Medidas contra a vaga de frio

68. Decorreu, esta tarde, a reunião com os especialistas.

Perante a vaga de frio que atravessamos, e depois de ouvir os especialistas, o governo aconselha o uso de gorro e luvas e, sempre que possível, as pessoas devem manter-se em casa, embora com o devido distanciamento em relação aos aquecedores, lareiras e escalfetas.

Foram estes os conselhos do primeiro-ministro, que se retirou rapidamente, esfregando as mãos e com os lábios roxos.

O líder da Oposição veio criticar o governo, dizendo que estas medidas pecam por tardias; no fim de verão, era previsível que tivéssemos uma vaga de frio e, portanto, o governo devia, então, ter tomado medidas. Agora, é tarde e vamos continuar a tiritar.

Os partidos mais í  esquerda, embora concordem com o gorro e as luvas, exigem medidas de apoio í  compra de aquecedores e de lenha para todos os operários, camponeses, soldados e marinheiros.

O partido liberal, pelo contrário, não está de acordo com a obrigatoriedade do uso de luvas e gorros e afirma que, se as pessoas quiserem andar de calções e havaianas, estão no seu pleno direito porque o mercado tudo regula.

Finalmente, a extrema-direita exige que acabem com os subsídios para a compra de luvas e gorros para toda aquela malta que não quer trabalhar, incluindo os que vêm de Marrocos.

Uma depressão chamada Laura

Agora as depressões têm nome.

Os serviços meteorológicos de Portugal, Espanha e França, decidiram dar nome í s depressões, como já se faz há muito tempo com os ciclones e tufões, e mesmo com os bebés…

—Assim, no princípio do ano faz-se uma lista, por ordem alfabética, alternando um nome feminino com um masculino.

Para 2019 ficou assim: Adrian, Beatriz, Carlos, Diana, Etienne, Flora, Gabriel, Helena, Isaias, Julia, Kyllian, Laura, Miguel, Nicole, Oscar, Patricia, Roberto, Sara, Teo, Vanessa e Walid.

Em primeiro lugar, acho mal não haver tempestades Quevedo, Ursula, Yuri e Zacarias.

Depois, espanta-me que os nomes que estão mais in não estejam representados, caso de Gonçalo, Carlota, Rodrigo, Mateus, Constança, sei lá!…

Neste momento, estamos í  espera da Laura. Trata-se de uma depressão centrada a noroeste da Península Ibérica e em deslocamento para nordeste em direcção í s Ilhas Britânicas. Espera-se vento forte e agitação marítima, há possibilidade de chuva intensa e persistente, com perigo de cheias.

Portanto, na minha opinião, estes fenómenos atmosféricos não se deviam chamar depressões.

Associamos depressão a um estado mais ou menos letárgico, em que a adinamia toma conta do corpo, só apetecendo estar quietinho, a um canto, esperando que a crise passe.

Ora, ventos fortes, chuva intensa, ondas enormes, árvores a cair, ruas alagadas, é agitação demais para uma depressão.

É por isso que o nome correcto para estes fenómenos deveria ser crises de pânico.

Assim sendo, tenham cuidado que vem aí a crise de pânico Laura!

Este é o Inverno do nosso descontentamento

Não, não falo do Freeport, do Face Oculta, do Programa de Estabilidade e Crescimento, da crise internacional, da taxa de desemprego, dos três patéticos candidatos í  presidência do PSD, do Orçamento Geral do Estado, da Comissão de Ética da Assembleia da República e da sua inutilidade, do ano de 369 dias de Cavaco Silva (1), do plano de Jardim para aumentar a superfície da Madeira, í  custa da lama e dos pedregulhos da enxurrada.

Estou mesmo a falar da porra deste Inverno!

Será que não pára de chover, carago?!

Estou farto de frio, de nevoeiro, de vento e de chuva!

Chega, porra!

—

Olha para o Tejo, hoje, tão triste que estava!…

(1) “Falta tanto tempo. Um ano, doze meses, 369 dias. Falta ainda muito tempo. Não acreditam no que digo e não insisto. Mas é assunto em relação ao qual eu não dediquei ainda um minuto da minha ponderação”, afirmou Cavaco Silva, a propósito da sua hipotética recandidatura.