Poucas-vergonhas no Largo do Caldas

Os três partidos do arco da velha, isto é, do arco do cego, aliás, do arco da governação, continuam a reunir-se, numa tentativa desesperada de encontrar a Salvação Nacional.

Que seja difícil, concordamos todos.

Que os membros dos partidos tenham que engolir sapos, já se sabia.

Agora, que seja necessário recorrer a poucas-vergonhas, é que não!

É que, segundo o Jornal de Notícias de hoje, a ministra Maria Luís até foi mostrar o buraco na reunião de ontem, que decorreu na sede do CDS, no Largo do Caldas!

Mostrar o buraco no Largo do Caldas, francamente!

Não exageremos nos sacríficios pela Salvação Nacional, caramba!

untitled 

Títulos

Três títulos do Público de hoje:

– «O raio do protão é mais pequeno do que se pensava mas o enigma perdura»

O raio do protão? E o sacana do neutrão?

– «Não devemos excluir, de antemão, uma evolução dos tratados», disse o ministro alemão do Negócios Estrangeiros

Se não excluímos a evolução dos tratados, excluímos a dos doentes?

– «Contrato de venda da Ana será assinado no final da próxima semana»

Venda da Ana não será lenocínio?

O Sindroma George Harrison

– Zézinho, gostas mais do papá ou da mamã?

– Gosto mais do tio Manel!

Eis o caso típico de Sindroma George Harrison.

Qual era o melhor Beatle: McCartney ou Lennon?

Os intelectuais/eruditos mais empedernidos respondem: George Harrison.

A pergunta é idiota, claro, como se comprovou pela fraca carreira a solo de todos os ex-Beatles, tirando uma ou outra excepção.

Os Beatles foram bons enquanto grupo e o seu êxito deveu-se, sobretudo, í  sinergia das suas qualidades.

Vem isto a propósito daquelas listas que os críticos do jornais í s vezes fazem, quando decidem escolher os melhores discos, ou os melhores filmes, ou os melhores livros.

Este sábado, o Expresso publica uma dessas listas: os 50 discos que toda a gente deve ouvir.

Pondo de parte os discos de jazz e de música clássica, dos quais pouco posso dizer, as escolhas dos discos da chamada música popular deixaram-me espantado.

Dos 28 discos escolhidos, apenas conheço sete!

Claro que não sou um perito na matéria mas, desde jovem adolescente que acompanho a música popular (pop-rock), sobretudo a anglo-americana. Sou contemporâneo das grandes bandas dos anos 60 e 70, acompanhei de perto o boom da pop britânica, conheço o nome dos principais “conjuntos” (era assim que se chamavam), sou capaz de reconhecer a maior parte dos seus êxitos. Depois, nas décadas seguintes, continuei atento í s novas tendências, através dos meus filhos. Por ter trabalhado, durante alguns anos, na televisão e da rádio, tive contacto com alguns divulgadores de música (o António Sérgio, por exemplo), pelo que conheci mais algumas bandas mais “estranhas”.

E, mesmo assim, nunca ouvi falar de 19 discos que constam desta lista!

Ricardo Saló escolheu os seguintes discos: Pet Sounds (Beach Boys, 1966), The Music of the Ba-Benzele Pygmies (Vários, 1966), Guitarra Portuguesa (Carlos Paredes, 1967), The Velvet Underground & Nico (1967), Astral Weeks (Van Morrison, 1968), Trout Mask Replica (Captain Beefheart, 1969), There’s a Riot Goin’ On (Sly and The Family Stone, 1971) e What’s Going On (Marvin Gaye, 1971).

Desta selecção de discos da minha geração, apenas conheço os discos dos Beach Boys, de Carlos Paredes e dos Velvet Underground.

A escolha de Pet Sounds que, na opinião do crítico, o “transportou para um lugar incógnito. Era um ambiente irreal: dir-se-ia entre o sonho e a ‘magia’ da espera do Pai Natal”, é mais um caso de Sindroma George Harrison. A escolher um disco da colheita de 1966-67, o mais óbvio, digamos, o McCartney, seria o Sgt Pepper’s, a seguir, o Lennon, seria Beggars Banquet, dos Stones – mas Saló escolheu o Harrison, Pet Sounds.

Na minha opinião, Pet Sounds é um disco vulgar. O grande trunfo dos Beach Boys, nesses tempos, foi Good Vibrations, que nem sequem entrou no alinhamento do álbum. Mas o crítico acha que a canção God Only Knows é algo de esotérico, dizendo que é “um sopro de orquestra, guizos e uma pulsação entre o bater do coração daquela voz e do trenó de que se faz, nessa idade, o sonho da felicidade”.

