mas, assim, colocadas ao pé umas das outras, tornam a coisa ainda mais incompreensível.

Como foi possível isto atingir esta dimensão?

Sob o título “Um banco que dava milhões a quem pedia”, o DN lista uma série de indivíduos e empresas a quem o BPN emprestou dinheiro, sem pedir quase nada em troca.

Por exemplo: Dias Loureiro (10 a 30 milhões), Duarte Lima (6 milhões), Pousa Flores, empresa de Arlindo Carvalho (75 milhões), Arlindo Carvalho (4,8 milhões), José Neto, sócio de Arlindo Carvalho (4,8 milhões), Emídio Catum e Fernando Fantasia, este vendeu o terreno onde Cavaco tem a sua casa de verão (53 milhões).

Mais í  frente, sob o título “Caras do BPN deram 130 mil euros para campanha do Presidente”, o DN faz uma infografia em que relaciona personagens que doaram dinheiro para a campanha de Cavaco, em 2006, com o próprio Cavaco e com o PSD: José Oliveira de Costa, presidente do BPN (15 mil euros), Alberto de Figueiredo, accionista do BPN (20 mil), Joaquim Coimbra, accionista do BPN (22 mil euros), Emídio Catum, sócio da SLN (22 mil), Abdool Vakil, presidente do Banco Efisa, do grupo BPN (5 mil), Fernando Fantasia (6 mil). E ainda: Jorge Neto, secretário de Estado de Santana Lopes, Rui Machete, vice-primeiro ministro de um governo PSD, Amilcar Theias, ministro do Ambiente de Durão Barroso, Daniel Sanches, ministro da Administração Interna de Santa Lopes, Miguel Cadilhe, ministro das Finanças de Cavaco, Arlindo de Carvalho, ministro da Saúde de Cavaco e, claro, Dias Loureiro e Duarte Lima.

O DN recorda, também , o negócio legal, que Cavaco e a filha Patrícia fizeram com o banco que nos está a lixar os subsídios de férias e natal (segundo o jornal, a fraude do BPN daria para pagar três anos de subsídios aos funcionários do Estado!).

Aníbal e Patrícia compraram, em 2001, acções do BPN, ao preço de um euro cada uma. Esse preço era especial. Segundo a Assembleia Geral da SLN, só o presidente, Oliveira e Costa, poderia comprar acções a esse preço.

Aníbal, na altura um simples e proletário professor universitário, cuja reforma, segundo diz o próprio, mal chega para as despesas, comprou 105 378 acções, enquanto a filha, que deve ter uma profissão mais lucrativa, comprou 149 640.

Dois anos depois, quer o Aníbal, quer a filha, decidiram vender essas mesmas acções e Oliveira e Costa, que devia nadar em dinheiro, aceitou comprá-las a 2,40 euros cada uma! Quer dizer que, em dois anitos, sem mexerem uma palha, pai e filha ganharam 147,5 mil e 209,4 mil euros, respectivamente.

O jornal fala com economistas que criticam o facto de Teixeira dos Santos e Sócrates terem decidido nacionalizar o banco. O efeito sistémico que eles temiam, provavelmente, não teria acontecido se, pura e simplesmente, tivessem deixado cair o banco.

É curioso como, a propósito do BPN, ouvimos críticas ferozes a Teixeira dos Santos, Sócrates e Vitor Constância, enquanto que quase se esquecem os nomes dos prevaricadores.

A Senhora Dona Filomena Mónica, que está na moda, diz numa entrevista ao I, que Sócrates é um delinquente político e que está, agora, descansadinho, em Paris, a viver í  grande e í  francesa. Senti alguma inveja nestas declarações da companheira do íntónio Barreto, o qual arranjou um grande tacho, í  conta da Fundação do dono Pingo Doce que, ironicamente, também é um dos donos do BIC, que acabou de comprar o BPN em saldo.

Pronto: o Sócrates foi delinquente porque nacionalizou o BPN. Mas perdeu as eleições e emigrou para França, enquanto Cavaco Silva foi reeleito presidente e continua em Belém.

Mas, como diria o nosso Presidente: ainda há-de nascer alguém mais honesto do que eu!

