Não basta “ser Charlie”

A reacção popular aos atentados e tragédias em geral começou a ter uma espécie de protocolo desde a morte da princesa Diana.

No local do acidente e/ou atentado, amontoam-se ramos de flores, velas a arder, postais, ursinhos de peluche e outros objectos ternurentos.

Segue-se uma grande manifestação, onde se juntam homens e mulheres de todos os credos e cores.

E todos vão para casa descansados.

Com o bárbaro ataque aos jornalistas do Charlie Hebdo passou-se o mesmo, só que, em vez de muitas flores, vimos milhares de canetas, em monte, no chão.

Deixem-me “ser Charlie” por um bocadinho: se os mortos no ataque tivessem sido cabeleireiras, teríamos  montes de secadores de cabelo…

A esmagadora maioria dos que apregoaram “ser Charlie” não aguentariam ler um exemplar do semanário do princípio ao fim, mas enfim… quiseram mostrar a sua solidariedade.

Não chega.

Os islamitas em geral têm que começar a ter vergonha e nojo dos seus extremistas, como nós temos vergonha e nojo dos nossos padrecas que apalpam o rabo í s criancinhas há décadas.

Em vez de cartoons mais ou menos humorísticos sobre o Islão, os nossos jornais deviam publicar, todos os dias, fotos do ataque dos talibãs í  escola no Paquistão, que matou 140 pessoas, sendo que a maioria eram crianças, imagens da matança do grupo islamita Boko Haram, que terá chacinado mais de duas mil pessoas numa cidade no nordeste da Nigéria, ou ainda fotos do atentado num mercado, também na Nigéria, causado por uma bomba presa a uma criança de 10 anos, e que matou dezenas de pessoas.

A divulgação persistente e contínua destas notícias talvez tenha mais impacto que uma manifestação que rapidamente será esquecida.

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