I rest my case…

João Santos escolheu os seguintes discos: Milagre dos Peixes (Milton Nascimento, 1973), Songs of Love and Hate (Leonard Cohen, 1971), Gamelan Semar Pegulingan (Vários, 1972), The Dark Side of the Moon (Pink Floyd, 1973), Lo Dice Todo (Grupo Folklorico Y Experimental Nuevayorquino, 1976) e Imyra, Tayra, Ipy (Taiguara, 1976).

De mais esta selecção, só conheço os discos do Cohen e dos Pink Floyd e, sim, escolheria The Dark Side of the Moon como um dos 50 discos que toda a gente devia ouvir – mas os restantes…

Finalmente, João Lisboa escolheu: The Ascension (Glenn Branca, 1981), Colossal Youth (Young Marble Giants, 1980), Le Quart de Siécle de Franco de Mi Amor (Frank & Le TPOK Jazz, 1981), Music for a New Society (John Cale, 1982), “Swordfishtrombones” (Tpom Waits, 1983), United States Live (Laurie Anderson, 1984), Evol (Sonic Youth, 1986), En Concert í  Paris (Nusrat Fateh Ali Khan, 1986), Sign ‘O’ Times (Prince, 1987), The Rough Dancer and the Cyclical Night6 (Astor Piazzola, 1988), 3 Feet High and Rising (De La Soul, 1989), Dressing for Pleasure (Jon Hassel & Bluescreen, 1994), 69 Love Songs (The Magnetic Fields, 1999) e New Anciente Strings (1999).

Desta lista, conheço o disco do Tom Waits (outro que eu escolheria para os 50 imprescindíveis), o do Prince e o dos Magnetic Fields (este último é um barrete que foi aclamado pela nossa crítica – 69 cançõezinhas de amor, que são isso mesmo, cancõezinhas, algumas delas feitas apenas para encher o disco e chegar ao número 69, o que não passa de uma piadinha de adolescente: 69, percebem?…)

E os Beatles, os Stones, os Led Zeppelin, Otis Redding, King Crimson, Procol Harum, Fairport Convention, Small Faces, Kinks, ou Jacques Brel, José Afonso, Chico Buarque, João Gilberto, Nine Inch Nails, Chicago, Blood Sweat and Tears, ect, etc, etc?

No final da listagem, o Expresso publica outra lista com mais algumas escolhas dos seus críticos que, segundo eles, também poderiam figurar nos 50 eleitos, mas já não cabiam. Dessa lista fazem parte coisas como Blackout (Britney Spears, 2007) e Control (Janet Jackson, 1986)!

E os Beatles também lá estão, coitados…

E com que disco?

Mais uma vez, o Sindroma George Harrison… o disco escolhido não é Sgt. Pepper’s, nem Abbey Road, nem sequer o White ílbum, mas sim o Revolver.

Típico…

Engraçadinhos

Nunca achei graça aos engraçadinhos.

Nunca achei grande piada a anedotas.

E, no entanto, os engraçadinhos e as anedotas estão na mó de cima.

Agora, neste patético mês de Agosto, até o Expresso se rendeu aos engraçadinhos.

Na semana passada, a revista do Expresso estava pintalgada com frases da autoria desse engraçadinho pindérico, chamado Nuno Markl. Não sou capaz de citar nenhuma e já deitei a revista fora.

A desta semana, tem piadinhas de um tipo chamado João Quadros que, por qualquer razão esotérica, deve estar na moda. Na primeira página da revista do Expresso, vêem-se um saco com dinheiro, uma lambreta e a fotografia do referido “humorista”. E ele comenta: «esta capa é o sonho de muitas mulheres: uma vespa, um saco de dinheiro e um indivíduo louro extremamente bem-parecido».

Trata-se da mais pura e idiota auto-ironia, já que o indivíduo louro é o referido engraçadinho.

Confesso que tive que colocar um penso para não mijar as calças de tanto rir!…

Só perco tempo com este assunto porque é quase impossível ignorar estas criaturas. Eles estão por todo o lado, desde a rádio aos jornais desportivos. E irritam-me. As suas graçolas são infantis, fazem-me lembrar as piadinhas dos jornais de liceu, são vulgares, imediatistas e sem classe.

Mas pior que esta trupe de engraçadinhos, que incluem outros nomes, que agora não me ocorrem, é a dos que se armam em engraçadinhos.

É o caso de um tal Henrique Raposo, que saltou de um blog para uma coluna no Expresso e que faz gáudio em ser de direita.