E, quanto ao BPN, o que é que eu tenho a ver com isso?

Notícia com gps

O impagável Diário de Notícias não quer que nos falte nada e informa-nos de tudo.

Desta vez, a notícia vem de Guimarães, e reza assim:

“Um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa, foi assaltado por um grupo de indivíduos que levaram dez caixas de gelados, no valor de 450 euros. Furtaram ainda quatro outras caixas com chicletes.”

Como se sabe, Guimarães é, este ano, capital europeia da cultura e isso nota-se, também, nos seus larápios, que se refinam, no que respeita aos produtos roubados. Em vez de roubarem produtos de primeira necessidade, armam-se em sofisticados e fanam produtos supérfluos.

Mas o que mais gosto na notícia é, como sempre, a pormenorização.

Atente-se na frase «um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa»!

Não há engano possível, caramba!

Sabendo que Guimarães deve ter milhares de quiosques, o jornalista fez questão em localizar o quiosque assaltado com toda a precisão, para evitar confusões!

Bem haja!

Champí´ de polvo

O inefável Diário de Notícias informa que começou ontem, no Porto, o julgamento do século.

Trata-se do caso do facínora que, em fevereiro do ano passado, teve a ousadia de entrar, de rompante, no Pingo Doce, da Praça Afonso V, na Invicta, e tentar roubar uma embalagem de champí´ e outra de polvo.

Felizmente, o sevandija não conseguiu efectivar o seu hediondo crime, graças í  rápida e eficaz actuação do segurança, que conseguiu apanhá-lo em flagrante.

Por esse motivo, o benemérito holandês Alexandre Soares do Santos, pí´de reaver uma embalagem de champí´ e outra de polvo, evitando um desfalque de 25 euros e 66 centimos.

A notícia não explica que estranhas e sórdidas cenas o miserável pretenderia executar com polvo e champí´, mas podemos imaginar algo de sexualmente sinistro…

O palerma do advogado do criminoso, ainda teve a ousadia de dizer que os tribunais portugueses estão atulhados com processos destes, verdadeiras bagatelas, e protestou pelo facto do Pingo Doce não ter desistido do processo.

Vê-se mesmo que este advogado não faz compras no Pingo Doce e não percebe que é graças a esta atitude que eles têm “os preços sempre baixos”…

 

O estranho caso do cofre da GNR

A notícia saiu hoje, no Diário de Notícias, mais ou menos escondida, na página 22, por baixo de “Bombeiros ameaçam deixar de combater fogos” e ao lado de “Discussão entre surdos-mudos acaba í  facada”.

O título é: “Desapareceu cofre da GNR”.

E um tipo interroga-se: mas que raio se passa neste país? Surdos-mudos acabam uma discussão í  facada, os bombeiros ameaçam deixar de apagar os fogos e a GNR é roubada?

Parece que sim…

Foi na GNR de Quarteira.

Diz a notícia: «o desaparecimento do cofre foi detetado logo í s primeiras horas da manhã de ontem, na altura em que num militar ia efetuar o depósito no banco. A pequena caixa de segurança encontrava-se arrumada no interior de um armário, numa zona de acesso restrito a militares».

Segundo a notícia, o comando da GNR desconfia de um dos guardas. Genial!

No entanto, diz o tenente-coronel Luis Sequeira, “se as investigações nos derem indícios de furto praticado por alguém externo, vamos participar ao Ministério Público e damos início a um outro tipo de investigação.”

Quer dizer: a GNR de Quarteira admite a possibilidade de alguém ter entrado, sorrateiramente, nas suas instalações e ter furtado o cofre.

Ora, se a própria GNR admite poder ser assaltada, estamos feitos!

Ditosa Pátria que tão valorosos soldados tem como guardiões!

Obama e os crocodilos

Notícia do DN de hoje:

«Barack Obama inicia hoje uma visita de dois dias í  Austrália e uma empresa local não quis perder a oportunidade de se promover, oferecendo (…) um seguro contra dentadas de crocodilo. Obama passará por Darwin, habitat por excelência destes animais e se uma eventual mordidela levar í  sua morte, a família receberá 37 400 euros.»

A família do crocodilo?