Não consigo compreender como é que um semanário como Expresso, com a sua longa tradição de colunistas ilustres, que incluiu nomes como Miller Guerra, José Rabaça, Marcelo Rebelo de Sousa, etc, etc – aceita publicar, semanalmente, uma coluna de vulgaridades, assinada por este tal Raposo.

Hoje, por exemplo, o homem escreve um pequeno texto a elogiar Passos Coelho, que começa assim: «Meu caro Passos Coelho, continuo a ter consideração por V. Exa. Aceitar governar Portugal no pós-Sócrates foi mais ou menos como aceitar treinar o Benfica no pós-Artur Jorge».

Estão a ver?… Armado em engraçadinho…

E mais í  frente, acrescenta: «o que é espantoso é que V. Exa. não consegue colocar este e outros sucessos na agenda. Eu sei que há uma má vontade epidérmica dos jornalistas ante um governo direitolas, mas isso não explica tudo».

Um governo direitolas?

Lamentável…

Três tristes títulos

1. “Relvas e ex-espião trocaram nove sms e tiveram três encontros” – DN de hoje

– e não foram para a cama?

2. “Mordomo do Papa detido por posse ilegal de documentos secretos” – i de hoje

– o representante de Cristo na terra tem um mordomo?!

3. “ANA PODE RENDER 1,6 MIL MILHí•ES” – Sol de ontem

– xiça! deve ser muito boa na cama!

Medo do animal feroz

Lembram-se do que aconteceu depois de António Guterres e Durão Barroso terem deixado de ser primeiro-ministros?

Nada.

Guterres foi para aquela coisa dos refugiados e Barroso, no fundo, também, já que a Europa não passa de um enorme campo de refugiados.

E por cá, pouco ou nada se fala deles.

Vemos Guterres ao lado de Angelina Jolie, algures na Somália e Barroso, ao lado de Angela Merkel, algures na Europa e é tudo.

Vantagem para Guterres, sem dúvida.

A Angelina bate a Angela em todas áreas.

E quanto a Sócrates?

Muito mais odiado que Guterres e Barroso, retirou-se pela esquerda baixa.

Diz-se que foi para Paris, estudar filosofia (e diz-se com ar de gozo, como se aquele tipo, que nem engenheiro é, tivesse categoria para estudar fosse o que fosse, muito menos filosofia – o mister do outro Sócrates, o original!…).

Mas a sombra de Sócrates continua a pairar sobre as páginas dos jornais.

O semanário Sol, um dos que mais bateu em Sócrates, demorou semanas a retirá-lo da primeira página.

E esta semana, subitamente, voltou-se a falar do homem.

Que o homem tinha telefonado a alguns deputados do PS, para que eles votassem contra o Orçamento. Que tinha jantado com apoiantes no Porto. Que anda por aí.

Que medo!

O medo é tão grande que até o chefe da JSD decidiu mesmo entregar ao Procudador-Geral da República, uma série de documentos que supostamente provam que Sócrates é responsável pela dívida soberana, pelo que deve ser julgado.

Claro que este inteligente jovem (chama-se Duarte Marques, tomem nota porque ainda pode chegar a primeiro-ministro…) sabe que esta sua iniciativa não passa de uma patetice populista porque, se a responsabilização criminal de Sócrates fosse para a frente, teríamos que abrir processos a muita gente, a começar pelo Cavaco!…

Portanto, estamos nisto: o PSD e o CDS têm a maioria absoluta, têm um líder da Oposição que é um cinzentão tão triste que até tem Seguro no apelido e, mesmo assim, não se sentem a salvo e temem o regresso do animal feroz.

Por que será?

Aceitam-se sugestões.

 

O casamento e a beatificação

Isto sou eu a pensar…

1. O casamento de William e Kate e a beatificação de João Paulo 2 foram agendadas para dias diferentes para não prejudicar as audiências televisivas

2. Meio milhão de basbaques para ver dois pequenos beijos na varanda do palácio. Imaginem se fosse sexo oral

3. A RTP, a SIC e a TVI enviaram, para Londres, vários jornalistas para cobrir o casamento que, aliás, tinha transmissão directa assegurada e para fazerem reportagens idiotas. Quem disse que estamos em crise?

4. Por que carga de água foi preciso exumar os restos mortais do João Paulo para a beatificação? Não me digam que a alma do Papa estava dentro do caixão!

5. David Beckham foi convidado para o casamento e o D. Duarte de Bragança, não. Mais vale ser jogador de futebol, bonito e rico, do que pretendente ao trono, tosco e pobre.

6. Segundo o Diário de Notícias, o beijo de Carlos e Diana aconteceu í s 12h50, enquanto o beijo de William e Kate foi í s 13.26, com replay í s 13.28. E DEPOIS, CARAGO?!